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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Francisco no avião: Donald Trump? Definitivamente não é um cristão…

Uma hora de entrevista do Pontífice com os 76 jornalistas voltando do México, sobre temas de aborto, contracepção, pedofilia, diálogo com ortodoxos, migrantes e crise europeia. Depois o anúncio: “Exortação pós-sinodal antes da Páscoa”. E sobre Donald Trump: “Não é um cristão”.

  Papa Francisco


Dos EUA de Donald Trump e a sua campanha anti-imigração, passando por Moscovo e a China e o desejo de uma possível visita àqueles lugares, por Creta e o Conselho Pan-ortodoxo, a “Ucrânia “ressentida” pelo seu abraço com Kirill, a Europa ainda um pouco “avó”, até, naturalmente, o México, país surpreendente e, no passado, sofredor.

Francisco responde todas as perguntas, menos uma: o que pediu à Nossa Senhora de Guadalupe durante os 20 minutos de oração no Santuário? Não posso dizer porque “as coisas que um filho fala para a mãe são sempre um pouco de segredo…”.

O Papa pediu para os católicos sempre votarem segundo a consciência. “Um parlamentar católico deve votar de acordo com a própria consciência bem formada”.

Aborto é um crime, um mal absoluto
Duríssima foi a condenação do Santo Padre contra o aborto, proposta actualmente como solução para as mulheres que, especialmente na América Latina, contraíram o Zika Vírus na gestação. Para o Papa o aborto não é um mal menor, mas um crime, é eliminar. É o que faz a máfia, é um crime, é um mal absoluto. Sobre o mal menor, ou seja, evitar a gravidez, falamos em termos de conflitos entre o quinto e o sexto mandamento”.

“O grande Paulo VI – recorda Francisco – em uma situação difícil na África, permitiu que as freiras usassem os contraceptivos para os casos de violência. Não se deve confundir o mal a ser evitado com a gestação e o aborto”. Também porque “o aborto não é um problema teológico, mas um problema humano. Não se deve confundir o mal de evitar a gravidez com o aborto”. Também porque “o aborto não é um problema teológico, mas um problema humano. É um problema médico: mata-se uma pessoa para salvar outra no melhor dos casos. É contra o juramento de Hipócrates que todos os médicos têm de fazer. É mal em si mesmo, mas não é um mal religioso, não. É humano. Em vez disso, evitar a gravidez não é um mal absoluto, em certos casos “.

Pedofilia e abusos: ode à coragem de Ratzinger
Um mal absoluto são, pelo contrário, a pedofilia e os abusos sexuais por parte do clero; problemática que o México viveu com o caso Marcial Maciel Degollado, culpado de tais crimes. Perguntado sobre o tema, o Papa Francisco remarca a linha dura: “Um bispo que troca um sacerdote de paróquia enquanto é investigado sobre um caso de pedofilia é um inconsciente e é melhor que se demita”, afirma; depois homenageia a “coragem do cardeal Ratzinger” e a sua luta vigorosa contra a pedofilia. Uma frase que provoca um forte aplauso de todos os jornalistas. “Se vocês se lembram, – continua – dez dias antes da morte de São João Paulo II, na via crucis da sexta-feira santa, Ratzinger disse que toda a Igreja precisava ser limpa da sua sujeira”. E também na missa pro elegendo Pontífice, a do começo do Conclave, Ratzinger “embora sabendo que era um candidato, porque não é estúpido, não importava de recuperar posições e disse a mesma coisa. Em outras palavras foi corajoso e ajudou muitos a abrir esta porta”.

Donald Trump? Definitivamente não é um cristão …
De Roma o olhar expande-se ao mundo, chegando aos Estados Unidos, de onde, nos últimos dias, chegaram as críticas do candidato republicano Donald Trump que acusava o Papa de “fazer política” bem como um “peão ​​do governo mexicano.” O mesmo Trump disse que quer construir um muro de 2500 km e deportar 11 milhões de imigrantes ilegais. A resposta do Pontífice é irónica e perspicaz: “Graças a Deus disse que sou político, porque Aristóteles define a pessoa humana como animal Politicus. Pelo menos sou uma pessoa humana… E que sou um peão? Talvez, não sei, deixo ao juízo de vocês, das pessoas, e depois, uma pessoa que só pensa em fazer muros, seja onde for, e não faz pontes, não é cristão. Isso não é o Evangelho. Votar não votar, não me intrometo. Só digo que este homem não é cristão se fala assim. É preciso ver se disse mesmo essas coisas e sobre isso deixo o benefício da dúvida…”.

Conselho Pan-ortodoxo: “Estarei presente em espírito, mas não irei por respeito”
Sobre os cristãos, entre os principais tópicos da entrevista, há os recentes laços com os russos ortodoxos depois da reunião do 12 de Fevereiro com o Patriarca Kirill. O Papa disse que não irá ao Concílio Pan-ortodoxo por respeito, mas “sei que eles querem convidar observadores católicos, e isso é uma bela ponte”.

Fiéis ucranianos “desapontados” com o encontro com Kirill
Os fieis ucranianos que se sentiram “traídos” pelo abraço entre Francisco e o patriarca de Moscovo por causa das “meias verdades” do documento assinado na Havana. “Um apoio indirecto da Santa Sé à agressão russa contra a Ucrânia”, como referido pelo arcebispo maior de Kiev, Sviatoslav Shevchuk, numa extensa entrevista no site oficial da Igreja Greco-Católica. “Quando li aquele artigo fiquei bastante preocupado”, admite Bergoglio. “Eu – acrescenta – conheço bem Sviatoslav, um bom homem; em Buenos Aires, trabalhamos juntos por 4 anos. Respeito-o, temos familiaridade, por isso pareceu-me um pouco estranho. No entanto, lembrei-me de algo que eu disse aqui também a vocês: para compreender uma notícia, uma declaração, é preciso olhar a hermenêutica de tudo”.

Guerra na Ucrânia: “que os acordos de Minsk sigam adiante e não se cancelem”
“Eu – continua o Papa – nomeei o povo ucraniano pedindo oração, proximidade, muitas vezes, tanto no ângelus quanto nas audiências da quarta-feira: quem começou, qual a solução… evidente que isso é um problema histórico, é um problema histórico, é um problema pessoal existencial daquele país”, por isso “se compreende” que tantos fieis tenham ligado e escrito para Shevchuk dizendo que estão profundamente desiludidos com Roma. “O documento – afirma o Santo Padre – é opinável sobre a questão da Ucrânia, mas lá, se diz que se deve acabar a guerra, que se devem fazer acordos. Também eu pessoalmente disse que os acordos de Minsk vão adiante e não se cancelem. A Igreja de Roma e o Papa sempre procuraram a paz recebendo ambos os presidentes”.

Próximas viagens. “China? Com prazer. Eu gostaria de me encontrar com o Imã no Cairo”
Sobre uma possível viagem a Moscovo o Papa evita, enquanto reafirma o forte desejo de ir à China, e também ao Cairo para encontrar o grande Imam, depois da recente retomada das relações com Al-Ahazar. Por agora, no entanto, no coração do Papa apenas a memória da viagem ao México, cujo povo – diz ele – “é de uma riqueza tal, um povo que surpreende, tem uma cultura milenária… um povo de uma grande fé que também sofreu perseguições religiosas, martírios, agora canonizarei dois…”.

Europa: “Precisamos de uma refundação da União Europeia”
Ainda sobre o tema da Europa, o Papa diz que leu em um jornal uma expressão que o tocou: “re-fundação da União Europeia”. “Eu pensei nos os grandes pais… Mas hoje onde está um Schuman, um Adenauer, um desses grandes pais que, depois da guerra fundaram a União Europeia? Gosto desta ideia da re-fundação da União Europeia, talvez possa ser feito porque a Europa, não diria que é única, mas tem uma força, uma história, uma cultura que não se pode desperdiçar, e devemos fazer de tudo para que tenha a força e também a inspiração de seguir em frente”.

Sínodo: exortação antes da Páscoa. Divorciados novamente casados: a comunhão não significa integração
Na entrevista não falta uma referência à questão espinhosa, central para ambos os sínodos, sobre os sacramentos aos divorciados novamente casados. A pergunta da jornalista é provocativa: “A Igreja misericordiosa tem mais facilidade a perdoar um assassino do que um divorciado?” Francisco, apreciando a pergunta “plástica” anuncia que o argumento é discutido em detalhe no documento pós-sinodal “que sairá, talvez, antes da Páscoa”. Depois reitera que “a pastoral das famílias feridas” é uma das mais fortes “preocupações” da Igreja, como é também uma adequada preparação ao matrimónio. “Pense que para tornar-se sacerdote existem 8 anos de estudo, de preparação e depois, depois de um certo tempo, se não se consegue, pede-se a dispensa, vai embora e está tudo bem. Pelo contrário, para fazer um sacramento que é para toda a vida servem 3 ou 4 palestras…”.

Os “matrimónios reparadores muitas vezes são nulos”, acrescenta o Pontífice, recordando que em Buenos Aires “como bispo proibi aos sacerdotes de fazer isso. Que nasça a criança e que permaneçam noivos. Quando se sentem preparados para casar-se por toda a vida que sigam adiante”. Sobre o acesso aos sacramentos para os divorciados recasados – encontrados no encontro em Tuxtla Gutierrez – o Papa especifica que “integrar estas famílias na igreja não significa receber a comunhão”. Eu – explica – conheço católicos recasados que vão à Igreja três ou quatro vezes ao ano. ‘Sim, mas quero comungar’, como se a comunhão fosse uma honra. Um trabalho de integração, todas portas são abertas, mas não se pode dizer que podem fazer a comunhão, isso seria uma ferida nos matrimónios porque não lhe fará bem, ao casal, aquela via de integração”.

Cartas de João Paulo II: “O Papa precisa do pensamento das mulheres”
Perguntaram ao Papa Francisco sobre essa recente notícia dada pela BBC que publicou as cartas privadas de João Paulo II com a filósofa americana de origem polaca, Anna-Teresa Tymieniecka. Uma relação de amizade, ao longo de 30 anos, da qual todos estavam cientes. Também Bergoglio que afirma saber desde que estava em Buenos Aires: “Era algo que se sabia, também os livros dela são conhecidos”. De acordo com o Papa, “um homem que não sabe ter uma relação de amizade com uma mulher – não falo dos misóginos que são doentes – é um homem a quem falta algo. Eu, por experiência, também peço um conselho, peço a um colaborador, a um amigo, mas também gosto de sentir o parecer de uma mulher, porque te dão tanta riqueza, olham as coisas de outro ponto de vista”. Portanto, “uma amizade com uma mulher não é pecado. Uma relação amorosa com uma mulher que não seja a tua esposa é um pecado. Mas, o Papa é um homem. O Papa precisa do pensamento das mulheres. Também o Papa tem um coração que pode ter uma amizade sadia, santa, com uma mulher. Existem tantos Santos amigos: Francisco e Clara, Teresa e João da Cruz. Não entendemos ainda o bem que uma mulher pode fazer na vida de um sacerdote e da Igreja no sentido do conselho, da ajuda e de uma sadia amizade”.

“Em Guadalupe, orei pela Igreja e pela paz”
A última pergunta é pessoal: “O que pediu para Nossa Senhora de Guadalupe?” E “quando sonha, sonha em italiano ou em espanhol?”. “Sonho em esperanto”, diz simpaticamente o Papa Francisco, explicando que pediu à Nossa Senhora, padroeira do México, a paz no mundo “e também tantas coisas. A pobrezinha deve ter ficado cheia… Pedi perdão, pedi que a Igreja cresça sadia, rezei pelo povo mexicano e pedi para que os sacerdotes sejam verdadeiros sacerdotes, as freiras verdadeiras freiras, e os bispos verdadeiros bispos, como o Senhor quer”.


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