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sábado, 27 de fevereiro de 2016

A liberdade de S. José

Uma das características do ser humano é a sua limitação. Não me refiro apenas às limitações da idade, desde bebé até à senectude. Penso nas inúmeras fronteiras, físicas, sociais, intelectuais ou espirituais, que o prendem e limitam a sua acção. Quantas vezes se ouvem queixas ou desculpas em relação a iniciativas laborais: culpa-se o patrão ou o superior que não se apercebeu da brilhante ideia do empregado para resolver um assunto; acusa-se o banco que se recusou a financiar um projecto; desculpa-se com doenças, o engarrafamento, o mau tempo... Tudo serve de desculpa sempre que não se cumpre com a missão que nos é confiada. E no entanto, o Homem é um ser livre. Pode, em cada momento, dizer sim ou não em cada fase da sua missão.

Não pretendo afirmar que a vida é fácil, simples, banal. Pelo contrário. Considero a vida uma aventura apaixonante, cheia de enigmas e desafios que devem ser resolvidos com inteligência, prudência, decisão, vontade firme e corpo rijo. Para se chegar vencedor ao final da vida é necessário aprender com os vencedores que nos antecederam no tempo. Para o mês de Março, escolhi S. José.

Pouco sabemos da sua vida cheia de desafios. Sabemos que, já desposado com Maria, mas ainda sem viverem juntos, descobre que a sua mulher está grávida. Era costume do tempo e do lugar, apedrejar as mulheres adúlteras, mas José não está convencido. Retira-se para pensar no assunto, pois o que conhece do comportamento da sua mulher não condiz com o que vê. Não está “preso” aos costumes porque é um homem livre: está habituado a pensar graças ao domínio sobre si próprio. Pensa e age como quer, não como lhe apetece ou apetece aos outros. Respeita o silêncio de Maria, porque respeita também a sua liberdade. A revelação do mistério chega-lhe durante o sono: num sonho, aparece-lhe um Anjo que lhe explica o seu papel de pai adoptivo do próprio Deus. Aos olhos do mundo, seria uma imprudência acreditar num sonho. Mas José não é mundano. Possui a verdadeira prudência, é inteligente e tem Fé. A explicação do Anjo faz todo o sentido porque conhece a pureza da sua mulher. No exercício da sua liberdade, escolhe dizer sim e levar Maria para sua casa.

A partir desse momento, terá de continuar a tomar decisões rápidas perante situações inesperadas, como o deslocar-se a Belém para se recensear com Maria já no final da sua gravidez, partir de noite para o Egipto, voltar para a sua pátria e decidir onde viver face aos governantes locais. Ir à procura de Jesus que ficou em Jerusalém. As suas decisões continuam a ser prudentes, pensadas, informadas e responsáveis. Um permanente SIM à execução da missão que lhe foi confiada: proteger e cuidar do Menino e Maria.

Aquele SIM foi pronunciado, melhor, foi vivido, até ao final. Ao chegar a hora da sua morte... Como seria a sua morte? Não sabemos nada sobre esse momento da vida de S. José, mas sabemos que morreu, como todos os homens. A falta de notícias na Bíblia, que nos fala do martírio de João Baptista, da morte de Lázaro e outras, leva-nos a pensar que S. José terá morrido naturalmente, de alguma doença, na sua casa, assistido por Jesus e Maria. Terá sofrido as dores e a debilidade própria dos moribundos, mas com a rijeza interior de um homem livre e o conforto de ter a companhia das pessoas que amou.
Isabel Vasco Costa
26 de Fevereiro de 2016




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