A partir de 1867, com a vitória dos liberais sobre a ocupação
francesa no México, o governo mexicano lançou mão de propostas no sentido de
restringir a participação dos católicos (leigos e regulares) nos debates públicos
do país.
Em 5 de fevereiro de
1917, foi aprovada a Constituição do México, de cariz maçónico, sendo o
presidente Venustiano Corranza, também maçon. A Constituição restringia a
liberdade religiosa, considerava crime o ensino religioso e a profissão dos
votos. Ao mesmo tempo, desapropriava sumariamente os bens eclesiásticos,
negando personalidade jurídica à Igreja e encerrando-a no âmbito das
sacristias. Os sacerdotes foram privados de seus direitos políticos
(votar e ser votado, herdar, possuir bens etc.), mas deviam prestar serviço
militar.
As leis proibiram as
ordens religiosas, suprimiram a Companhia de Jesus e os seus colégios, impondo
a deportação e o encarceramento dos bispos ou sacerdotes que protestassem.
Privaram a Igreja dos direitos de propriedade e negaram liberdade civil aos
sacerdotes, incluindo o direito a um julgamento com um jurado e o direito a
voto. A cristandade mexicana sustentou uma luta de três anos contra os sem-Deus
da época. Os laicistas da Reforma impuseram a liberdade para todos os cultos,
exceto o católico, submetido ao controle do Estado
Além disso, o Governo determinava o número de
sacerdotes permitidos em cada localidade e decretava quem estava habilitado ao
ministério. Só mexicanos de nascimento podiam ser sacerdotes. A
partir de 1926, com a “Lei Calles”, Vera Cruz tinha um sacerdote “autorizado”
para cada 100 mil habitantes. Em Sonora, foram fechadas todas as Igrejas
e os sacerdotes sumariamente eliminados.
A 31 de
julho de 1926, os Bispos suspenderam todas as celebrações no país.
Explodia a perseguição contra o clero e os leigos que com ele colaboravam.
Lares invadidos, interrogatórios, tortura e julgamento de fachada.
Dezenas de milhares de católicos (50 mil homens, segundo alguns historiadores)
sublevaram-se e empunharam armas.
Começava a “guerra
dos cristeros”, que terminaria com o acordo de paz em junho de 1929.
Embora sofrendo com a falta de armas, os “cristeros” estavam em seu apogeu e
dominavam um vasto território. Os Bispos aceitaram um acordo com o
Governo (as circunstâncias não são claras até hoje) e pediram aos fiéis para
interromper a luta e cessar-fogo. Tão logo as armas foram entregues,
começou a matança. A Igreja tinha sido traída. Uma história verdadeira que
inspirou o escritor britânico, Graam
Green a imortalizá-la no seu romance O Poder e a Glória.
O Papa Pio IX condenou essas medidas, assim como Pio XI expressou sua
admiração pelos “cristeros”. Um mês depois, este Pontífice publicou a encíclica
“Iniquis afflictisque”, na qual denunciou as agressões sofridas pela Igreja no
México: “Já quase não resta liberdade alguma à Igreja no México e o exercício
do ministério sagrado se vê de tal maneira impedido, que é castigado, como se
fosse um delito capital com penas severíssimas”.
O Papa elogiou, com entusiasmo, a “Liga Nacional Defensora de la Libertad
Religiosa”, espalhada “por toda a República, na qual os seus membros
trabalharam, assiduamente, com o fim de ordenar e instruir a todos os católicos
para opor aos adversários uma frente única e solidíssima”.
“Dos mártires daqueles dias, nenhum
chamou tanto a atenção do público, no México e no resto do mundo como Miguel
Agustín Pro. Este padre jesuíta foi executado por um pelotão de fuzilamento em 23 de Novembro de 1927, sem direito a julgamento, em frente
das câmaras dos jornais que o governo trouxera para gravar o que esperava ser o
constrangedor espetáculo de um padre implorando por misericórdia. Foi uma das
primeiras tentativas modernas de usar os media
para a manipulação da opinião pública com propósitos antirreligiosos. Mas, Pro
demonstrou grande dignidade, pedindo apenas a permissão de rezar antes de
morrer. Após alguns minutos de prece, levantou-se, ergueu os braços em forma de
cruz – uma tradicional posição de oração mexicana – e, com voz firme, nem
desafiante nem desesperada, entoou, de forma comovente, palavras que, desde
então, se tornaram famosas: ‘Viva Cristo Rei’. “Longe de ser um triunfo da
propaganda para o governo, as fotografias da execução de Pro tornaram-se objeto
de devoção católica no México e de constrangimento do governo por todo o mundo.
O governo de Calles esperava
utilizar imagens da execução como forma de levar os rebeldes à rendição, mas as
fotos produziram o efeito contrário. Após verem as imagens, que o governo
mandara imprimir em todos os jornais, os Cristeros sentiram-se inspirados pelo
desejo de seguir o exemplo do padre Pro como mártires por Cristo, o qual foi
beatificado em 1988.
Em 22 de novembro de 1992,
João Paulo II beatificou vinte e dois desses sacerdotes diocesanos mártires,
destacando que “sua entrega ao Senhor e à Igreja era tão firme que, ainda tendo
a possibilidade de se ausentar de suas comunidades durante o conflito armado,
decidiram, a exemplo do Bom Pastor, permanecer entre os seus para não privá-los
da Eucaristia, da Palavra de Deus e do cuidado pastoral.
Em 21
de Maio de 2000, o papa João Paulo II canonizou um grupo de 25
mártires deste período (haviam sido beatificados em 22 de Novembro de 1992). Na sua
maioria eram padres que não pegaram em armas, mas que se recusaram a abandonar
as suas paróquias, tendo sido executados pelas forças federais. Outras 13
vítimas do regime anticatólico foram declaradas mártires pela igreja católica,
posteriormente beatificadas em 20
de Novembro de 2005 em Guadalajara, Jalisco pelo Cardeal José Saraiva Martins.Entre estes destaca-se o laico Miguel Gómez Loza, impulsionador da imprensa católica, cuja memória a
Igreja celebra a 21 de Março.
No dia 16 de outubro de 2016,
o Papa Francisco canonizou o então Beato José Luís Sánchez Del Río, como Santo da Igreja católica.
Mariano Romero
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