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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Dever ou dever-se?

O amor humano é uma dinâmica, pois a todo o momento se acrescenta algo, no sentido positivo, de bom, que envolva e desenvolva mais afecto, harmonia e maturidade. Como em todas as fases de qualquer crescimento, nem sempre este é feito de forma suave, por vezes implica uma certa vontade e preocupação de estabelecer e favorecer alguns pontos mais sensíveis, porém, é sempre mais sensato não quebrar a cana rachada…

No matrimónio, fundamento da família, há uma relação de entrega e de inter-relação entre todos os membros, direitos, deveres, afectividade, educação, interajuda, partilha, porque todos formam uma realidade intrínseca, solidária, apaziguadora e como pessoas são chamados à inevitável complementaridade. “Os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.” (Artigo 1672.º Código Civil - DIREITO DA FAMÍLIA)

A direcção da família pertence a ambos os cônjuges, que devem acordar sobre a orientação da vida em comum tendo em conta o bem da família e os interesses de um e outro, pelo que não há uma lista de deveres, mas uma relação na qual se devem dar uns aos outros…

O amor humano é uma consequência do amor divino, envolve o corpo e a alma, o casamento é uma união e comunhão transcendente, logo tem de estar presente a igualdade de direitos e deveres dos cônjuges, a integridade física, psíquica e moral, a unidade e a harmonia. O homem e a mulher não são iguais, a não ser em dignidade.

Dum ponto ao outro do planeta a história da humanidade revela-nos que sempre existiram rituais próprios, religiosos ou comunitários, de maior ou menor complexidade e duração, que antecederam a união física e familiar estável de um homem e de uma mulher.

Em tempos remotos, era dada a palavra de honra nessas uniões e só isso chegava, a honestidade era um apanágio dos homens e mulheres desses tempos. O casamento também já existia antes do cristianismo, por isso Jesus também foi a um casamento, as bodas de Canaã.

Porém, parece que voltou a hora de ser necessário lembrar ao mundo o que é o Matrimónio, pois seguramente o seu significado e conteúdo tem sido o mais vilipendiado nas sociedades ocidentais, com as ideologias que surgiram e se foram implementado de mansinho nas últimas décadas.

Foram tantas as trocas e baldrocas que se inventaram para inverter este simples sentido de união que vem do princípio dos princípios da humanidade, onde sempre uma donzela se uniu a um varão, para poder conceber e dar à luz, realidade física e fisiológica que ainda hoje se mantém.

Temos assistido a um desmoronar deste e de outros princípios, desastres da humanidade que “legalmente” foram abrindo facilidades para que alguns vivam egoisticamente as suas vidas e os seus amores, ou desamores, negando a estabilidade e a complementaridade familiar, a transmissão da vida e o amor aos filhos gerados, delapidando a célula base social: a Família, composta normalmente por um homem, uma mulher, e os filhos.

O matrimónio não é apenas uma instituição social; não é um estado jurídico, civil e canónico, é o símbolo de uma nova vida, a dois, a qual dará origem a uma nova família, fundamento duma sociedade que se deseja sólida, unida, cooperante nas suas funções educativas, cívicas, laborais e culturais, como forma de auto enriquecimento que naturalmente se projecta em todos os recantos da humanidade.


Adilson Constâncio



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