Duas tábuas.
E era um berço.
Tudo escuro.
E alumiava.
Estaria Deus lá dentro?
Fomos ver…
E lá estava.
E era um berço.
Tudo escuro.
E alumiava.
Estaria Deus lá dentro?
Fomos ver…
E lá estava.
(O presépio, de Pedro Homem de Melo)
E cá está o nosso Deus feito criança!!! Connosco, comigo!… Uma maravilha tão incomensurável que há mais de dois mil anos não pára de alegrar o mundo, as famílias, as crianças e os que como elas se fazem diante deste Deus Pai, teu e meu, nosso mesmo!
Não dispõe de voz sequer para nos dizer que nos ama! E no entanto, já começou a Redenção. (In Meditação de Natal, de Hugo de Azevedo).
Amor com amor se paga!
E então, como vou eu corresponder a tanto afecto? Como vou eu receber o Rei dos reis e Senhor de senhores, o próprio Filho de Deus, que se me faz tão acessível e carinhoso, como qualquer bebé? Com Maria e José, já se vê: quem mais seguro e infalível do que os Seus pais na Terra? Talvez se eu procurar agir assim, com as suas obras de serviço, por puro amor… Também com o silêncio necessário à vida interior, tão essencial ao Amor…
O silêncio leva a estar atento aos outros e reforça a fraternidade. Como recorda o Papa Francisco (Mensagem, 1.1.14), o Evangelho pede “um exercício perene de empatia, de escuta do sofrimento e da esperança do outro”. A ternura de Deus torna o nosso coração sensível, próximo. Abre-nos aos outros e descobrimos “pessoas que precisam de ajuda, de caridade e de carinho” (S. Josemaria, Temas actuais do cristianismo, 96).
Num tempo em que parece que temos de encher todo o nosso dia de iniciativas, de actividades, de ruído, é bom fazer silêncio, fora e dentro de nós, para podermos escutar a voz de Deus e a do próximo.
Guillaume Derville, no seu artigo “Um terno silêncio de Natal” diz-nos que cada Advento (iniciado este ano no Domingo, 30 de Novembro, dia em que, todos os anos, começa também a tradicional Novena da Imaculada Conceição) evoca a alegre espera da segunda vinda do Senhor, a Sua vinda gloriosa, como o Juiz universal que é. Quando se abre o sétimo selo do Apocalipse (8, 1), faz-se um silêncio no Céu que nos prepara para o mistério central da nossa fé – o da Santíssima Trindade – presente também no Natal: o Pai que nos envia o Filho, concebido pelo Espírito Santo no seio da sempre Virgem Maria.
A ternura de Deus manifesta-se nos sinais… Aprendamos a ler, segundo uma bela expressão dos primeiros Padres da Igreja, essas «maneiras de ser» de Deus, que se nos revelam em Jesus Cristo, na leitura pausada dos 4 Evangelhos. Acompanhemos o silêncio de Maria e de José…
“Caía a tarde, com um silêncio denso... Sentiste muito viva a presença de Deus... E, com essa realidade, que paz!” [Sulco 857].
O verdadeiro Cristianismo é a religião da Alegria - como tão claramente ouvimos e vemos no Papa (cf A Alegria do Evangelho) -, porque temos sempre a possibilidade do “arrependimento, que é condição de progresso”, segundo o psicólogo austríaco Viktor Frankl. Podemos assumir o que fizemos mal e descobrir o bem que deixámos de fazer, por preguiça, orgulho, egoísmo, etc, etc. Podemos enfim confessar-nos de todo esse mal em nós, com a humildade e a Verdade, que Ele, o Mestre é e nos pede. A confissão é o Sacramento da Alegria e do perdão pessoal de Deus. Confessemos também as omissões que vemos na nossa vida, já que, ‘para que o mal triunfe, basta que o bem se cale’…
A boa nova para todos é, portanto, que podemos sempre recomeçar uma vida melhor, num ponto concreto, ainda antes do ano novo, agora mesmo, que é já tempo de amar mais e partir para … junto do nosso Deus feito Menino, talvez no presépio da nossa casa.
Maria de Albuquerque (Professora/Tradutora)
Lisboa, Novembro de 2014
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