Manuel Pizarro converteu-se num Cursilho de Cristandade
Levantar o leccionário ou a Bíblia na missa é um gesto mais poderoso do que parece |
Actualizado 29 de Setembro de 2013
Danilo Picart / PortaLuz
O caminhar sereno e algumas dores que chegam com os anos, não impedem que Manuel Pizarro mantenha uma juvenil paixão quando ingressa na sala de aulas.
É professor de línguas e ensina rapazes que procuram acesso à universidade em Santiago, a capital chilena…. “Logo cumprirei 79 anos e trabalhando com os jovens refresco”, diz sorridente.
Hoje é feliz, mas esta plenitude, que é o valor da sabedoria dos velhos que pôs de relevo o Papa Francisco nas suas alocuções recentes, foi conquistada depois de um processo de trevas.
Manuel era um intelectual agnóstico que mastigava e pregava uma filosofia onde Deus e a esperança cristã eram meras utopias.
Longe de Deus, lendo existencialismo
Criado junto com os seus quatro irmãos no seio de uma família católica, educou-se num colégio dos Sagrados Corações. “Não obstante, depois dos 14 aos afastei-me de Deus e estando na universidade terminei por separar-me da religião”, recorda.
Rondava os trinta anos quando iniciou o seu romance com os pais da filosofia e literatura ateia. “Aferrei-me nessas leituras cheias de suor intelectual ateu. Também novelas e ensaios de Arthur Schopenhauer, e quanto escritor existencialista chegasse às minhas mãos”.
Esta devoção de Manuel por uma antropologia que dava as costas a Deus potenciou-se, para seu pesar, ao morrer a sua mãe… “Foi surpresa porque não estava doente e de repente morreu, muito jovem, aos 55 anos. Esse foi um impacto profundo e desde aí via a morte com terror, porque pensava que não havia nada depois da vida, era terrível”.
Os louros do mundo não o satisfazem
Em 1968, quando já exercia profissionalmente nas aulas como professor, Manuel contraiu matrimónio e em poucos anos seria pai de três mulheres. Logo que se casou, a família mudou-se para o norte do Chile, zona mineira e florescente, onde desfrutaria de estabilidade económica e público reconhecimento.
Ele e a sua família tinham uma boa vida, mas no seu foro interno Manuel sentia-se insatisfeito…
“Renunciei a muitas coisas, regressámos a Santiago e decidi-me a tirar um ano sabático, sem trabalhar, porque estava muito esgotado. Estava bem com a minha esposa, com as minhas filhas, mas sentia um tremendo vazio espiritual. Andava intranquilo e por isso quando me ofereceram algumas horas de aulas num centro que prepara os jovens para efectuar o exame de selecção de ingresso nas universidades, não duvidei em aceitar. Refugiei-me no trabalho, em encontros com os meus irmãos, concorrendo e ganhando muitos eventos literários, mas nada era suficiente”.
Danilo Picart / PortaLuz
O caminhar sereno e algumas dores que chegam com os anos, não impedem que Manuel Pizarro mantenha uma juvenil paixão quando ingressa na sala de aulas.
É professor de línguas e ensina rapazes que procuram acesso à universidade em Santiago, a capital chilena…. “Logo cumprirei 79 anos e trabalhando com os jovens refresco”, diz sorridente.
Hoje é feliz, mas esta plenitude, que é o valor da sabedoria dos velhos que pôs de relevo o Papa Francisco nas suas alocuções recentes, foi conquistada depois de um processo de trevas.
Manuel era um intelectual agnóstico que mastigava e pregava uma filosofia onde Deus e a esperança cristã eram meras utopias.
Longe de Deus, lendo existencialismo
Criado junto com os seus quatro irmãos no seio de uma família católica, educou-se num colégio dos Sagrados Corações. “Não obstante, depois dos 14 aos afastei-me de Deus e estando na universidade terminei por separar-me da religião”, recorda.
Rondava os trinta anos quando iniciou o seu romance com os pais da filosofia e literatura ateia. “Aferrei-me nessas leituras cheias de suor intelectual ateu. Também novelas e ensaios de Arthur Schopenhauer, e quanto escritor existencialista chegasse às minhas mãos”.
Esta devoção de Manuel por uma antropologia que dava as costas a Deus potenciou-se, para seu pesar, ao morrer a sua mãe… “Foi surpresa porque não estava doente e de repente morreu, muito jovem, aos 55 anos. Esse foi um impacto profundo e desde aí via a morte com terror, porque pensava que não havia nada depois da vida, era terrível”.
Os louros do mundo não o satisfazem
Em 1968, quando já exercia profissionalmente nas aulas como professor, Manuel contraiu matrimónio e em poucos anos seria pai de três mulheres. Logo que se casou, a família mudou-se para o norte do Chile, zona mineira e florescente, onde desfrutaria de estabilidade económica e público reconhecimento.
Ele e a sua família tinham uma boa vida, mas no seu foro interno Manuel sentia-se insatisfeito…
“Renunciei a muitas coisas, regressámos a Santiago e decidi-me a tirar um ano sabático, sem trabalhar, porque estava muito esgotado. Estava bem com a minha esposa, com as minhas filhas, mas sentia um tremendo vazio espiritual. Andava intranquilo e por isso quando me ofereceram algumas horas de aulas num centro que prepara os jovens para efectuar o exame de selecção de ingresso nas universidades, não duvidei em aceitar. Refugiei-me no trabalho, em encontros com os meus irmãos, concorrendo e ganhando muitos eventos literários, mas nada era suficiente”.
Logo Manuel, teria que enfrentar a verdade. Vivia uma crise de fé. “O existencialismo não era uma coisa tranquilizadora, mas sim todo o contrário, não me dava respostas. Foi um desespero, envergonhar-me frente ao nada. Tinha procurado saciar a minha fome de infinito, mas sem crer em nada. Sentia-me totalmente separado de tudo. Tinha então 42 anos de idade, vinte oito anos vivendo separado de Deus. Ainda que nesse instante as quatro letras deste maravilhoso vocábulo não afloravam ainda nos meus lábios”.
Retirar-se, fazer silêncio para “ver”
Nestas lides interiores, com inquietação anímica, as suas resistências agnósticas estavam no mínimo e terminou por aceitar o convite que lhe fazia um dos seus irmãos.
“Cheguei a esse retiro do Movimento Cursilhista [Cursilhos de Cristandade] um fim-de-semana. Reagi indiferente, tinha raiva. Quando começavam a rezar eu dizia «E estes, que acreditam?». Questionava tudo e todos, lutava. Fui terrível, incómodo. Eu calado, escutava e olhava cada uma das quarenta pessoas que estavam comigo, sentindo que me caíam péssimo e perguntava-me «Que tenho que estar fazendo com estes tipos?»”.
Retirar-se, fazer silêncio para “ver”
Nestas lides interiores, com inquietação anímica, as suas resistências agnósticas estavam no mínimo e terminou por aceitar o convite que lhe fazia um dos seus irmãos.
“Cheguei a esse retiro do Movimento Cursilhista [Cursilhos de Cristandade] um fim-de-semana. Reagi indiferente, tinha raiva. Quando começavam a rezar eu dizia «E estes, que acreditam?». Questionava tudo e todos, lutava. Fui terrível, incómodo. Eu calado, escutava e olhava cada uma das quarenta pessoas que estavam comigo, sentindo que me caíam péssimo e perguntava-me «Que tenho que estar fazendo com estes tipos?»”.
Com a luz, o amor: um puzzle
Mas o homem novo que empurrava para nascer veria a luz antes que finalizasse aquele retiro… “Com as horas as minhas resistências foram vencidas e pude ver-me… Era um ateu sedento de fé. O amor que se palpitava naquele retiro, presença indubitável do Espírito Santo, dominou a minha rebeldia. A luz da fé veio a mim durante a Eucaristia; quando o sacerdote levantou a Bíblia a minha mente abriu-se. Não sei como, mas compreendi toda a mensagem que tinha detrás deste gesto e juntaram-se todas as peças do meu puzzle. Senti também o fraterno amor dos meus irmãos. Na noite quando me fui deitar no quarto em que dormia, estive espiritualmente no céu, sentia-me noutro mundo!”.
O momento da primeira prova
A notícia do seu regresso à fé foi também um reencontro com a sua esposa que logo seguiu os passos de Manuel no Movimento Cursilhista.
Foi uma época de alegrias e crescimento, antessala da primeira grande prova de fé… “Passou tudo como um raio. Ela adoeceu gravemente e ali estava, no hospital, com milhares de mangueiras, injectando-lhe antibióticos de todo o tipo. Detectaram-lhe hepatite C. Mas antes de poder sequer pensar numa solução teve uma falha sistémica múltipla que comprometeu o fígado os rins e tudo. Morre. Era tão jovem! Tinha só 55 anos”.
Longe de potenciar a rebeldia do passado esta nova e sensível perda foi ocasião para gostar o que é abandonar-se com todo o ser nos braços de Deus… “Orava continuamente e permaneci com uma tranquilidade espiritual surpreendente. O Senhor acompanhou-me muito nesse momento”.
Mas o homem novo que empurrava para nascer veria a luz antes que finalizasse aquele retiro… “Com as horas as minhas resistências foram vencidas e pude ver-me… Era um ateu sedento de fé. O amor que se palpitava naquele retiro, presença indubitável do Espírito Santo, dominou a minha rebeldia. A luz da fé veio a mim durante a Eucaristia; quando o sacerdote levantou a Bíblia a minha mente abriu-se. Não sei como, mas compreendi toda a mensagem que tinha detrás deste gesto e juntaram-se todas as peças do meu puzzle. Senti também o fraterno amor dos meus irmãos. Na noite quando me fui deitar no quarto em que dormia, estive espiritualmente no céu, sentia-me noutro mundo!”.
O momento da primeira prova
A notícia do seu regresso à fé foi também um reencontro com a sua esposa que logo seguiu os passos de Manuel no Movimento Cursilhista.
Foi uma época de alegrias e crescimento, antessala da primeira grande prova de fé… “Passou tudo como um raio. Ela adoeceu gravemente e ali estava, no hospital, com milhares de mangueiras, injectando-lhe antibióticos de todo o tipo. Detectaram-lhe hepatite C. Mas antes de poder sequer pensar numa solução teve uma falha sistémica múltipla que comprometeu o fígado os rins e tudo. Morre. Era tão jovem! Tinha só 55 anos”.
Longe de potenciar a rebeldia do passado esta nova e sensível perda foi ocasião para gostar o que é abandonar-se com todo o ser nos braços de Deus… “Orava continuamente e permaneci com uma tranquilidade espiritual surpreendente. O Senhor acompanhou-me muito nesse momento”.
Passaram mais de 30 anos desde a sua conversão e hoje ele que fora agnóstico leva a sua fé também até os jovens a quem educa. [Na foto vemo-lo numa festa com ex-alunos].
“A obrigação do cursilhista – disse com paixão juvenil Manuel – é evangelizar como todo membro da Igreja, mas há alguns que somos os mais enamorados”.
“A obrigação do cursilhista – disse com paixão juvenil Manuel – é evangelizar como todo membro da Igreja, mas há alguns que somos os mais enamorados”.
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