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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O que vai mudar na vida consagrada depois do encontro com o Papa Francisco?

Superior Carmelita no Egipto reflecte para ZENIT sobre a vida consagrada e o encontro com o Papa Francisco no dia 2 de Fevereiro de 2016



O Ano da Vida Consagrada encerrou-se com solenidade no dia dois de Fevereiro. O  Papa se encontrou, segundo as informações,  com mais de 5000 consagrados, vindos de todos os lados do mundo, para rezar, para meditar, para escutar a palavra do pai e pastor da Igreja, o Papa Francisco. Ele é jesuíta, e como consagrado, durante estes anos do seu pontificado, falou mais do que os outros Papas em muitos anos de pontificado. Conhece bem a vida religiosa, a sua beleza, as suas necessidades para a vida da Igreja, e conhece também muito bem  os “defeitos ,os pecados, os lados fracos e débeis”  da vida consagrada. Está consciente que, sem a vida consagrada, especialmente a feminina, a acção da Igreja nos lugares  de extremas fronteiras, e nos ambientes das periferias existenciais, dos sofrimentos humanos,  seria  deficiente.

O Papa  vê na vida religiosa uma força evangelizadora única. Há muitos religiosos  e religiosas, como tem dito o Papa, que vivem com fidelidade  a própria consagração a Deus e ao serviço dos irmãos. O Papa Francisco,  deixando de lado o texto preparado,  falou espontaneamente e se movimentou com tranquilidade única nos campos “próprios da vida consagrada”, que só um religioso pode fazer. Sabemos que a sua maneira de abordar os assuntos mais espinhentos “são reais e humorísticos”, entre um sorriso e outro, diz  verdades que  tocam profundamente as feridas abertas da vida consagrada. A escassez de vocações   que  não se resolve, como diz o Papa, “com inseminação artificial”, convidando e aceitando  todos os que se apresentam e dizem que querem ser religiosos. É necessário  examinar bem, com amor, com profundidade, com todos os meios espirituais e psicológicos  para verificar se se trata de uma autêntica “vocação” de seguir a Cristo com todas as consequências que este seguimento comporta.  Diz-nos que  ver mosteiros grandes, vazios, ou levados para frente por quatro ou cinco velhinhas,  “quase lhe faz perder a esperança no futuro”.  Mas  retoma a esperança com coragem porque ela se fundamenta não nas coisas materiais, mas sim em Deus, em Cristo Jesus.  O Papa falou com  abertura, com a “coragem profética” de três realidades absolutamente necessárias para redoar à vida  consagrada o brilho, a beleza, a alegria: a profecia, a proximidade, a esperança.

A profecia: o Papa falou da “profecia  da “obediência”, uma obediência  que é oferenda total de nossa vida, de fazer o que devemos fazer. Ele nos ensinou que podemos  rezar: “ó Pai, afasta de mim este cálice”, mas depois dizer, “seja feita a tua vontade e não a minha”. Podemos espernear, conversar, manifestar todas as nossas objecções e ao final  dizer: “vou fazer!” Engolir  e fazer. Uma obediência que custe, é a profecia da obediência. Sobre a proximidade nos recordou que o primeiro próximo é a nossa comunidade, os que vivem connosco. Devemos amá-los e deu o exemplo de Santa Teresinha. É a magistral página na História de uma Alma,  do serviço alegre com o sorriso à Irmã São Pedro.

Recordo-me de um acto de caridade que Deus me inspirou fazer quando ainda era noviça. Era pouca coisa, mas nosso Pai, que vê o que é secreto, que olha mais para a intenção do que para o vulto da acção, já me recompensou sem esperar a outra vida. Era no tempo em que irmã São Pedro ainda ia ao coro e ao refeitório. Para a oração vespertina, estava acomodada à minha frente: às 15h50, uma irmã devia levá-la ao refeitório, pois as enfermeiras tinham então muitas doentes e não podiam levá-la. Custava-me muito oferecer-me para prestar esse pequeno serviço, pois sabia não ser fácil contentar essa pobre irmã São Pedro, que sofria tanto que não gostava de mudar de condutora. Mas eu não queria perder tão boa ocasião de praticar a caridade, lembrando-me de que Jesus disse: “Tudo o que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fareis”. Ofereci-me, portanto, muito humildemente, para levá-la. Não foi sem dificuldade que consegui fazê-la aceitar meu serviço! Enfim, pus mãos à obra e tinha tão boa vontade que consegui perfeitamente.

Toda tarde, quando via irmã São Pedro sacudir sua ampulheta, sabia o que aquilo significava: partamos. É incrível como me era custoso dispor-me a levá-la, sobretudo no início. Assim mesmo, fazia-o imediatamente e começava todo um cerimonial. Era preciso mover e levar o banco de um jeito preestabelecido, sobretudo, não se apressar; depois, empreendia-se o passeio. Tratava-se de seguir a pobre enferma segurando-a pela cintura, o que eu fazia com a maior delicadeza possível; mas se, por infelicidade, ela dava um passo em falso parecia-lhe logo que não a segurava direito e que ela ia cair. “Ah!, meu Deus! andais depressa demais, vou me arrebentar.” Se eu procurava andar mais devagar: “Mas me acompanhai, não sinto mais a vossa mão, ides largar-me, vou cair, ah! bem sabia que sois jovem demais para me levar”. No final, chegávamos sem incidente ao refeitório. Aí surgiam novas dificuldades, pois era preciso fazê-la sentar e agir com jeito [29v] para não machucá-la. Depois, era preciso arregaçar suas mangas (ainda de uma maneira predeterminada). Depois, ficava livre para ir. Com mãos estropiadas, ela ajeitava, como podia, o pão em seu godê. Logo percebi e, toda noite, só a deixava após ter–lhe prestado mais esse servicinho. Como não me tinha pedido para fazê-lo, ficou muito comovida e foi por esse gesto, que eu não tinha planeado, que conquistei seu afecto e sobretudo (soube mais tarde) porque, depois de ter cortado o pão, despedia-me dela com meu mais lindo sorriso.(Manuscrito A, 29f)

A esperança que é saber rezar pelas vocações  com coragem. Falta oração! Quais vocações pedimos a Deus e como as pedimos… O resto cada um pode ler. As palavras do Papa me colocaram em crise. Mas não sei se vou mudar, se tenho capacidade, coragem… O que vai mudar depois do encontro com o Papa? Tudo,  se nós queremos; nada, se nós não queremos.

Rezem para mim, que eu queira mudar e eu, desde o Egipto, rezarei para vocês mudarem. Aí sim, se nós mudarmos, tudo será diferente depois deste Ano da Vida Consagrada. É preciso deixar-se mudar por Jesus. Como carmelita fiquei orgulhoso em ver o Papa citar  a minha “secretária, amiga e mestra” Santa Teresinha. Ela mudou.  Que ela me ajude e nos ajude a mudar!


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