Hoje, na véspera de mais um
aniversário, vim deitar nas águas do rio Tejo o ano que findou já que o passado
encontra-se arrumado no devido lugar. E as ondas do rio, neste dia ventoso,
friorento, com algumas nuvens que impedem o sol de brilhar em todo o seu
esplendor, aproximaram-se para receber tudo o que nelas depositei, com uma
Ave-Maria, de
alguém que não merecia tanto carinho e apoio de um Pai que não se esquece de
nós, ainda que não tenhamos de todo correspondido às expetativas que possuía a
nosso respeito, mas sempre concedendo todo o espaço à nossa liberdade. Alguém
muito jovem passa no caminho, acompanhado pelo irmão. Decido perpetuar este
momento com uma fotografia pelo que ouso solicitar o favor de me tirarem. Os
jovens param e sorriem felizes por me serem de algum modo prestáveis. Um deles
confidencia que o irmão celebra o seu aniversário. Sorrio. No dia seguinte
celebraria o meu. É deveras engraçado observar que esse facto criou uma certa cumplicidade.
E partiram felizes de trotinete. Mais tarde voltaríamos a cruzar-nos. Passaram
acenando alegremente. E o vento frio que se fazia sentir fez-me deixar resvalar
algumas lágrimas. Contudo o vento levou as nuvens deixando descobrir um sol
radioso que me aqueceu o corpo e a alma. Simplesmente sublime, parecia augurar
um futuro ano promissor. Sei que não será bem assim. Mas neste momento de
balanço, será bom acolhê-lo, dar-lhe as boas vindas, se possível, em festa, em
família e com os amigos. Mas tal como a vida nada é eterno. As nuvens
regressaram. O vento e o frio também. O rio apresentava-se agora num tom
acastanhado. Sabia que seria passageiro já que podia visualizar do outro lado
do rio, as praias com areia branca devido ao sol aí brilhar. Há que manter a
esperança. Em breve virá também para este lado do rio. A maré estava vazia.
Procuro no rio uma fonte de inspiração nesta despedida do ano que hoje finaliza
para mim. Deus permita que no novo ano possa continuar a usufruir da companhia,
dos contributos da natureza, neste local de eleição e de inspiração em que me
faz pensar por analogia, no decorrer da nossa vida em que uns dias serão
repletos de sol, bem quentes, sem vento, outros com vento e chuva... Mas amanhã
quero vestir-me de verde, ou seja, de esperança, de alegria, como se este fosse
o último dia da minha vida, de uma filha bem-amada por um Deus que me ama, me
acarinha, me protege e me acompanha. Eventualmente, algumas vezes me terá
pegado ao colo, para que eu não tropece nas encruzilhadas da vida.
Por falar em festa, a minha neta,
dá sempre o mote do aniversário. Na realidade, é ela quem apaga o bolo de anos.
Antigamente, não aceitava que mais ninguém fizesse anos a não ser ela. Tinha de
apagar as velas dos bolos dos aniversariantes. Agora, já cresceu um pouco.
Ainda assim, comigo é diferente. Já escolheu o motivo alegórico. Este ano é a
festa da princesa Elsa, da Disney. Com um pouco de sorte apagamos as duas as
velas. Hoje tive de lhe telefonar para que me recordasse o nome da princesa.
Como resposta disse: “Vovó, vai buscar um papel e um lápis e escreve o nome
para não te esqueceres outra vez”. Está mesmo crescida! Como ela refere: “Já
não sou bebé, sou uma criança”. Fui encomendar o bolo. Perguntaram-me se era a
rainha do gelo, do filme de animação da Disney “Frozen”. Recordei então que tinha ido ver esse filme na sua
companhia há já algum tempo. E foi, na realidade, um dia feliz, na companhia da
família. Para a minha neta torna-se importante celebrar. Encontra-se atenta a
todos os pormenores, com a sua perspetiva de criança, para que tudo corra pelo
melhor, que todos se sintam felizes. É muito aglutinadora pela positiva. Quando
chegou o momento de apagar as velas sentou-se ao meu colo emocionada, cantando
os parabéns, vivendo intensamente o momento. Quanto mais não fosse, sentia-me
feliz por ela. As recordações perpetuam-se na memória ajudando a construir o
futuro e a recordar o passado. Como o Papa Francisco referiu: “De graça
recebestes, de graça deveis dar, para que as graças de Deus possam chegar ao
coração de todos”. Mais tarde teria lugar na Feira do Livro no Auditório APEL o
lançamento da Coletânea TRIBUTO – Homenagem a Autores Marcantes da Literatura
Universal, promovida pela CHIADO Editoria, da qual fui coautora. Antes demos
uma volta pela Feira do Livro. A minha neta queria comprar muitos livros. “Era
muito importante”, na sua perspetiva. Também na nossa. Mas não tantos como ela
queria, mas sim os que achámos adequados. Sentia-se feliz a viver o espírito
cultural, literário, com animação infantil, algodão doce, farturas, pipocas, um
sem fim de pequenas ofertas gastronómicas, num espaço verde, privilegiado,
apreciando toda esta beleza, em prol da promoção dos livros, situada no coração
da cidade de Lisboa. Já tarde, cansados pelo longo dia, optámos, a pedido da
minha neta, por dividirmos uma pizza,
antes de regressarmos a casa. Cansada, adormeceu no carro, referindo que tinha sido
um dia maravilhoso. Obrigada, minha neta, consegui rever-me um pouco em ti.
Já de regresso a casa, enquanto
conduzia, pensava quão grata me sentia por ter usufruído deste dia. Recordei
uma frase de S. Josemaria in Sulco:
“Todos os dias deves ajudar os que te rodeiam, a comportarem-se com gratidão
pela sua condição de filhos de Deus. Se não, não me digas que és agradecido”. E
ainda: “Um conselho, que vos tenho repetido teimosamente: estai sempre alegres.
– Que estejam tristes os que não se consideram filhos de Deus”. Que a nossa Mãe
do Céu, nos ajude a encontrar sempre a alegria mesmo nos momentos mais difíceis
da vida, oferecendo-os a Deus por alguma intenção. Também os momentos felizes.
Se possível, recebendo os magníficos contributos da natureza que nos ajudam a
lavar os olhos e a alma.
Santa Maria, rainha da esperança,
rogai por nós.
Maria
Helena Paes
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