Quem nunca fez
algo que, sozinho, não teria feito? Por isto é que sabemos do perigo que correm
os adolescentes de adotarem comportamentos deletérios e vícios quase impostos
pelo grupo. Não é paranóia, nem exagero. Assim como o efeito matilha é algo
concreto, também o maria-vai-com-as-outras tem cadeira cativa entre os jovens.
E os adultos? Estão livres disto?
Jovens ou
adultos, vivemos quase todos num carrossel, onde vemos quase sempre as mesmas
coisas e por isto, sob a música que amestra os sentidos, podemos emburrecer em
nossos assentos ondulantes. Montado no seu cavalinho cada cidadão torna-se um
mero seguidor, subindo e descendo, com velocidade controlada que desencoraja o
desembarque. É preciso saltar do carrossel, girar em torno de si mesmo para melhor
observar e refletir.
As instituições
que denunciam o carrossel são as que privilegiam o indivíduo, que o libertam da
monotonia, da marcação cerrada do politicamente correto e da chatice
conservador-progressista. Tomemos um exemplo de peso. A pregação cristã de que a
salvação é individual é uma rasteira no coletivismo, um murro que nocauteia o
mantra igualitário. Cartilhas puramente humanas, incensadas no cotidiano, na
hora última não são passaporte pra coisa alguma.
A rede social revela
o carrossel em que estamos metidos, com postagens que propagam em alta
velocidade as mesmas piadas e memes, os mesmos textos e vídeos. É até engraçado
receber as mesmas coisas de amigos que desconhecem o que uns e outros nos
enviaram, mas predomina o inútil e não raro o obsceno. Tudo bem, faz parte, dirão,
mas mesmo os protestos são inconsequentes. O que não deveria ocorrer em uma
comunidade é o silêncio sobre o que a estrangula, como a política rasteira nas
pequenas cidades, com a nomeação de incompetentes que retribuirão com fidelidade canina na hora da campanha e do
voto. Pior, mesmo, é ver os representantes do povo pregarem transparência
enquanto agem em águas turvas. Basta olhar para a câmara de sua cidade e
acompanhar uns e outros falastrões, paladinos de fancaria.
É preciso pular
do carrossel, correr o risco e pagar o preço. Se os jovens embarcam em canoas
furadas para não serem excluídos da trupe, os adultos não são muito diferentes.
Roncam grosso, mas agem miudinho, silenciando sobre a trave e gritando contra o
cisco. Combater os erros do mundo com o discurso da moda ou com as frases dos
engenheiros sociais é – como li recentemente,- tão tolo quanto atacar cachorros
vadios arremessando almôndegas .
Definitivamente
há coisas que causam estranheza. Dias atrás li que os meios financeiros
comercializam moedas com antecipação de anos. Como acreditar na racionalidade
de tal mercado – sabendo-se que o mundo vive sob a ameaça de turbulências,- se
o jogo não for viciado? Como levar isto a sério sem suspeitar da existência de
um poder maior contra o qual nada se alevanta? Sem cogitar que as coisas são
mais urdidas do que se imagina?
Em 1913 criou-se
nos Estados Unidos, pelo Federal Reserve Act, uma espécie de banco central. Para
os passageiros do carrossel o Federal Reserve, responsável pela emissão de
dólares, é um órgão público, mas na verdade é controlado por banqueiros
privados. Em seu livro “The New Freedom”,
Woodrow Wilson afirma que em seu país não havia um ou dois ou três “mas muitos, estabelecidos e formidáveis
monopólios ... Nós temos, não um ou dois, mas muitos, campos de empreendimento
em que é difícil, senão impossível, para o homem independente entrar. Nós temos
restringido o crédito, temos restringido a oportunidade, temos controlado o
desenvolvimento e temos nos tornado mal governados, um dos mais completamente
controlados e dominados governos no mundo civilizado — não mais um governo
pela opinião livre, não mais um governo por convicção e o voto da maioria, mas
um governo pela opinião e a coação de pequenos grupos de homens dominantes”. Presidente à
época, dizem que Wilson arrependeu-se da aprovação do Federal Reserve Act. Não
é estranho que pouco se fale a respeito?
Os adultos são
mesmo adultos? Por que silenciam? Às vezes por simples ignorância. Mas por que
silenciam quando não deveriam? Em seu livro “A espiral do silêncio”, Elisabeth Noelle-Neumann mostra que os
homens se omitem, por medo de isolamento e do deboche, quando percebem que a sua
não é a opinião dominante. Ao se absterem de pular do carrossel, compactuam por
omissão com a maioria e deixam de encorajar outros possíveis dissidentes.
J. B. Teixeira |
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