Professor Bruno Dallapiccola explica as razões da ciência e da genética
O professor Bruno Dallapiccola é uma das mais altas autoridades
italianas no campo da genética. Leccionou em várias universidades
italianas; aquela em que dá aulas actualmente é La Sapienza de Roma. Foi
presidente da Sociedade Italiana de Genética Médica, da Federação
Italiana de Estudos de Doenças Hereditárias e da Sociedade Italiana de
Genética Humana.
Dallapiccola é o actual director científico do hospital pediátrico
Bambino Gesù, em Roma, além de membro da Comissão Nacional de Bioética e
do Conselho Superior de Saúde. Para abreviar, omitimos a menção aos
muitos postos de trabalho que ele já exerceu no passado e no presente,
os quais lhe atribuem grande prestígio e autoridade no campo da
genética.
ZENIT entrevistou-o.
***
ZENIT: Professor Dallapiccola, o senhor está entre os
primeiros que já assinaram o testemunho-apelo dirigido à União Europeia
para implementar a segunda fase da iniciativa “Um de nós” [projecto
popular que pede o reconhecimento da obviedade de que o ser humano é um
ser humano desde a sua concepção, ndr]. O seu convite é muito importante
para cientistas e médicos e, é claro, para todos nós, que lhe
perguntamos: a afirmação de que o concebido é um indivíduo vivo da
espécie humana desde a fecundação tem base científica ou depende de uma
visão religiosa?
Professor Dallapiccola: A declaração tem uma referência científica
precisa. Não há dúvida de que a fusão de dois gametas humanos dá origem a
um zigoto humano, que tem o potencial de se transformar em um embrião,
depois em um feto, depois em um recém-nascido, depois em um adulto.
Também não existe dúvida de que o projecto biológico é único e
irrepetível, dada a unicidade do genoma humano.
ZENIT: Todos os manuais de genética, biologia e medicina
modernos ensinam que, a partir da fecundação, começa um processo de
desenvolvimento que não tem saltos de qualidade e que é orientado
finalisticamente. Mas alguns argumentam que não haveria um ser humano
até o 14º dia depois da concepção. O que responder a essa ideia?
Professor Dallapiccola: O desenvolvimento a partir da concepção é um
processo contínuo. Sabemos que, nos primeiros 14 dias, o desenvolvimento
é essencialmente de tipo “proliferativo” e, depois, é de tipo
“diferenciativo”. O prazo de 14 dias reflecte estas duas fases. A
primeira delas coincide com o tempo dentro do qual podem se formar os gémeos monozigóticos (ou seja, a divisão da massa do embrião em duas ou,
raramente, mais partes, correspondentes a um número equivalente de gémeos idênticos em termos genómicos, mas não necessariamente no nível
funcional). Este projecto biológico humano é exactamente humano tanto
antes quanto depois do 14º dia.
ZENIT: O senhor foi presidente da Comissão Ciência e Vida,
vitoriosa no referendo promovido por aqueles que queriam destruir a Lei
40/04 sobre a procriação medicamente assistida. O senhor ainda considera
válidos os slogans que a Comissão Ciência e Vida utilizou naquele
confronto, “seres humanos” e “unidos pelo futuro do homem”? Continua
sendo verdade que o embrião deve ser considerado e protegido como um
sujeito e não como uma coisa cujo valor depende de opiniões?
Professor Dallapiccola: Os dez anos que nos separam daquele referendo
não afectaram a validade daqueles slogans. Em todo caso, tornaram
possível verificar algumas das afirmações que fizemos nossas naquela
campanha. Eu me lembro do que eu previa no tocante à destruição de
embriões para fins de pesquisa: antes que alguém consiga usar os
embriões humanos destinados à pesquisa com fins terapêuticos, outro
alguém vai conseguir reprogramar as células do adulto e usá-las com fins
semelhantes àqueles com que se usam hoje as células estaminais
embrionárias. Menos de dois anos depois, a previsão já tinha se tornado
realidade e o descobridor das células estaminais pluripotentes
induzidas, Shinya Yamanaka, ganhou com o Prémio Nobel.
ZENIT: “Um de nós”, em referência ao embrião humano, é uma declaração laica ou confessional?
Professor Dallapiccola: Eu a considero uma afirmação suficientemente
laica. Podemos dizer que ele é o menor de nós, um de nós em miniatura,
mas dotado de todas as nossas potencialidades.
ZENIT: A União Europeia não tem competência normativa em
matéria de aborto e de direito à vida. No entanto, ela sistematicamente
oferece ajudas financeiras a organizações internacionais que
propagandeiam e praticam o aborto. Diante da demanda de 2 milhões de
cidadãos europeus, a Comissão de Bruxelas argumentou que os
financiamentos se referem à prática de abortos legais e à salvaguarda da
saúde da mulher. O senhor acha que esta justificativa é aceitável?
Professor Dallapiccola: Eu acho que esta afirmação atribui ao
conceito de “saúde” um sentido excessivamente amplo e provavelmente não
de todo apropriado, ainda mais numa substancial proporção das mulheres
que recorrem ao aborto.
in
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