Glossário de Bioética: avaliação do número e do tipo dos cromossomas de um embrião ou de um feto, que pode ser directa ou indirecta e que não é eticamente neutra
Roma, 19 de Setembro de 2013
Diagnóstico genético pré-natal: é a avaliação do número e do
tipo dos cromossomas de um embrião ou de um feto, que pode ser "directa"
(com amostras de tecidos fetais) ou "indirecta" (hormónios maternos,
exame ecográfico) e que não é eticamente neutra, posto que o ato de
realizá-lo já abre a possibilidade de se fazerem escolhas quanto à vida
ou à morte do feto.
O realismo
O diagnóstico genético pré-natal é a avaliação do estado cromossómica
do feto, com o objectivo de descobrir possíveis doenças que actualmente
não têm cura.
Pode ser executado directamente, através da análise de células fetais,
ou indirectamente, com ecografias direccionadas a procurar sinais de
anomalias genéticas ou mediante a mensuração dos níveis de hormónio no
sangue da mãe.
Não se trata do simples exame pré-natal normal, que tem intenções
curativas. Estamos tratando, aqui, de dois sujeitos: o filho e a mãe. O
feto que recebe o diagnóstico genético é, de fato, um ser vivo, o que
nos coloca diante de um paradoxo: é realizado o diagnóstico do sujeito
A, sem que ele tenha pedido, em interesse do sujeito B.
E por estarem em questão doenças que não podem ser tratadas, há quem
considere que esse tipo de diagnóstico é uma intromissão ilícita na
privacidade genética do indivíduo. O risco de morte fetal como "efeito
colateral" é relevante: de 5 a 10 por cada 1.000.
Por mais que a mulher grávida esteja ansiosa para saber qual é a
condição genética do feto e assim tentar reduzir essa ansiedade, o
diagnóstico pode ser o resultado de um desejo de controle sobre a
criança, que vai muito além do período pré-natal e que pode acabar
levando à interrupção da gravidez em caso de constatação de anomalia
genética.
A razão
Há um pré-juízo em favor da mulher ou da criança? O desejo de justiça
nos leva a considerar tanto os interesses da mulher quanto os da
criança: ambos devem ser considerados com cuidado e sem preconceitos.
O desejo de beleza pode nos levar a considerar erroneamente a beleza
como apenas um factor estético e, erroneamente, como a ausência de
anomalias: muitos nos mostram que a diversidade e a diferença são uma
riqueza, mesmo quando exigem esforço e cuidados. É compreensível a
ansiedade das mulheres numa sociedade que coloca a beleza estética como
princípio supremo, que não presta ajudas sociais nem económicas aos
portadores de deficiências, que pressiona culturalmente ao diagnóstico
genético pré-natal; por isso, em caso de forte angústia, pode-se até
entender a importância de uma avaliação genética, mas é difícil aceitar a
sua justificação como procedimento rotineiro.
Que tipo de cultura produz a propagação do diagnóstico genético
pré-natal como rotina? Provavelmente, a ansiedade generalizada na
população: os filhos, hoje, são filhos únicos, e não se aceita nenhum
resultado da gravidez que não seja a suposta "perfeição". O problema não
está no casal, mas na cultura geral, que moldou uma geração que só sabe
se aceitar se estiver de acordo com os cânones estéticos e económicos
propagandeados pela media, devido à falta de apoio social e cultural aos
doentes.
O paradoxo é que, enquanto a possibilidade do filho "diferente" leva
quase todos a quererem averiguá-la antes do parto, com alto índice de
abortos de crianças com possíveis deficiências, os pais que têm filhos
doentes apresentam uma capacidade de sacrifício e de criatividade
excepcional, apesar do abandono em que muitas vezes são obrigados a
viver.
O sentimento
O primeiro pensamento de muitos, tão logo descobrem uma gravidez, é: “Vamos ter esse filho?”.
É um sinal de alarme: é um modo medroso de pensar sobre nós mesmos e
sobre a vida. Se o estado de ansiedade é tão grande, então que seja
avaliada a presença de doenças genéticas fetais, como informação
importante para se gerir o estado de ansiedade. Mas para aqueles que
consideram que a vida é sagrada, pensar em fazer um aborto já é uma
grave contradição. Antes de fazer os diagnósticos genéticos, portanto, é
preciso pensar muito bem.
in
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