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domingo, 26 de abril de 2020

A espiral do silêncio

Quem nunca fez algo que, sozinho, não teria feito? Por isto é que sabemos do perigo que correm os adolescentes de adotarem comportamentos deletérios e vícios quase impostos pelo grupo. Não é paranóia, nem exagero. Assim como o efeito matilha é algo concreto, também o maria-vai-com-as-outras tem cadeira cativa entre os jovens. E os adultos? Estão livres disto?

Jovens ou adultos, vivemos quase todos num carrossel, onde vemos quase sempre as mesmas coisas e por isto, sob a música que amestra os sentidos, podemos emburrecer em nossos assentos ondulantes. Montado no seu cavalinho cada cidadão torna-se um mero seguidor, subindo e descendo, com velocidade controlada que desencoraja o desembarque. É preciso saltar do carrossel, girar em torno de si mesmo para melhor observar e refletir.

As instituições que denunciam o carrossel são as que privilegiam o indivíduo, que o libertam da monotonia, da marcação cerrada do politicamente correto e da chatice conservador-progressista. Tomemos um exemplo de peso. A pregação cristã de que a salvação é individual é uma rasteira no coletivismo, um murro que nocauteia o mantra igualitário. Cartilhas puramente humanas, incensadas no cotidiano, na hora última não são passaporte pra coisa alguma.

A rede social revela o carrossel em que estamos metidos, com postagens que propagam em alta velocidade as mesmas piadas e memes, os mesmos textos e vídeos. É até engraçado receber as mesmas coisas de amigos que desconhecem o que uns e outros nos enviaram, mas predomina o inútil e não raro o obsceno. Tudo bem, faz parte, dirão, mas mesmo os protestos são inconsequentes. O que não deveria ocorrer em uma comunidade é o silêncio sobre o que a estrangula, como a política rasteira nas pequenas cidades, com a nomeação de incompetentes que retribuirão com  fidelidade canina na hora da campanha e do voto. Pior, mesmo, é ver os representantes do povo pregarem transparência enquanto agem em águas turvas. Basta olhar para a câmara de sua cidade e acompanhar uns e outros falastrões, paladinos de fancaria.

É preciso pular do carrossel, correr o risco e pagar o preço. Se os jovens embarcam em canoas furadas para não serem excluídos da trupe, os adultos não são muito diferentes. Roncam grosso, mas agem miudinho, silenciando sobre a trave e gritando contra o cisco. Combater os erros do mundo com o discurso da moda ou com as frases dos engenheiros sociais é – como li recentemente,- tão tolo quanto atacar cachorros vadios arremessando almôndegas .

Definitivamente há coisas que causam estranheza. Dias atrás li que os meios financeiros comercializam moedas com antecipação de anos. Como acreditar na racionalidade de tal mercado – sabendo-se que o mundo vive sob a ameaça de turbulências,- se o jogo não for viciado? Como levar isto a sério sem suspeitar da existência de um poder maior contra o qual nada se alevanta? Sem cogitar que as coisas são mais urdidas do que se imagina?

Em 1913 criou-se nos Estados Unidos, pelo Federal Reserve Act, uma espécie de banco central. Para os passageiros do carrossel o Federal Reserve, responsável pela emissão de dólares, é um órgão público, mas na verdade é controlado por banqueiros privados. Em seu livro “The New Freedom”, Woodrow Wilson afirma que em seu país não havia um ou dois ou três “mas muitos, estabelecidos e formidáveis monopólios ... Nós temos, não um ou dois, mas muitos, campos de empreendimento em que é difícil, senão impossível, para o homem independente entrar. Nós temos restringido o crédito, temos restringido a oportunidade, temos controlado o desenvolvimento e temos nos tornado mal governados, um dos mais completamente controlados e dominados governos no mundo civilizado — não mais um governo pela opinião livre, não mais um governo por convicção e o voto da maioria, mas um governo pela opinião e a coação de pequenos grupos de homens dominantes”. Presidente à época, dizem que Wilson arrependeu-se da aprovação do Federal Reserve Act. Não é estranho que pouco se fale a respeito?

Os adultos são mesmo adultos? Por que silenciam? Às vezes por simples ignorância. Mas por que silenciam quando não deveriam? Em seu livro “A espiral do silêncio”, Elisabeth Noelle-Neumann mostra que os homens se omitem, por medo de isolamento e do deboche, quando percebem que a sua não é a opinião dominante. Ao se absterem de pular do carrossel, compactuam por omissão com a maioria e deixam de encorajar outros possíveis dissidentes.

J. B. Teixeira




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