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sábado, 20 de fevereiro de 2016

Sínodo: maior envolvimento e escuta dos fiéis

Um simpósio da Secretaria do Sínodo reuniu diversos professores e especialistas em eclesiologia e direito canónico para discutir uma “revisão da normativa” sobre a assembleia de bispos

  Igreja e Religião


O papa Francisco falou de “uma saudável descentralização na Igreja” em seu discurso de 17 de Outubro de 2015, por ocasião do 50º aniversário da instituição do sínodo pelo papa Paulo VI.

A indicação foi recebida pelos cardeais e bispos e reformulada em um breve, mas intenso seminário que teve lugar em Roma de 6 a 9 Fevereiro e no qual surgiram várias propostas, todas voltadas a envolver, durante os processos sinodais, não só o papa e os bispos, mas também – e acima de tudo – os fiéis.

O encontro foi organizado pela Secretaria do Sínodo dos Bispos, chefiada pelo cardeal Baldisseri, cinco meses depois da sessão de Outubro e em vista da possivelmente próxima publicação da exortação apostólica do papa. Participaram professores da eclesiologia e direito canónico de universidades e faculdades eclesiásticas de todo o mundo. O tema dos três dias foi “Cinquenta anos da Apostolica Sollicitudo: o Sínodo dos Bispos a serviço de uma Igreja sinodal”.

E por falar em “Igreja sinodal”, todos os participantes do seminário traçaram novas linhas que permitam “maior escuta e envolvimento” do povo de Deus no sínodo, tanto na fase preparatória, prevendo de modo estável a consulta aos fiéis (como foi o caso com o questionário enviado às paróquias por ocasião do Sínodo Extraordinário de 2014), quanto oferecendo mais espaço para os ouvintes durante o desenvolvimento da assembleia, ainda que eles continuem sem direito a voto. Tal envolvimento continuaria na fase de “execução”, na qual os fiéis “traduziriam nas diversas situações sócio-culturais as decisões tomadas no nível central”.

O que se espera, em essência, é “uma revisão da normativa sobre o Sínodo dos Bispos” e das tarefas da secretaria geral do sínodo, “na qual se possa prospectar de certo modo o carácter permanente do organismo sinodal”. Neste sentido, os participantes do simpósio indicaram o exemplo das Igrejas católicas do Oriente, “para o desenvolvimento de um sínodo que passe de ‘evento’ a ‘processo’”.

“Durante os trabalhos, revelou-se a necessidade de enquadrar o Sínodo dos Bispos no marco mais amplo de uma eclesiologia sinodal”, diz um comunicado do Vaticano divulgado hoje. “Essa perspectiva leva a conceber a autoridade episcopal no sínodo como um serviço ao povo de Deus, de quem é reconhecida a dignidade sacerdotal fundada no baptismo”.

Continua o comunicado dizendo que houve reflexões sobre o discurso do papa Francisco a propósito da “sinodalidade como dimensão constitutiva da Igreja”, como convite “a superar a auto-referencialidade dos ministros ordenados, para voltar a conceber os bispos como aqueles que, de acordo com o ensinamento da Lumen Gentium, 23, representam singularmente a própria Igreja e e colegialmente a Igreja inteira, fazendo do colégio dos bispos a epifania da communio Ecclesiarum”.

Na prática, isto exige repensar os três momentos fundamentais em que se articula a actividade sinodal: “a preparação, a celebração e a execução”, considerados como “etapas sucessivas de um processo sinodal em que a assembleia geral é a fase culminante”.

Especificamente, na fase de celebração, algumas participações, diz a nota, “pediram maior escuta e envolvimento dos fiéis” que participam, “valorizando ainda mais a presença, nas assembleias sinodais, de especialistas e ouvintes, que, embora privados do direito de voto, podem desempenhar um papel significativo no processo de discernimento e de decisão, de acordo com a tradição sinodal mais antiga”.

Quanto à fase de execução, pediu-se “examinar de que modo o sínodo pode coordenar-se frutuosamente com as instâncias periféricas da sinodalidade eclesial, colaborando, em particular, com os sínodos das Igrejas orientais e com as conferências episcopais nacionais e instâncias continentais a fim de traduzir nas diversas situações sócio-culturais as decisões tomadas no nível central”.

O seminário abordou também “a questão da representação/representatividade do colégio dos bispos no sínodo e o valor dos documentos finais da assembleia sinodal”. Reflectiu-se ainda sobre “o valor sinodal do documento final do sínodo dos bispos, emitido da autoridade do papa”, e pediu-se “um proémio doutrinal que enraíze o sínodo estruturalmente no contexto de uma eclesiologia sinodal”.

Também foi feita uma reflexão “sobre a sinodalidade da Igreja particular”, a partir das paróquias e continuando com as chamadas “instâncias eclesiais intermediárias”, entre as quais se destacam as conferências episcopais, até os “organismos centrais da Igreja”, entre os quais deve ser incluída até a Cúria romana.

Os trabalhos do simpósio, sublinha o comunicado, “terminaram com o entendimento de que o discurso proferido pelo Santo Padre para o quinquagésimo aniversário do Sínodo dos Bispos é um dos textos programáticos e teologicamente mais desafiadores para a Igreja”, especialmente quando Francisco afirma: “Uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta, com a consciência de que escutar é mais que prestar ouvidos. É uma escuta recíproca, em que cada um tem algo a aprender. Povo fiel, colégio dos bispos, bispo de Roma: um à escuta dos outros e todos à escuta do Espírito Santo”.


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