O que vigorava ontem
eventualmente já não constitui uma realidade hoje. Agendar algo, devemo-nos
interrogar se será viável. Logo, devemos sempre acrescentar, se tal for
possível. Na realidade, algumas situações não dependem exclusivamente de nós. A
doença Covid-10 mudou as nossas vidas a diferentes níveis. Também o nosso modo
de pensar e de agir. Quantos projetos adiados sine die, ou que pura e
simplesmente caíram. Outros vivenciamos de um modo inusitado. Há alguns dias
fui acompanhar a minha neta à catequese. Encontrava-se com muitas saudades, um
pouco ansiosa, na expetativa se na realidade teria a aula em questão. Também
preocupada se veria os seus colegas. Confidenciava-me: “Já não vou à escola há
tanto tempo porque a professora encontra-se doente. Queria muito ver os meus
colegas da catequese!”
Como brilharam os seus olhos
quando se apercebeu da presença de alguns dos seus colegas. Senti um baque no
coração perante as dificuldades que as crianças atravessam. Quais serão as suas
memórias futuras destes tempos e os seus efeitos? Entrámos como habitualmente
na Igreja. O sacerdote veio ao nosso encontro, referindo que agora a entrada
seria feita por uma porta lateral. Também os acompanhantes não poderiam entrar.
Dirigimo-nos ao local indicado onde se encontravam vários pais e crianças.
Também avós. Entrou cada uma na sua vez. Com máscara. Foi colocado gel nas mãos
e medida a temperatura. Depois poderiam passar para a Igreja onde eu já me
encontrava. As catequistas indicavam os lugares que iriam ocupar, observando o
distanciamento. O sacerdote observava se todos os procedimentos, agora
exigidos, eram cumpridos. Posteriormente proferiu algumas palavras de
boas-vindas e designou as novas catequistas. Depois, foi a vez do sacerdote recordar
que se encontravam na casa de Jesus. De joelhos, rezou-se um Pai Nosso.
Seguidamente, começando pelo primeiro ano, conservando a distância necessária,
partiram com a sua catequista rumo à sala de catequese. Comovi-me. Ainda assim
preocupados com o uso da máscara, a manutenção da distância, já enturmados,
partiram com um ar feliz. Com simplicidade, ternura, sem dramas, vivenciavam os
novos tempos, o novo modo de estar, sem nada questionar. Apesar de todos os
condicionalismos, era bom voltar a ter atividades, a criar espírito de equipa e
de pertença a uma “família”. Quando saiu, vinha corada, com ar feliz, referindo
que na próxima vez tinha de trazer a Bíblia.
Nos dias seguintes permanecemos
quase sempre em casa. Aproveitámos para fazer ainda que fosse cedo, a árvore de
Natal, o Presépio, decorar a casa. Assim esteve ocupada com coisas positivas. Aguardava
com alguma expetativa, a possibilidade de frequentar o seu grupo de escuteiros
no sábado à tarde. Contudo, foi anunciada a situação de emergência e o confinamento
no sábado e no domingo à tarde. Ficou triste, mas foi por pouco tempo. O pai ao
vir buscá-la trazia a boa-nova. A reunião de escuteiros tinha passado para
domingo de manhã. “Que bom, exclamou!”. No caminho para a Igreja questionava se
os colegas também iriam. “Vão com certeza. Não tenha receio!”. E foram na
realidade, tendo saído alegra e cheia de apetite. Já eram quase horas de almoço
e de regresso a casa face à hora agendada para o período de confinamento.
Separámo-nos. Foi para casa com os pais. Regressei a casa não antes sem antes
passar pelo parque, já que não sairia depois de voltar casa. Enquanto caminhava
pensava que se tornava necessário incutir força e esperança, Este seria um
Natal bem diferente. Por coincidência recebi uma mensagem de uma amiga em que
me enviava uma reflexão que um sacerdote espanhol Javier Leoz Ventura, pároco em Pamplona, tinha escrito, e que veio
de encontro aos meus pensamentos e que referia: “Que não haverá Natal?” Claro
que sim! Mais silencioso e com mais profundidade. Mais parecido ao primeiro em
que Jesus nasceu na solidão. Sem muitas luzes na terra, mas com a estrela de
Belém, projetando rotas de vida na sua imensidão. Sem cortejos reais colossais,
mas com a humildade de nos sentirmos pastores à procura da Verdade. Sem grandes
mesas e com amargas ausências, mas com a presença de um Deus que tudo
preencherá. “Que Não haverá Natal?” Claro que sim. Sem ruídos, nem verbenas,
reclamos… mas vivendo o Mistério sem medo ao “covid-herodes” que pretende
tirar-nos até o sonho de esperar. Haverá Natal porque Deus está ao nosso lado e
partilha, como Cristo o fez numa gruta, a nossa pobreza, choro, angústia e
orfandade. Haverá Natal porque precisamos de uma luz divina no meio de tanta escuridão.
Covid-19 nunca poderá chegar ao coração nem à alma dos que colocam no céu a sua
esperança e o seu alto ideal. “Haverá Natal”! “Cantaremos canções de Natal”! “Deus
nascerá e nos trará a liberdade”!
Na verdade, “E Tudo a Pandemia Mudou”, mas comemoraremos com alegria, apesar de todos os constrangimentos sentidos, o nascimento do Menino Jesus, de olhos postos no Céu. Santa Maria, rainha da esperança, intercedei por todos nós.
Maria Helena Paes |
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