O Pontífice encontrou-se com os trabalhadores, com os pobres, com o mundo da cultura e com os jovens. Celebrou a Santa Missa e rezou o Angelus
Roma, 23 de Setembro de 2013
Neste domingo, 22 de Setembro, o Papa Francisco visitou a
Diocese de Cagliari na ilha italiana da Sardenha, uma região
eclesiástica com 622 paróquias e 1048 sacerdotes ao seu serviço entre
clero secular e regular. Ainda prestam aí serviço 93 diáconos
permanentes. Cagliari é uma diocese que remonta aos inícios do
cristianismo tendo começado a receber a mensagem evangélica nos inícios
do século III quando, durante as perseguições aos cristãos, estes eram
enviados para o exílio naquela ilha.
O Santo Padre comunicou sua intenção de ir a Cagliari na Audiência
Geral do dia 15 de Maio em que explicou a relação de fraternidade entre
aquele Santuário de Bonária e a sua cidade de Buenos Aires que deste
tomou o nome ao momento da fundação da cidade. Antes do Papa Francisco
outros três Pontífices visitaram a Sardenha e o Santuário de Bonária:
Paulo VI em 1970, João Paulo II em 1985 e Bento XVI em 2008.
Na manhã do dia 22 de Setembro o Papa Francisco chegou ao aeroporto
“Mario Mameli” por volta das 8.15h e encontrou-se primeiramente com os
trabalhadores que o aguardavam no Largo Carlo Felice de Cagliari.
Encontro com os trabalhadores
Aos desempregados, precários, trabalhadores que vivem com o
seguro-desemprego, uma das categorias que mais sofre com a crise
europeia, o Papa encorajou: “não deixem roubar a esperança!”
“É uma realidade que conheço bem pela experiência que tive na
Argentina”, disse o Papa, que narrou a migração de seu pai, que foi para
a Argentina com a ilusão de “fazer a América” e sofreu a terrível crise
dos anos 30. Conheço isso muito bem! Ma devo dizer-lhes: “Coragem!”.
Para que não seja uma palavra de circunstância, Francisco pediu
solidariedade e inteligência para enfrentar este “desafio histórico”.
“A falta de emprego é um sofrimento que leva – desculpem-se se sou um
pouco forte, mas é a verdade – a sentir-se sem dignidade! Onde não há
trabalho, não há dignidade! E este não é um problema só da Sardenha, só
da Itália ou de alguns países da Europa, é a consequência de uma escolha
mundial, de um sistema económico que leva a esta tragédia; um sistema económico que tem no centro um ídolo, que se chama dinheiro.”
Deus, explicou o Pontífice, quis que no centro no mundo não estivesse
um ídolo, mas o homem e a mulher, que levam avante, com o próprio
trabalho, o mundo. “Trabalho significa dignidade, trabalho significa
levar o pão para casa, trabalho significa amar!”
Homilia
Após seu encontro com os trabalhadores, o Papa Francisco celebrou a
Santa Missa na praça diante do Santuário de Nossa Senhora de Bonária.
Em sua homilia o Papa repetiu varias vezes: “Maria, doe-nos o seu
olhar”. Diante de milhares de fiéis, o Pontífice notou que em Cagliari,
como em toda a Sardenha, não faltam dificuldades, problemas e
preocupações: de modo especial, o Papa citou o desemprego e a situação
de precariedade de muitos trabalhadores e, portanto, a incerteza do
futuro.
Diante dessas situações de pobreza que a ilha enfrenta, o Pontífice
garantiu sua solidariedade e sua oração, ao mesmo tempo em que pediu o
empenho das instituições – inclusive da Igreja – para garantir às
pessoas e às famílias os direitos fundamentais.
“Vim em meio a vocês para colocar-me aos pés de Nossa Senhora que nos
doa o seu Filho”, assim como fizeram e fazem gerações de sardos, muitos
dos quais foram obrigados a emigrar em busca de um trabalho e de um
futuro para si e para sua família.
“Vim em meio a vocês, ou melhor, viemos todos juntos para encontrar o
olhar de Maria, porque nele está reflectido o olhar do Pai, que a fez
Mãe de Deus, e o olhar do Filho da cruz, que a fez nossa Mãe. E com
aquele olhar hoje Maria nos olha. Precisamos do seu olhar de ternura, do
seu olhar materno que nos conhece melhor do que ninguém, do seu olhar
repleto de compaixão e cuidado. Maria, doe-nos o seu olhar”, repetiu
várias vezes o Santo Padre, porque este olhar nos leva a Deus, que
jamais nos abandona.
No final da comunhão, Francisco pronunciou o ato de consagração
diante da imagem de Nossa Senhora, depositando uma coroa de flores.
E antes da oração do Angelus, agradeceu a todos os que colaboraram
para organizar esta visita, confiando-os à protecção de Nossa Senhora de
Bonária.
Angelus
No final da Eucaristia o Papa Francisco recitou a tradicional oração
do Angelus aproveitando a ocasião para agradecer o acolhimento de todos,
nomeadamente dos bispos, sacerdotes e religiosos. Na sua mensagem, para
este momento mariano, o Santo Padre confiou todos a Nossa Senhora de
Bonária e teve presente todos os outros santuários marianos da Sardenha:
“Sobretudo quero confiar-vos a Maria, Nossa Senhora de Bonária. Mas,
neste momento penso em todos os numerosos santuários marianos da
Sardenha: a vossa terra tem uma ligação forte com Maria, uma ligação que
exprimis na vossa devoção e na vossa cultura. Sede sempre verdadeiros
filhos de Maria e da Igreja e demonstrai-o com a vossa vida seguindo o
exemplo dos santos!”
O Papa Francisco terminou a sua mensagem no Angelus deste domingo
recordando Tomé Acerbis de Olera, frade capuchino proclamado ontem Beato
em Bergamo na Itália e que viveu entre os séculos XVI e XVII e que deu
testemunho da humildade e da caridade de Jesus Cristo.
Após a celebração eucarística o Santo Padre almoçou com os bispos da Sardenha no Seminário Pontifício Regional de Cagliari.
Encontro com os pobres e com os reclusos
Após o almoço o Papa Francisco esteve com cerca de 120 pobres e 37 reclusos na Catedral de Cagliari. O Santo Padre notou a fadiga e a
esperança nos seus rostos. “Todos nós temos misérias e fragilidades.
Ninguém é melhor do que outro. Todos somos iguais diante de Deus. E
olhando Jesus, vemos que ele escolheu o caminho da humildade e do
serviço” – considerou o Papa.
O Santo Padre advertiu ainda para o facto da palavra solidariedade
correr o risco de desaparecer dos dicionários. Mas este é o único
caminho:
“A caridade não é assistencialismo, nem sequer um assistencialismo
para tranquilizar as consciências. Não, aquilo não é amor: aquilo é
negócio, eh? O amor é gratuito. A caridade, o amor é uma escolha de
vida, é um modo de ser, de viver; é o caminho da humildade e da
solidariedade. Não há outro caminho para este amor.”
Encontro com o mundo da cultura
Na Aula Magna da Faculdade de Teologia da Sardenha o Papa destacou
que “toda crise, mesmo a actual, é uma passagem, um trabalho de parto que
traz cansaço, dificuldades, sofrimento mas que traz em si o horizonte
da vida e da renovação, que traz a força da esperança”.
O Santo Padre fez uma releitura da experiência dos discípulos de Emaús
(cf. Lc 24, 13-35), que, após a morte de Jesus, caminham tristes
afastando-se de Jerusalém e destacou três palavras-chave: desilusão,
resignação e esperança.
Ele explicou ainda que “a crise pode tornar-se momento de purificação e
revisão dos nossos modelos económico-sociais e de uma certa concepção
do progresso que tem alimentado ilusões, para recuperar o humano em
todas as suas dimensões” .
“O momento histórico que vivemos nos impele a buscar e encontrar
maneiras de esperança, que irá abrir novos horizontes para a nossa
sociedade”- afirmou.
Francisco falou ainda que a Universidade deve ser “o local do
discernimento, em que se elabore a cultura da proximidade e de formação à
solidariedade”.
Encontro com os jovens
Na Praça Carlo Felici de Cagliari o Santo Padre recordou a Jornada
Mundial da Juventude do Rio de Janeiro dizendo: “Talvez alguns de vós
estavam lá, mas muitos certamente acompanharam na televisão e na
internet. Foi uma experiência muito bela, uma festa da fé e da
fraternidade que nos encheu de alegria. A mesma alegria que hoje
sentimos”.
Num clima de festa e sempre bem humorado, o Papa Francisco convocou
os jovens para a missão dizendo-lhes que abrirmos-nos a Deus, abre-nos
aos outros. "Também os jovens são chamados a se tornarem ‘pescador de
homens’. “Tenham a coragem de ir contra a corrente, sem se deixarem
levar pelas correntes. Encontrar Jesus Cristo, experimentar o seu amor e
a sua misericórdia é a maior aventura e a mais bela, que pode acontecer
a uma pessoa!” – concluiu o Papa Francisco.
O Papa Francisco regressou a Roma pelas 19.30h.
in
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