Entrevista com o cardeal Cipriani: o Santo Padre está fazendo um grande esforço, para elevar, para unir na Igreja e deixar de lado discussões anacrónicas
Roma, 25 de Setembro de 2013
O cardeal-arcebispo do Peru, Juan Luis Cipriani foi recebido
nesta segunda-feira, 23, pelo Papa Francisco no Palácio Apostólico
localizado no Vaticano. Uma conversa de uma hora, na qual trataram temas
pastorais do Peru e não somente.
O arcebispo de Lima presenteou duas relíquias, uma de santa Rosa e
outra de São Marinho de Porres, porque logo depois de ser eleito papa,
Francisco disse a Cipriani: ‘Não se esqueça de orar por mim à Santa
Rosa' e depois, ‘encomende-me ao mulatinho da vassoura’.
Recordou a importância dos movimentos, porque fazem muito bem para a
Igreja, e disse que o Santo Padre está fazendo um grande esforço, por
elevação, para unir a igreja e deixar para trás discussões anacrónicas.
Porque considerou que Francisco está fora clichés ideológicos, e isso
encontra certa resistência na dinâmica das informações.
ZENIT: Eminência, como nasce a ideia desta viagem para encontrar o Santo Padre?
- Cardeal Cipriani : No Rio de Janeiro quando estive na Jornada
Mundial da Juventude, o Papa, ao cumprimentar-me de modo coloquial me
disse: "Finalmente te vejo". Por ordem de antiguidade nos correspondia
sentar perto do Papa, estava o cardeal Humes e depois eu.
ZENIT: Como é a sua relação com o papa?
- Cardeal Cipriani: Com o papa Francisco existe uma relação normal de
confiança. Depois do conclave o tempo passou muito rápido porque no dia
3 de Julho eu comemorava 25 anos de ordenação como bispo e tive
celebrações e coisas que me mantiveram ocupado. Duas semanas atrás,
conversando com o cardeal Francisco Errazuríz, comentei que eu iria
visitar o Papa e lhe perguntei se tinha os telefones. E ele me deu os
números, fax e e-mail, eu escrevi e em dois dias me responderam dizendo
que hoje, 22, me receberia. Foi uma resposta imediata.
ZENIT: Como foi a reunião e como você foi recebido?
- Cardeal Cipriani: Me recebeu hoje, com o carinho de sempre, um
longo abraço porque sempre nos cumprimentamos assim, a audiência no
Palácio Apostólico durou uma hora, falamos em uma atmosfera de amizade e
confiança, como sempre o fizemos.
ZENIT: Como você o encontrou ?
- Cardeal Cipriani: Com uma alegria e um entusiasmo contagiante.
Entramos em muitas questões, eu lhe trouxe uma relíquia de Santa Rosa de
Lima e outra de São Martinho de Porres. E também a fotografia de ambos.
‘Gosto muito de ler a vida dos santos, te agradeço’, me disse. E eu
trouxe isso porque recém-eleito papa, Francisco me pediu: ‘Não se
esqueça de rezar por mim à Santa Rosa de Lima’ e no dia seguinte quando o
cumprimentei pela segunda vez me recomendou: ‘Encomende-me ao mulatinho
da vassoura’, porque São Martinho é chamado assim. Estas relíquias em
um pequeno quadro.
ZENIT: Vocês dois entraram no sacerdócio com idade mais adulta não é?
- Cardeal Cipriani: Sim, Bergoglio era químico e eu engenheiro, e os
dois temos confiança para falar de forma espontânea. Eu acho que é
parte dessa graça de Deus, pela qual Francisco tem uma facilidade para
comunicar-se e essa centelha portenha, que diz rapidamente muitas
coisas. Passamos um momento muito agradável. Perguntou-me sobre o
seminário, sobre as vocações sacerdotais. Comentei-lhe que temos umas 70
capelas do Santíssimo Sacramento ao lado das paróquias, dessa forma
pode estar exposto e evitamos o perigo de roubo. E o Papa me insistiu:
“É que Jesus sempre nos espera, nos olha sempre com carinho” e
acrescenta “é que isso funciona”. Comentei-lhe sobre o aumento das
confissões e que muita gente se sente como se estivesse em um ambiente
novo, eu o vejo. E me disse: “Isso é de Deus, não é meu, é do Espírito
Santo”. E também que vejo mais assistência à missa, ou a facilidade para
conversar, com um taxista, ou no bar. O papa é um tema que no ambiente
popular tem sido acolhido com enorme simpatia e como um ‘vale a pena’.
ZENIT: Em algum momento falaram do Opus Dei?
- Cardeal Cipriani: Ao comentar as novidades, em voz alta o Papa
comentou: ‘Você pode imaginar uma Igreja sem todos esses movimentos, sem
o Opus Deis, sem Comunhão e Libertação e todos os outros. Não consigo
imaginar, porque fazem muito bem à Igreja”.
ZENIT: Às vezes, porém, as palavras do Papa são tomadas fora de contexto, certo?
- Cardeal Cipriani: O Santo Padre tem um frescor e facilidade para
explicar as coisas que está muito distante de poder ser classificado por
grupo de esquerda ou de direita, ou de centro, de conservadores ou de
progressistas. Existe sim um interesse em certos grupos de querer
classificar e apropriar-se e orientar o que ele fala, mas não vão
silenciar o Papa com esta ameaça, e isso é o que está acontecendo com as
suas entrevistas e opiniões.
Se lermos as suas palavras e homilias, como aos jovens na JMJ no Rio
de Janeiro, vemos que o Santo Padre tem uma profundíssima intimidade com
Cristo, de onde nasce este vulcão de entusiasmo que às vezes ao
expressar-se pode levar as pessoas a pensar ‘olha, o papa não tem
interesse por tal coisa’ ou ‘atacou não sei quem’. Nada disso está nessa
bondade ou simplicidade do Papa Francisco. E o santo padre está fazendo
um esforço muito grande, por elevação, para unir na Igreja e deixar
discussões anacrônicas sobre o concílio, sobre o progressismo ou o
conservadorismo. Um esforço que encontra certa resistência na dinâmica
normal das notícias.
ZENIT: Muito por acima ?
- Cardeal Cipriani: Como podemos falar de um papa progressista e
discutido, quando a força de seus ensinamentos está nas longas horas que
passa em oração diante do Santíssimo Sacramento. E como podemos falar
de um conservador quando é um homem austero e simples nas suas formas e
as manteve. Está além dos clichês ideológicos.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário