Difunde-se cada vez mais a chamada ideologia do género ou gender. Porém, nem todas as pessoas disso se apercebem e muitos desconhecem o seu alcance social e cultural, que já foi qualificado como uma verdadeira revolução antropológica.
Não se trata apenas de uma simples moda intelectual, mas representa um movimento cultural com reflexos na família, na esfera política e legislativa, no ensino, na comunicação social e na própria linguagem corrente, que contrasta frontalmente com todo o nosso património civilizacional já adquirido.
De acordo com a ideologia do género, ninguém nasce do sexo masculino ou feminino. Estes são estereótipos produzidos pelo consenso social. Cada indivíduo deve construir-se a si mesmo a partir do modo como vive a sexualidade. Dessa maneira, é inaceitável falar-se em homem ou mulher. Em última instância, a própria biologia é considerada por eles como uma tirana, que deve ser combatida, e é na família natural que, segundo os ideólogos de género, essa tirania se manifesta de forma plena. Portanto, a família deve ser destruída.
O conceito de género teve origem nas ciências exactas, na segunda metade do século XX, nos EUA, e foi desenvolvido pelo psiquiatra John Money. Numa fase inicial do seu estudo, este médico propôs que se usasse o conceito de género para a referência a aspectos culturais e psíquicos da pessoa e o conceito de sexo para as questões biológicas. Numa fase posterior, ao tentar determinar a relação entre o sexo biológico e o sexo psicológico, chegou à conclusão de que muito pouco ou quase nada da realidade psicológica estaria associada à realidade biológica, pelo que o conceito de género também se deveria passar a aplicar à realidade biológica. Esta conclusão, apesar de ser a base da ideologia do género, hipotética teoria, está hoje em dia cientificamente ultrapassada pelo facto de se comprovar que a identidade sexual está inscrita em cada uma das células do homem e que, portanto, não se pode separar a realidade biológica da realidade psicológica.
A sexualidade de cada um marca o seu modo de ser, sendo cada um ontologicamente masculino ou feminino, respectivamente, uma pessoa nasce com o sexo definido o qual constitui uma realidade que se reflecte em todos os seus actos.
É inquestionável que ninguém tem uma sexualidade neutra, ou nasce menino ou menina. Somos aquilo que somos e “brincar” com a identidade que nos pertence desde que existimos é, no mínimo “uma perigosa brincadeira de mau gosto”, que pode ter elevados danos no foro antropológico, com inevitáveis desequilíbrios físicos, psíquicos, familiares e sociais.
Poderemos então perguntar a que se deve esta sub-reptícia propaganda e imposição da ideologia do género se nada tem de biológico, coerente, nem tão pouco faz algum sentido em termos sociais, culturais, espirituais, antes pelo contrário, é um verdadeiro tsunami sexual contra toda e qual ordem humanamente estabelecida desde sempre.
A triste realidade é que existem fortes e poderosos interesses económicos com grande influência financeira que minam as escolhas políticas de algumas das principais potências do mundo, as quais se vão reflectindo em todas as sociedades, e o nosso país também não ficou imune, pelo que, aí temos a procura do consenso da aceitação da ideologia do género e consequente legislação, como se duma grande premência ou necessidade se tratasse.
Reconhecendo que é um tema perplexo, transcrevo algumas passagens que me parecem muito elucidativas, na esperança de que ajudem a ficar mais claro o que de per si, é uma complicada e tenebrosa engenharia social.
“A ideologia do género visava, na verdade, desconstruir a especificidade feminina e masculina inscrita na configuração antropológica do homem e da mulher, a sua identidade única, a natureza feminina ou masculina, qualquer dado antropológico e, em particular, o papel da mulher como mãe e esposa.
A distinção entre sexo e género opõe o corpo de uma pessoa á sua função social e à sua vocação. Quebra a unidade ontológica da pessoa, que se vê, digamos, divorciada de si própria. O corpo da mulher e a sua disposição para a maternidade tornam-se um inimigo a combater, uma realidade a negar. A maternidade torna-se um `estereótipo´ a desconstruir. A mulher revolta-se contra a sua vocação específica. Denuncia o seu papel `reprodutivo´ como uma injustiça social, impeditiva de se tornar igual ao homem em termos de funções sociais. Ela entende a maternidade apenas sob o ponto de vista social, abafando assim o seu carácter intimamente pessoal. A nova ética estipula que o acesso das mulheres à saúde sexual e reprodutiva é condição para que elas possam `libertar-se´ dos seus determinismos biológicos.” (…)
Esta assexualização do indivíduo está ligada ao crescimento do individualismo, ela desconstrói a configuração da pessoa humana como pai ou mãe, esposo ou esposa, filho ou filha, irmão ou irmã, - dimensões antropológicas fundamentais que reflectem a própria estrutura do amor. Uma mulher que recusa ser mulher, mãe, esposa e irmã não pode ser complementar ao homem: nada poderia ser mais contrário à ideologia do género do que falar de complementaridade entre homem e mulher. (…) Vale a pena frisar que depois de ter declarado a morte de Deus a partir do século XIX, a civilização ocidental vive agora a morte do homem e da mulher.”*
Agora que se aproximam o Dia da Mulher, o Dia do Pai e, um pouco mais à frente, o Dia da Mãe, talvez seja uma boa época para reflectirmos e tentarmos procurar perceber de onde vem tanta ideia brilhante e como são tão facilmente implementadas pelos governos de alguns países – facilitismo desmedido no divórcio, liberalização do aborto, educação sexual nas escolas, barrigas de aluguer, casamento gay, adopção de crianças por casais do mesmo sexo, eutanásia e, por fim, a ideologia do género.
*in: A Globalização da Revolução Cultural Ocidental, de Marguerite Peeters
Maria Susana Mexia
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