Reflexão sobre a entrevista do Papa Francisco concedida à "La Civiltà Cattolica"
Rio de Janeiro, 24 de Setembro de 2013
No dia 19 de Setembro, 16 revistas jesuítas no mundo todo
publicaram uma nova e extensa entrevista com o Santo Padre Francisco,
feita pelo Pe. Antonio Spadaro, SJ, director da revista La Civiltà
Cattolica ─ uma publicação jesuíta que é revisada pela Secretaria de
Estado do Vaticano – que foi publicada em espanhol e foi apresentada
pela revista “Razón y Fe”.
O Santo Padre Francisco nos fala dele, de porque se tornou Jesuíta e
do que significa para um jesuíta ser Papa. Na entrevista nos fala
também da vida na Companhia de Jesus, sua espiritualidade e missão, e de
“como a Companhia deve ter sempre diante de si a procura da glória de
Deus sempre maior”. Com muito carinho nos fala do Povo Santo de Deus e
diz que “a imagem da Igreja de que gosto é a do povo santo e fiel de
Deus”. Também aborda temas da sua experiência de governo, da importância
de “sentir com a Igreja”, da importância da mulher, da doutrina moral
da Igreja e das realidades mais interiores e profundas do ser humano. O
Papa compartilha como reza e quanto é importante ter esperança na vida.
Infelizmente o conteúdo desta entrevista tem sido manipulado por
diferentes meios de comunicação, apresentando o Santo Padre, como alguém
que está contra da luta pela vida, e pró-família, concretamente em
temas como o aborto e a homossexualidade e o papel da mulher na Igreja.
Os comentários do Santo Padre aparecem especialmente dentro do
parágrafo: “Igreja, hospital de campanha?” Onde o Santo Padre, longe de
justificar estas ideologias contra a vida e a família, tenta nos alentar
a entender quão importante é hoje “curar as feridas”, aproximando-nos
das pessoas com verdadeira misericórdia.
Diante da pergunta de como devem ser as pastorais com os homossexuais
e da segunda união, o Papa Francisco diz que “temos que anunciar o
Evangelho em todas as partes, pregando a Boa Notícia do Reino e curando,
também com a nossa pregação, todo tipo de ferida e qualquer doença. Em
Buenos Aires, disse, recebeu cartas de pessoas homossexuais que são
verdadeiros feridos sociais, porque me dizem que sentem que a Igreja
sempre os condenou. Mas a Igreja não pode fazer isso. Durante o voo em
que retornava do Rio, disse que se uma pessoa homossexual tem boa
vontade e procura Deus, quem sou eu para julgá-la? Ao dizer isto eu
disse o que diz o Catecismo. A religião tem direito de expressar suas
próprias opiniões a serviço das pessoas, mas Deus na criação nos fez
livres, não é possível uma ingerência espiritual na vida pessoal”. Aqui
quando o Papa se refere à vida pessoal, se refere a todo ser humano e
seu interior, e em nenhum momento fala de pessoas homossexuais ou
lésbicas como diz a media de forma tendenciosa.
O Papa lembrou também que “uma vez, uma pessoa, para me provocar,
perguntou- me se eu aprovava a homossexualidade. Eu então respondi para
ela com outra pergunta: ‘Diga-me se Deus, quando olha para uma pessoa
homossexual, aprova sua existência com afecto ou a rejeita e a condena?’
Há que se ter sempre em consideração a pessoa. Aqui entramos no
Mistério do ser humano. Nesta vida Deus acompanha as pessoas e é nosso
dever acompanhá-las a partir de sua condição. Há que se acompanhar com
misericórdia. Quando acontece assim, o Espírito Santo inspira ao
sacerdote as palavras oportunas”.
O Santo Padre também falou “que esta é a grandeza da confissão, que
avalia cada caso, onde se pode discernir o que é o melhor para uma
pessoa que busca a Deus e sua graça. O confessionário não é um lugar de
tortura, e sim aquele lugar da misericórdia em que o Senhor nos conduz
para fazer o melhor que possamos. Estou pensando na situação de uma
mulher que tem o peso do fracasso matrimonial em que aconteceu também um
aborto. Depois disso a mulher casou-se novamente e agora vive em paz
com cinco filhos. O aborto pesa-lhe enormemente e ela está sinceramente
arrependida. Gostaria de retomar a vida cristã. O que faz o confessor?”
Isto para nada é justificar o aborto, ir contra o matrimónio ou
favorecer o divorcio.
O Papa Francisco afirma também que “não podemos seguir insistindo só
em questões referentes ao aborto, ao matrimónio homossexual e ao uso de
anticoncepcionais. É impossível. Eu já falei muito destas coisas e
recebi reclamações, mais ao falar destas coisas tem-se que se falar no
seu contexto. Além do mais já conhecemos a opinião da Igreja e Eu sou
filho da Igreja, e não é necessário estar falando destas coisas sem
parar... O anúncio missionário concentra-se no essencial, no que é
necessário, que por outra parte é o que mais apaixona e atrai e faz
arder o coração... a proposta evangélica deve ser mais simples, mais
profunda e irradiante. Só desta proposta depois surgem as consequências
morais”. Os meios de comunicação têm informado de forma ambígua e mal
intencionada que o Papa critica uma obsessão da Igreja nestes temas,
mais o que o Papa Francisco tem feito é simplesmente com abertura,
simplicidade e de forma directa e humilde deixar clara a doutrina da
Igreja, que brota da pregação do Amor e da Misericórdia de Cristo e que
devem se expressar numa autêntica pastoral para nossa época.
Todo este tema do Aborto se esclarece ainda mais com a firme postura
do Santo Padre frente a cultura do descartável, que busca a eliminação
dos seres humanos mais fracos. No discurso que fez aos ginecologistas
católicos participantes do encontro promovido pela Federação
Internacional das Associações de Médicos Católicos, pronunciado em 20 de
Setembro deste ano, o Papa disse que “nossa resposta a esta mentalidade
é um SIM decidido e sem vacilações à vida, que sempre é sagrada é
inviolável”. Este discurso tem ainda muita importância, diante da
manipulação que alguns meios de comunicação seculares estão fazendo da
entrevista do Santo Padre.
O Papa Francisco toca outros temas apaixonantes em sua entrevista.
Para iluminar mais a nossa formação e não deixar que a media secular nos
manipule, acho adequado abordar o tema da mulher. Longe de toda
ideologização e com muita clareza no tema sobre a mulher e sua função e
missão na Igreja, nos diz o Papa que “é necessário ampliar os espaços de
uma presença feminina mais incisiva na Igreja... As mulheres têm
colocado perguntas profundas que devem ser tratadas. A Igreja não pode
ser ela própria sem a mulher e o seu papel. A mulher, para Igreja, é
imprescindível. Maria, uma mulher, é mais importante que os bispos. Digo
isto, porque não se deve confundir a função com a dignidade. É
necessário aprofundar melhor a figura da mulher na Igreja. É preciso
trabalhar mais para fazer uma teologia profunda da mulher. Só realizando
esta etapa se poderá reflectir melhor sobre a função da mulher no
interior da Igreja. O génio feminino é necessário nos lugares em que se
tomam as decisões importantes. O desafio hoje é exactamente esse: reflectir sobre o lugar específico da mulher”.
É o Santo Padre quem nos desafia e nos diz na entrevista: “Sonho com
uma Igreja Mãe e Pastora... Em vez de ser apenas uma Igreja que acolhe e
recebe, tendo as portas abertas, procuramos mesmo ser uma Igreja que
encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao
encontro de quem não a frequenta; de quem a abandonou ou lhe é
indiferente... Mas é necessário audácia, coragem”.
Façamos a nossa parte e, como o Papa Francisco diz, trabalhemos por
“procurar e encontrar Deus em todas as coisas... Devemos caminhar
juntos: o povo, os Bispos e o Papa.
in
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