“O que fazes no mundo? Tu não foste feito para ele. Segue a tua
vocação!” Ouviu de modo claro em seu interior estas inesquecíveis
palavras da Santíssima Virgem que o encorajou a viver sua vocação…
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Hoje vos conto a história de um santo que nasceu em Assis na Itália. E
não se trata de São Francisco ou Santa Clara de Assis. E sim, de São
Gabriel de Nossa Senhora das Dores. Cuja festa celebramos dia 27 de Fevereiro.
Nasceu em 1º de Março de 1838, em Assis. Foi baptizado no mesmo dia
com o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco, na Igreja de São
Rufino, onde sete séculos antes havia sido baptizados São Francisco e
Santa Clara de Assis. Filho de uma família de treze irmãos, seu pai, o
advogado Sante Possenti, exercia na época o cargo de prefeito. E sua
mãe, Angese Frisciotti, provinha de uma família nobre e que veio a
falecer quando ele tinha apenas quatro anos.
Tendo ele três anos de idade, a família Possenti transferiu-se para
Spoleto – Itália, onde transcorreriam sua infância e adolescência. Ali
Francisco se distinguiu por seu carácter vivaz, cheio de afecto, gentil,
palavra fácil e olhar penetrante. Gostava muito de festas; adorava ler
romances e se destacava em suas belas actuações no teatro e pela
habilidade com que dançava nos bailes que sempre gostava de frequentar.
Porém, ninguém podia imaginar que aquele jovem aplaudido e aprovado por
todos professava no seu interior uma fé pura e sincera. E de que o
anseio de trilhar algum dia na vida religiosa começava a despontar em
sua alma… Um dos seus mais íntimos amigos da época declarou: “Quantas vezes o vi de mãos juntas, olhos humedecidos pelas lágrimas e como que arrebatado em profundos pensamentos!”.
Quando Francisco tinha 17 anos, sua irmã mais velha, Maria Luísa, que
fora para ele um de seus principais afectos desde a morte de sua mãe,
veio a falecer por uma assoladora epidemia de cólera que irrompeu a
cidade de Spoleto na época. A morte da sua irmã causou em Francisco o
impacto de um raio, a ponto de expor ao pai o desejo de ingressar num
convento. O pai, entretanto, recusou sua ida, temendo que tal desejo
fosse o fruto efémero de um momento de dor.
O jovem Francisco volta-se então, novamente, para os prazeres do
mundo. E as atracções do mundo começaram a abafar de novo sua vocação.
Aos 18 anos, desiludido, desanimado e arrependido, chegou a escrever
para um dos seus amigos: “Gozar de mais prazeres e diversões? E o que ficou de tudo aquilo? Nada mais do que vergonha, temores e turbações”.
Foi nessa situação que Francisco entrou no dia 22 de Agosto de 1856,
em uma procissão onde tinha a imagem do Sagrado Ícone da Virgem de
Spoleto. Ao fitar profundamente os olhos na imagem da Virgem, sentiu-se
animado por uma voz serena que lhe falava no íntimo: “Francisco, o que fazes no mundo? Tu não foste feito para ele. Segue a tua vocação!”.
Na manhã seguinte, Francisco partiu de Spoleto em direcção a Loreto,
onde passou alguns dias estreitando os laços de amor e devoção a Maria
Santíssima. De lá, dirigiu-se a Morrovalle para dar início ao noviciado
dos Padres Passionista. Ele, o elegante bailarino, o brilhante animador
dos salões de Spoleto, escolheu entrar na Congregação dos Passionistas,
fundado em 1720 por São Paulo da Cruz, com a missão de anunciar, através
da vida contemplativa e do apostolado, o amor de Deus revelado na
Paixão de Cristo. E ali, na radicalidade ao Evangelho, mudou o nome para
Gabriel, e de acordo também com a sua devoção a Nossa Senhora,
chamou-se então: Gabriel de Nossa Senhora das Dores. E com apenas 24
anos, partiu ele para a glória no dia 27 de Fevereiro de 1862, deixando o
rastro da radicalidade em Deus.
São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, é para a juventude actual um
forte testemunho de um coração que soube responder sua vocação mesmo
diante dos encantos deste mundo. Entusiasmado pela Cruz de Nosso Senhor
Jesus Cristo e da devoção entranhada a Maria Santíssima, no silêncio do
seu ser, disse o seu sim a Deus.
Particularmente, adentrar na história deste santo, foi um convite ao meu ser de silenciar para ouvir de Deus o Seu chamado.
E fazer silêncio neste mundo de hoje é praticamente uma coisa
absurda, pois somos como que consumidos pela angústia da pressa cada vez
mais apressada, na luta pela sobrevivência no mundo da tecnologia, que
tenta nos devorar o tempo todo. Mas é necessário viver o silêncio e nele
nos conectarmos com o nosso coração. Silêncio e coração juntos dizem
muito sobre os rumos a seguir. E quando deixarmos Nossa Senhora, como
fez São Gabriel, fazer parte deste silêncio e deste coração, veremos que
o difícil agora será sairmos deste momento ímpar – quando o humano se
conecta com o divino e Nele descobre seu chamado.
É para não me prolongar mais, lembro-vos das palavras do Papa
Francisco ditas aos voluntários da JMJ no Rio em 2013, cujas palavras
fui privilegiada por recebê-las pessoalmente e que me tocaram
profundamente o coração… E é com essas palavras que vos deixo imersos na
reflexão da belíssima vida deste jovem santo. E vos convido no
silêncio, a pensar sob o olhar da Virgem Santíssima na vocação de cada
um de vocês. “Deus nos chama para
escolhas definitivas, Ele tem um projecto para cada um: descobri-lo,
responder à própria vocação significa caminhar na direcção da realização
jubilosa de si mesmo. A todos Deus nos chama à santidade, a viver a sua
vida, mas tem um caminho para cada um. Queridos jovens, talvez alguns de
vocês ainda não veja claramente o que fazer da sua vida. Peça isso ao
Senhor; Ele lhe fará entender o caminho.”
São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!
in
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