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quinta-feira, 2 de abril de 2020

Mensagem da Páscoa 2020

Diocese de Beja, 2020

Caríssimos irmãos e filhos no Senhor:

Neste momento de trevas que estamos vivendo, Jesus Cristo, luz do mundo, vencedor do pecado e da morte, esteja convosco!

De facto, é de trevas densas para todos nós esta Primavera de 2020. Esta mensagem, dirijo-a a todos os cristãos e homens de boa vontade que vivem e trabalham no Baixo Alentejo e no Alentejo Litoral, mas sobretudo àqueles e àquelas que suportam na sua carne os sintomas deste vírus terrível ou vivem angustiados por sua causa.

Na iminência de perdermos a nossa vida, é normal que aflorem com mais insistência ao nosso espírito perguntas como estas: quem sou eu? Vivo para quê? O que é a vida? O que é a morte? O que é o bem? O que é o mal? Onde está a verdadeira felicidade? As respostas que, por nós mesmos, conseguimos encontrar, quando não abrem caminho para novas perguntas, resumem-se a declarações da nossa ignorância: não sei! não sabemos!

Por muito que a ciência prolongue a nossa vida, somos mortais. A única certeza que nos acompanha desde que viemos ao mundo é esta: havemos de morrer. Como nos ensina a Sagrada Escritura, somos pó, e ao pó havemos de voltar. Sim, somos pó, mas um pó que pensa, um pó que ama e odeia, capaz de tomar decisões, capaz de discernir  o bem do mal, capaz de se relacionar com as coisas, com os outros, capaz de se abrir a Deus, de escutar a Sua palavra e de a pôr em prática. Isto, durante o tempo em que vivemos, porque, queiramos ou não, chegará para cada um o momento em que termina a vida presente. E nesta perspetiva, quem poderá conscientemente viver tranquilo, sem medo de morrer?

Para quantos vivem neste mundo, escravos do medo de morrer, nós cristãos somos portadores desta notícia surpreendente: a morte não é o fim de tudo. Um homem como nós, Jesus de Nazaré, que há dois mil anos foi morto injustamente numa cruz, ressuscitou, venceu a morte. Várias vezes apareceu vivo no meio dos discípulos, e enviou-os por todo o mundo a anunciar esta boa notícia: quem acredita n’Ele participa da Sua vitória sobre a morte, passa da morte para a Vida, para a Vida Eterna. Com o fruto da Sua Páscoa enviou do Céu o Seu Espírito Santo que transformou os discípulos e os sustentou, e continua a sustentar na missão de anunciar, por toda a terra, esta Boa Notícia que põe em festa o coração se cada homem e de cada mulher. Esta é a missão da Igreja. Esta é a única festa que a Igreja, obedecendo ao Espírito Santo, sempre celebra em cada domingo e ao longo de todo o ano: a Morte e a Ressurreição de Jesus, a Sua vitória sobre a Morte.

Queridos irmãos e irmãs: esta é a Boa Notícia que, por meio desta mensagem, eu quero fazer ressoar para cada um de vós, esta é a Festa que vos convido a celebrar! Alegrai-vos porque sois filho de Deus, e a vossa vida tem sentido! Porque ressuscitando da morte destruiu a vossa morte, Cristo é, para vós, o Caminho, a Verdade e a Vida!

A este anúncio, poderá alguém responder que, com fé ou sem ela, continuamos a morrer. É claro que sim! Mas a mor    te física, para aqueles que creem, já não é uma queda no abismo do não ser, é o óbito, quer dizer, o encontro com o Senhor Jesus ressuscitado que nos assume e nos leva consigo para a glória do Pai. Esta foi e é a Sua promessa aos discípulos, a promessa que nos mantém a caminhar, de alma erguida, do vê-la realizada quando chegar a nossa hora.

É a Páscoa, caríssimos irmãos e irmãs, que bate à nossa porta. Como nos encontra ela? Como escravos, mas desejando a passagem libertadora do Senhor Jesus Cristo, ou como opressores dos nossos irmãos? O Senhor passa semeando vida para aqueles que desejam ardentemente sair da escravidão do pecado, e morte para os filhos primogénitos do Egito. Cada um receberá do Senhor aquilo que corresponde à sua situação concreta. Por isso, irmãos e irmãs, voltemo-nos cheios de confiança para Jesus Cristo que vem ao nosso encontro, cheio de amor.

Como lemos no Evangelho, Jesus Ressuscitado manifesta-Se no meio dos discípulos reunidos. E por isso, sempre as celebrações da Igreja, nas quais experimentamos que Ele está no meio de nós, se realizam estando a assembleia reunida.

Neste ano, infelizmente, pelas causas conhecidas, tal não será possível. Mas para que seja mais verdadeira a comunhão fraterna entre nós, peço-vos que, tanto quanto vos seja possível, contacteis as pessoas que eventualmente tenhais ofendido ou que vos tenham ofendido, para lhes pedir perdão e vos reconciliardes.

Neste ano viveremos a Páscoa de forma nova, inteiramente no âmbito familiar.

Se puderdes, no domingo de Ramos, cada um tenha o seu ramo de oliveira ou de palmeira para aclamar o Senhor, no início da missa. Esses ramos benzidos pelo sacerdote que preside, não devem ir para o lixo. Serão guardados em casa até o domingo de Carnaval do próximo ano, dia em que serão queimados. A Missa Crismal que habitualmente realizamos em quarta-feira santa, este ano gostaríamos que pudesse ser celebrada a 10 de julho, dia em que se cumprem os 250 anos da restauração da nossa diocese. Veremos se vai ser possível! As celebrações pascais propriamente ditas, em Quinta-feira Santa, em Sexta-feira Santa, na Vigília Pascal e no Domingo de Páscoa, vamos vivê-las com a máxima devoção, acompanhando as transmissões televisivas.

Meus caros irmãos e irmãs: desejo, a todos vós, uma Santa Páscoa! Confiemos em Deus, não duvidemos do Seu amor por nós, e amemos os nossos irmãos, levando-os, em nossas orações, à presença do Senhor.
                                                                                                                     
A bênção do Senhor Jesus Cristo, vencedor da morte, vos defenda e vos guarde na saúde e na paz!

Rezai por mim!

+ J. Marcos, bispo de Beja



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