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domingo, 12 de abril de 2020

Homilia na Vigília Pascal

Sé de Beja, 11de abril de 2020

Senhor Vigário Geral, senhor Cónego, amados presbíteros, religiosa, caríssimos fiéis leigos que em vossas casas estais acompanhando e vivendo esta Vigília Pascal, a maior de todas as celebrações da Igreja Católica:
1 – O Senhor ressuscitou verdadeiramente! Aleluia!
Este grito de alegria ecoa, nesta Noite Santa, pela Igreja espalhada no mundo inteiro: Jesus Cristo ressuscitou de entre os mortos! A Sua Ressurreição dá testemunho da Sua vitória sobre a morte, não sobre a morte em abstrato, mas sobre a morte de todos nós que hoje estamos vivos! Alegremo-nos, irmãos e irmãs, por esta notícia esplêndida que chegou ao nosso coração e nos faz viver na fé, na esperança e na caridade, a vida nova dos filhos de Deus!
Começámos esta Vigília Pascal acendendo o Círio pascal, e, a partir do Círio, acendemos as nossas velas. Cristo é a Luz do mundo, a luz que resplandece nas trevas das nossas vidas. E, depois de escutarmos o Precónio Pascal, iniciámos esta portentosa Liturgia da Palavra, a mais rica de quantas realizamos nas nossas igrejas. Foram proclamadas sete leituras do Antigo Testamento que resumem a História da Salvação e que apontam para a obra realizada por Jesus Cristo, na Sua Páscoa.
2 - A narração da Criação, pontuada com estas palavras: e Deus viu que isto era bom, torna presente a Nova Criação que, no Sacramento do Batismo, Jesus realiza naqueles que n’Ele creem. Passámos, de seguida, à sublime leitura do Sacrifício de Isaac que seu pai Abraão se dispunha a matar, leitura que nos ensina a obediência da fé, desta fé que no Batismo é proclamada e celebrada. Foi colocando a vontade do Senhor acima de todos os afetos terrenos que o nosso Pai Abraão se abriu, de facto, à extraordinária fecundidade espiritual que lhe fora prometida por Deus. A fé de Abraão, podemos ler na Epístola aos Hebreus, é a fé de alguém que tem a certeza de que Deus pode dar vida aos mortos, pois lhe tinha prometido que, daquele Isaac que ele ia sacrificar, nasceria a sua descendência.
A leitura do Livro do Êxodo é centralíssima na liturgia da Páscoa. A passagem do Mar Vermelho pelo povo de Israel prefigurava a libertação daqueles que, nas águas do Batismo, deixam para trás a escravidão do Egito e caminham em Igreja, no deserto da vida presente, para a terra Prometida.
 A quarta leitura, meus caros irmãos, manifestou-nos a promessa de que o Senhor desposará e reconstruirá Jerusalém, quer dizer, a Igreja, e a adornará com pedras preciosas, e a quinta, também do livro de Isaías, é o convite solene que o Senhor nos faz para irmos à nascente das águas, a fim de participarmos na Nova Aliança. Porque fomos criados para a comunhão com Deus e com o próximo, e não para vivermos isolados e sós, como tantas vezes acontece, o Senhor convida-nos, nestas duas leituras, a convertermo-nos a Ele e a vivermos da Sua fidelidade.
Tirada do livro de Baruc, a exortação da sexta leitura fala-nos da Sabedoria de Deus que veio habitar com os homens, primeiro no livro dos Mandamentos da Lei, mas depois na pessoa de Jesus Cristo, o Verbo de Deus feito carne para nos dar a Vida divina para a qual fomos criados, a única que pode fazer-nos felizes. Finalmente, a última palavra do Antigo Testamento que escutámos, do livro do profeta Ezequiel, dá-nos uma interpretação do cativeiro de Babilónia que o povo de Israel suportou, e anuncia-nos a água limpa do Batismo que purificará o mundo de todas as idolatrias. O Senhor promete-nos um coração novo e um Espírito novo, o Seu Espírito, pelo qual nos tornaremos o Seu povo e Ele o nosso Deus.
3 – Todas estas promessas, todos estes convites contidos nestas admiráveis palavras do Antigo Testamento conduziram-nos ao Novo Testamento, concretamente, à Carta aos Romanos, a esta leitura esplêndida que deveríamos saber de cor para a vivermos, pois ela resume o essencial do Sacramento do Batismo e da nossa vida de filhos de Deus: Considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus (Rm 6,11)!
Que é ser cristão? É isso mesmo: é estarmos mortos para o pecado e, unidos a Cristo Jesus, vivermos para Deus. Ou como S. Paulo afirmou, é levarmos sempre, no nosso corpo o morrer de Jesus, para que, também no nosso corpo se manifeste a Sua vida de ressuscitado (2Cor 4,10). Pelo Batismo, morreu o nosso homem velho, centrado em si mesmo, egoísta, que se punha no lugar de Deus como princípio e fim para si mesmo, esperando ser amado e adorado por todos e, em seu lugar, foi entronizado o Senhor Jesus Cristo. E a partir daí, todos os nossos relacionamentos com os outros, com as coisas e com a natureza, se tornam justos. Ser cristão é experimentarmos, como as mulheres do Evangelho escutado há momentos, que está realmente vazio o túmulo de Cristo, é escutarmos o anúncio que o anjo nos faz de que Ele, verdadeiramente, ressuscitou, e que poderemos encontrá-l’O na Galileia, no anúncio do Evangelho, onde Ele sempre nos precede, e também na Igreja, na comunhão fraterna.
4 – Como vemos, caríssimos irmãos e irmãs, a liturgia da Palavra que escutámos centra-nos no Batismo, porta da Vida cristã. A noite da Páscoa é, por excelência, o momento certo para celebrarmos os Batismos de adultos e para renovarmos, de seguida, as promessas do nosso Batismo. Dadas as circunstâncias próprias desta Páscoa, os eleitos não serão batizados hoje. Mas nós vamos renovar a nossa vida cristã, renunciando publicamente ao demónio e ao pecado, e professando a nossa fé nas Três Pessoas da Santíssima Trindade.
Certamente já me ouvistes comparar a profissão de fé à assinatura de um cheque. Para que seja válido o cheque que assinamos, não lhe basta a assinatura. Precisa de ter cobertura. Para que serviu o tempo da Quaresma, caros irmãos e irmãs? Para isso mesmo. Para darmos cobertura, por obras de arrependimento e de misericórdia, de oração, de jejum e de esmola, a esta renúncia ao demónio e à fé em Deus Pai, em Jesus Cristo, e no Espírito Santo, que faremos de seguida. Porque acreditamos na Palavra de Deus que é Cristo, a nossa liturgia é feita de palavras. Mas Cristo é a Palavra feita carne, e a carne da nossa profissão de fé são as obras. Por isso o Senhor Jesus Cristo disse: quem acredita em mim fará também as obras que Eu faço (Jo 14,12).
5 – A Vigília Pascal, depois da liturgia do Batismo, hoje reduzida ao mínimo, congregar-nos-á à volta da Mesa Eucarística para celebrarmos a primeira Eucaristia depois destes dois dias de jejum, de Sexta-feira Santa e de Sábado Santo. A Eucaristia é o memorial da Páscoa do Senhor, memorial que Ele, na noite em que foi entregue, nos mandou celebrar. Com este memorial, o Senhor Jesus Cristo, Ressuscitado dos mortos, virá para nos servir o alimento espiritual do Seu Corpo e do Seu Sangue. Recebamo-l’O com a fé e com a alegria própria de quem, morto com Ele para o pecado, com Ele ressuscitou para ser herdeiro de Deus, para receber, como herança, a Vida eterna.

+ J. Marcos



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