Dom Reinhard Marx, presidente do episcopado alemão, falou ontem no Congresso Internacional de Ministros da Justiça, na Itália
WIKIMEDIA COMMONS |
“Acolho com favor a iniciativa e a tenacidade com que a Comunidade de
Santo Egídio assumiu esta batalha de civilização. É mais um passo na
defesa da vida, por uma visão integral da vida”, declarou o cardeal
Reinhard Marx, arcebispo de Munique e presidente da Conferência
Episcopal Alemã, além de membro do C9, durante o IX Congresso
Internacional de Ministros da Justiça, realizado ontem na Câmara dos
Deputados da Itália com o título “Um mundo sem pena de morte”.
Em seu discurso, o cardeal explicou o progresso feito pela Igreja
neste assunto, através do Catecismo da Igreja Católica e graças, em
especial, aos últimos três papas. Ele relatou também sua alegria por ter
recebido, meses atrás, o convite para a conferência: a pena de morte é
um assunto “crítico” que exige esforço de mudança, especialmente nos
Estados Unidos, afirmou.
Para o cardeal, é providencial que a Comunidade de Santo Egídio
continue a promover a abolição da pena de morte durante este Ano Santo,
“porque a misericórdia é o rosto de um homem injustamente condenado à
morte”. Isto leva a um público ainda maior: não apenas o governo e os
parlamentos, mas também as pessoas comuns.
A abordagem da Comunidade nesta batalha pela abolição é
“profundamente católica ou universal”, porque “atrai todas as partes
interessadas, melhora as operações de cada país, evita o viés
ideológico, intervém nos casos individuais de pessoas condenadas à morte
e, ao mesmo tempo, fornece instrumentos legais aos países que os
solicitam”.
“Estou profundamente convencido de que não há justiça sem vida”,
comentou o arcebispo de Munique, acolhendo o compromisso de canalizar
essa luta no diálogo inter-religioso. Em seu discurso, voltaram as
palavras do papa Francisco no ângelus de domingo passado, cujo vídeo foi
exibido no início da conferência.
Da janela do Palácio Apostólico, o papa lançou um apelo “à
consciência dos governantes para que se chegue a um consenso
internacional voltado a abolir a pena de morte”. Francisco fez a
proposta de um “gesto corajoso e exemplar: que nenhuma sentença seja
executada neste Ano Santo da Misericórdia”.
A atitude do papa no último domingo “nem sempre foi, infelizmente, a
abordagem da Igreja. Temos que admitir isto”, disse o cardeal Marx,
lembrando em seguida os grandes desenvolvimentos desta questão durante o
pontificado de João Paulo II, que, em todos os sentidos e em todas as
circunstâncias, chamou à defesa da vida desde a concepção até a morte
natural. Bento XVI e Francisco seguiram “de todo o coração” o exemplo de
seu antecessor, com novos desenvolvimentos e algumas decisões corajosas
para combater a pena de morte.
“Não estamos apenas trabalhando por uma sociedade mais justa, e sim
por uma sociedade mais humana”, reafirmou o cardeal. “Neste Ano Santo da
Misericórdia, devemos ser capazes de nos comprometer com a abolição da
pena de morte e combatê-la na cena política”, onde “muitas vezes ouvimos
políticos que clamam: ‘Vingança, vingança’”!
Mas a vingança “nunca é a solução para nenhum problema político ou social”, afirmou dom Reinhard Marx. Devemos, portanto, tornar-nos “protagonistas da misericórdia”, como solicitado pelo papa Francisco, que sempre se expressou de modo “claro” e “insistente” contra a pena de morte.
Baste recordar as suas palavras no Congresso dos Estados Unidos,
durante a viagem de Setembro passado, em que o papa recordou a
“responsabilidade de proteger e defender a vida humana em todas as fases
do seu desenvolvimento”. Disse o papa naquela ocasião: “Esta convicção
me levou, desde o início do meu ministério, a apoiar em vários níveis a
abolição global da pena de morte. Estou convencido de que esta é a
maneira melhor, uma vez que toda vida é sagrada; toda pessoa humana tem
uma dignidade inalienável e a sociedade só pode se beneficiar com a
reabilitação daqueles que são condenados por crimes”.
“Para o Estado de direito, o papa Francisco diz que a pena de morte é
um fracasso”, concluiu o presidente dos bispos alemães, “já que ela
obriga o Estado a matar em nome da justiça em vez de trabalhar por uma
sociedade de misericórdia e de defesa da vida humana”.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário