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sábado, 5 de janeiro de 2019

A mentira vos aprisionará

Se bem me lembro, minha primeira incursão no universo das esquerdas foi a leitura de “O cavaleiro da esperança”, livro apologético em que Jorge Amado incensa a figura de Luís Carlos Prestes. Muita água já rolara sob a ponte do século XX quando os tenentes deram o ar da graça no episódio conhecido como os 18 do Forte, em 1922, do qual saíram vivos Eduardo Gomes e Siqueira Campos. Depois viria a Coluna Prestes, em 1924, com a marcha de guerrilha por mais de vinte mil quilómetros, com entreveros rápidos e a febre amarela como inimigo constante.

Prestes, como os demais revolucionários, não tinha inclinação marxista, que só abraçará depois de internar-se na Bolívia e fixar-se na Argentina. Mais tarde o país será surpreendido por uma tentativa de tomada do poder conhecida como Intentona Comunista. “Memórias do Cárcere”, de Graciliano Ramos, me ajudou a entender um pouco melhor a confusão daquela época. Seu corte intelectual é diverso dos tenentes e, se a memória não me trai, até se irrita com os militares com os quais dividirá a experiência da prisão, quando recebeu influência comunista.

Por mais miserável que sempre tenha sido, o povo brasileiro nunca aderiu às ideias comunistas, que permaneceram adstritas a um contingente pequeno de pensadores e militantes. Outras tentativas sobreviriam, comandadas por Marighela, depois por Lamarca e mais recentemente por Osvaldão, na guerrilha do Araguaia. Embora armados e fortemente ideológicos, tais movimentos tinham em comum a ausência de senso de oportunidade histórica. Nasceram condenados ao fracasso porque imaginavam que o povo, o povo miserável, mostraria massiva adesão. Uma vez mais a leitura estava errada: o comunismo pode ser implantado através do descontentamento de um povo, cavalo encilhado pela desídia e crueldade do poder que será apeado, mas sempre pela força, não pela romântica adesão dos desvalidos. Pelo menos até Gramsci era assim.

Mal saídos de um processo eleitoral digno da Idade da Pedra, com bordunas e tacapes, sobram ressentimentos entre amigos e familiares, demonstrando insuspeita imaturidade, pelo menos em sua dimensão. O período teve o dom de revelar que não estamos preparados para debate algum, o que não surpreende num povo que vive sob o medo. Por outro lado ficou transparente nos últimos anos que as ideias de Marcuse e demais integrantes da Escola de Frankfurt e sobretudo de Gramsci estão muito presentes no ideário e nas ações da esquerda.

Seja como for, o comunismo falhou, ainda que os mais renitentes jurem que o sucesso não veio porque não foi socialismo de verdade. Duro de engolir, afinal se nem mesmo com a hegemonia de que gozaram Stalin, Hoxha e Honecker, e a violência que praticaram, a coisa desandou, há que admitir que a história mostrou que o comunismo não tem traços humanos. Forçar um povo a viver sob o comunismo é como tentar fazer um gato latir ou corvos cantarem. Não é o caminho.

Em meio ao tiroteio eleitoral, ressurgiu um decálogo atribuído a Lenin:  “1. Corrompa a juventude e dê-lhe liberdade sexual; 2. Infiltre e depois controle todos os veículos de comunicação de massa; 3. Divida a população em grupos antagónicos, incitando-os a  discussões sobre assuntos sociais; 4. Destrua a confiança do povo em seus líderes; 5. Fale sempre sobre Democracia e em Estado de Direito, mas, tão logo haja oportunidade, assuma o Poder sem nenhum escrúpulo; 6. Colabore para o esbanjamento do dinheiro público; coloque em descrédito a imagem do País, especialmente no exterior e provoque o pânico e o desassossego na população por meio da inflação; 7. Promova greves, mesmo ilegais, nas indústrias vitais do País; 8. Promova distúrbios e contribua para que as autoridades constituídas não as coíbam; 9. Contribua para a derrocada dos valores morais, da honestidade e da crença nas promessas dos governantes. Nossos parlamentares infiltrados nos partidos democráticos devem acusar os não-comunistas, obrigando-os, sem pena de expô-los ao ridículo, a votar somente no que for de interesse da causa socialista;10. Procure catalogar todos aqueles que possuam armas de fogo, para que elas sejam confiscadas no momento oportuno, tornando impossível qualquer resistência à causa”.

Convenhamos que estas linhas têm assinatura demoníaca, mas seria o decálogo verdadeiro? Imagino que não, que seja apócrifo e que talvez tenha sido redigido há pouco tempo. O que preocupa, entretanto, é constatar que muitos dos pontos estão visivelmente implantados. Isto assume tal gravidade que até perde importância a descoberta do autor. Importa descobrir quem vem implantando tais descaminhos no Brasil. Quem seria capaz de algo tão hediondo?

J. B. Teixeira



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