Sé de Beja, 11de abril de 2020
Senhor Vigário Geral, senhor Cónego, amados presbíteros,
religiosa, caríssimos fiéis leigos que em vossas casas estais acompanhando e
vivendo esta Vigília Pascal, a maior de todas as celebrações da Igreja Católica:
1 – O Senhor ressuscitou
verdadeiramente! Aleluia!
Este grito de alegria ecoa, nesta
Noite Santa, pela Igreja espalhada no mundo inteiro: Jesus Cristo ressuscitou
de entre os mortos! A Sua Ressurreição dá testemunho da Sua vitória sobre a
morte, não sobre a morte em abstrato, mas sobre a morte de todos nós que hoje
estamos vivos! Alegremo-nos, irmãos e irmãs, por esta notícia esplêndida que
chegou ao nosso coração e nos faz viver na fé, na esperança e na caridade, a
vida nova dos filhos de Deus!
Começámos esta Vigília Pascal
acendendo o Círio pascal, e, a partir do Círio, acendemos as nossas velas.
Cristo é a Luz do mundo, a luz que resplandece nas trevas das nossas vidas. E,
depois de escutarmos o Precónio Pascal, iniciámos esta portentosa Liturgia da
Palavra, a mais rica de quantas realizamos nas nossas igrejas. Foram
proclamadas sete leituras do Antigo Testamento que resumem a História da
Salvação e que apontam para a obra realizada por Jesus Cristo, na Sua Páscoa.
2 - A narração da Criação, pontuada
com estas palavras: e Deus viu que isto era bom, torna presente a Nova
Criação que, no Sacramento do Batismo, Jesus realiza naqueles que n’Ele creem.
Passámos, de seguida, à sublime leitura do Sacrifício de Isaac que seu pai
Abraão se dispunha a matar, leitura que nos ensina a obediência da fé, desta fé
que no Batismo é proclamada e celebrada. Foi colocando a vontade do Senhor
acima de todos os afetos terrenos que o nosso Pai Abraão se abriu, de facto, à
extraordinária fecundidade espiritual que lhe fora prometida por Deus. A fé de
Abraão, podemos ler na Epístola aos Hebreus, é a fé de alguém que tem a certeza
de que Deus pode dar vida aos mortos, pois lhe tinha prometido que, daquele
Isaac que ele ia sacrificar, nasceria a sua descendência.
A leitura do Livro do Êxodo é centralíssima
na liturgia da Páscoa. A passagem do Mar Vermelho pelo povo de Israel prefigurava
a libertação daqueles que, nas águas do Batismo, deixam para trás a escravidão
do Egito e caminham em Igreja, no deserto da vida presente, para a terra
Prometida.
A quarta leitura, meus caros irmãos, manifestou-nos
a promessa de que o Senhor desposará e reconstruirá Jerusalém, quer dizer, a
Igreja, e a adornará com pedras preciosas, e a quinta, também do livro de
Isaías, é o convite solene que o Senhor nos faz para irmos à nascente das
águas, a fim de participarmos na Nova Aliança. Porque fomos criados para a
comunhão com Deus e com o próximo, e não para vivermos isolados e sós, como
tantas vezes acontece, o Senhor convida-nos, nestas duas leituras, a
convertermo-nos a Ele e a vivermos da Sua fidelidade.
Tirada do livro de Baruc, a exortação
da sexta leitura fala-nos da Sabedoria de Deus que veio habitar com os homens,
primeiro no livro dos Mandamentos da Lei, mas depois na pessoa de Jesus Cristo,
o Verbo de Deus feito carne para nos dar a Vida divina para a qual fomos
criados, a única que pode fazer-nos felizes. Finalmente, a última palavra do
Antigo Testamento que escutámos, do livro do profeta Ezequiel, dá-nos uma
interpretação do cativeiro de Babilónia que o povo de Israel suportou, e
anuncia-nos a água limpa do Batismo que purificará o mundo de todas as
idolatrias. O Senhor promete-nos um coração novo e um Espírito novo, o Seu
Espírito, pelo qual nos tornaremos o Seu povo e Ele o nosso Deus.
3 – Todas estas promessas, todos estes
convites contidos nestas admiráveis palavras do Antigo Testamento
conduziram-nos ao Novo Testamento, concretamente, à Carta aos Romanos, a esta
leitura esplêndida que deveríamos saber de cor para a vivermos, pois ela resume
o essencial do Sacramento do Batismo e da nossa vida de filhos de Deus: Considerai-vos
mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus (Rm 6,11)!
Que é ser cristão? É isso mesmo: é estarmos
mortos para o pecado e, unidos a Cristo Jesus, vivermos para Deus. Ou como S.
Paulo afirmou, é levarmos sempre, no nosso corpo o morrer de Jesus, para
que, também no nosso corpo se manifeste a Sua vida de ressuscitado (2Cor 4,10).
Pelo Batismo, morreu o nosso homem velho, centrado em si mesmo, egoísta, que se
punha no lugar de Deus como princípio e fim para si mesmo, esperando ser amado
e adorado por todos e, em seu lugar, foi entronizado o Senhor Jesus Cristo. E a
partir daí, todos os nossos relacionamentos com os outros, com as coisas e com
a natureza, se tornam justos. Ser cristão é experimentarmos, como as mulheres
do Evangelho escutado há momentos, que está realmente vazio o túmulo de Cristo,
é escutarmos o anúncio que o anjo nos faz de que Ele, verdadeiramente,
ressuscitou, e que poderemos encontrá-l’O na Galileia, no anúncio do Evangelho,
onde Ele sempre nos precede, e também na Igreja, na comunhão fraterna.
4 – Como vemos, caríssimos irmãos e
irmãs, a liturgia da Palavra que escutámos centra-nos no Batismo, porta da Vida
cristã. A noite da Páscoa é, por excelência, o momento certo para celebrarmos
os Batismos de adultos e para renovarmos, de seguida, as promessas do nosso
Batismo. Dadas as circunstâncias próprias desta Páscoa, os eleitos não serão
batizados hoje. Mas nós vamos renovar a nossa vida cristã, renunciando
publicamente ao demónio e ao pecado, e professando a nossa fé nas Três Pessoas
da Santíssima Trindade.
Certamente já me ouvistes comparar a
profissão de fé à assinatura de um cheque. Para que seja válido o cheque que
assinamos, não lhe basta a assinatura. Precisa de ter cobertura. Para que
serviu o tempo da Quaresma, caros irmãos e irmãs? Para isso mesmo. Para darmos
cobertura, por obras de arrependimento e de misericórdia, de oração, de jejum e
de esmola, a esta renúncia ao demónio e à fé em Deus Pai, em Jesus Cristo, e no
Espírito Santo, que faremos de seguida. Porque acreditamos na Palavra de Deus
que é Cristo, a nossa liturgia é feita de palavras. Mas Cristo é a Palavra
feita carne, e a carne da nossa profissão de fé são as obras. Por isso o Senhor
Jesus Cristo disse: quem acredita em mim fará também as obras que Eu faço
(Jo 14,12).
5 – A Vigília Pascal, depois da
liturgia do Batismo, hoje reduzida ao mínimo, congregar-nos-á à volta da Mesa
Eucarística para celebrarmos a primeira Eucaristia depois destes dois dias de
jejum, de Sexta-feira Santa e de Sábado Santo. A Eucaristia é o memorial da
Páscoa do Senhor, memorial que Ele, na noite em que foi entregue, nos mandou
celebrar. Com este memorial, o Senhor Jesus Cristo, Ressuscitado dos mortos,
virá para nos servir o alimento espiritual do Seu Corpo e do Seu Sangue.
Recebamo-l’O com a fé e com a alegria própria de quem, morto com Ele para o
pecado, com Ele ressuscitou para ser herdeiro de Deus, para receber, como
herança, a Vida eterna.
+ J. Marcos
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