Durante sua homilia em Santa Marta, o Papa Francisco citou a oração de Jó como um acto de "verdade diante de Deus"
Roma, 30 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Luca Marcolivio
Mais de uma vez, no decurso da homilia matutina, o Papa
Francisco usou o termo "deusa lamentação", para advertir sobre a atitude
de muitos cristãos pouco dispostos a dar graças ao Senhor e que tendem a
ver o ‘copo meio vazio’ da própria vida.
Durante a missa em Santa Marta, o Papa falou das "lamentações
teatrais", fazendo alusão aos que não estão cientes do que realmente
sofrem.
Um bom exemplo é o sofrimento de Jó, protagonista da primeira leitura
de hoje (Gb 3,1-3.11-17.20-23), um homem que "foi posto à prova, perdeu
toda a sua família, perdeu todos os seus bens, perdeu sua saúde e seu
corpo inteiro tornou-se uma chaga, uma chaga nojenta". Por isso, Jó
chega a amaldiçoar a própria vida.
Semelhante é o caso de Jeremias, que usa palavras muito parecidas:
"Maldito o dia em que nasci!" (Jr 20,14-18). Surge espontaneamente a
dúvida se tal declaração é uma "blasfémia", disse o Santo Padre. E
quando Jesus crucificado diz: "Pai, por que me abandonaste?". Na
verdade, explicou o Papa, é uma "oração", assim como a de Jó.
"Muitas vezes - disse o Papa - eu ouço pessoas que estão passando por
situações difíceis, dolorosas, em que perderam tudo, se sentem sós e
abandonadas... vêm reclamar e me perguntam: por que? E se rebelam contra
Deus. Eu então lhes digo: “Continue a rezar assim, porque isto é uma
oração. Quando Jesus disse a seu Pai ‘Por que me abandonou?’ ele estava
rezando!”
Portanto, a oração de Jó significa “se tornar verdade diante de Deus”
e ele "não podia rezar de outro modo". “Reza-se com a verdade –
prosseguiu- a verdadeira oração vem do coração, do momento que vivemos; é
a oração dos momentos da escuridão, quando não vemos esperanças, não
vemos o horizonte”.
Hoje em dia, observou o Papa, muita gente está "na situação de Jó" e
"não entende o que lhe acontece". Há muitos "irmãos e irmãs que não têm
esperança", como, por exemplo, os cristãos que por serem cristãos “são
expulsos de suas casas e ficam sem nada”, disse o Papa recordando o
drama do Oriente Médio.
Eles podem pensar: “Senhor, eu acreditei em você. Por que? Crer foi uma maldição, Senhor?”.
O pensamento do Papa passou também pelos "anciãos deixados de lado",
pelos "doentes", pelas “pessoas solitárias, nos hospitais". Pessoas por
quem a “Igreja reza” e “assume esta dor".
No entanto, muitos que não sofrem de "doenças", "fome" ou
"necessidades importantes", quando sentem um pouco "de escuridão na
alma", acreditam ser “mártires" e param de rezar.
Há aqueles que dizem: "Estou com raiva de Deus, eu não vou à missa!".
E fá-lo "por qualquer coisinha”. Santa Teresinha do Menino Jesus, nos
últimos meses de sua vida "tentava pensar no céu, sentia dentro de si,
como se uma voz lhe dissesse: Não seja boba, não invente coisas; sabe o
que te espera? Nada!".
Diante desta terrível tentação, Teresa "rezava e pedia força para
seguir em frente, na escuridão. Isso se chama “entrar na paciência ",
explicou o Pontífice.
"Nossa vida é muito fácil - continuou ele - nossas lamentações são
lamentações teatrais. Diante das lamentações de tanta gente, de irmãos e
irmãs que estão na escuridão, que quase perderam a memória, a esperança
- que vivem aquele 'exílio de si mesmo', estão exilados também de si
próprios – nada!”.
E Jesus percorreu a mesma estrada: a noite no Monte das Oliveiras até a última palavra na Cruz: 'Pai, porque me abandonaste?'".
Na conclusão de sua homilia, o Papa Francisco recomendou duas coisas.
Primeiro, preparar o coração para quando vier a escuridão"; e "rezar,
como reza a Igreja, com a Igreja, por tantos irmãos e irmãs que sofrem o
exílio de si próprios, na escuridão e no sofrimento, sem uma esperança
palpável", por todos estes 'Jesus sofredores', que existem no mundo.
(30 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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