Dei por mim a pensar na vida com vontade de mudar, de experienciar no
dia de hoje, novas realidades. Enquanto fazia uma caminhada ouvi o som de uma
música que me inspirou. “Quem me dera” cantada por Mariza, que referia: “Que
quantidade de lágrimas devo deixar cair, que flor tem de nascer…Será preciso um
milagre para que o meu coração se alegre…quem me dera abraçar-te no outono,
verão e primavera”… Embalada
pela música senti-me feliz. Afinal, dependia unicamente da minha vontade fazer
algo diferente. Encontrava-me na Vila de Mafra. Ocorreu-me ser turista nesta
Vila, como se a visitasse pela primeira vez. Dirigi-me ao Posto de Turismo,
questionando quais eram os principais pontos de interesse para visitar. Muito
amável, a técnica que me
atendeu, foi-me prestando os esclarecimentos solicitados. Sem dúvida, para
iniciar visitar o Palácio Nacional de Mafra. Facultou-me uma brochura com os
principais locais a visitar. Abri o folheto que mencionava: “Mafra, terra de
experiências e emoções, do
azul das suas ondas ao seu verde natural, do seu vasto património histórico-cultural,
aos sabores e tradições”. Bem, face ao adiantado da hora, resolvi começar por
fazer uma refeição ligeira no centro, no restaurante/pastelaria “Basílica”. A refeição foi satisfatória. O serviço foi
razoável. Talvez tenha tido menos sorte com o dia em que fui, já que havia o
lançamento de um livro a seguir, transparecendo uma certa agitação. Uma nota
positiva pela localização., situado em frente ao Palácio, possuindo janelas com
vista panorâmica para o mesmo bem como uma pequena esplanada. Depois de
consultar a bibliografia que me facultaram optei por me dirigir em primeiro
lugar à Basílica de Nossa
Senhora e de Santo António,
para onde o meu coração me levou, com o objetivo de observar tranquilamente os
10 andores expostos alusivos à história dos Franciscanos, que contém imagens do escultor Manuel Dias,
revestidas, na sua maioria, com preciosas alfaias originais, que integrariam no
dia de seguinte, a Procissão de Penitência da Ordem Terceira de S. Francisco (Terceiros). Debrucei-me, em
particular, nos andores que tinham sido alvo de algum restauro. Como tinham
sido valorizados graças ao esforço e empenho da Real e Venerável Irmandade do
Santíssimo Sacramento de Mafra bem como de todos os que de algum modo deram o
seu contributo. A Imagem de S. Francisco de Assis, datada de 1740, do escultor
Manuel Dias, que constitui sem dúvida uma das melhores representações
esculturais deste santo, que se apresentava em mau estado de conservação, foi
alvo recentemente de uma importante intervenção de conservação e restauro
realizada pelo atelier Santo André – Conservação e Restauro de Bens Culturais, devolvendo toda a sua
beleza e dignidade merecidas, que se foram deteriorando ao longo dos séculos devido à sua utilização nas procissões bem como a
alguns restauros de má qualidade.
Por
outro lado, verifiquei que o andor denominado do Salvador do Mundo, apresentava
um vestido novo, obra a cargo do atelier Isabel de Sousa. Aos poucos, não só graças a alguns apoios concedidos,
mas também devido ao empenho
em perseverar o importantíssimo
património artístico cultural que possui,
a Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra vai recuperando
e valorizando o seu legado com o objetivo de que as novas gerações possam vir
igualmente a usufruir e a ter um melhor conhecimento da nossa riquíssima história. Ocorreu-me,
enquanto sonhadora, que um dia, a Irmandade possa vir a dispor de um espaço
condigno, seguro, onde se possam exibir todas estas preciosidades que fazem
parte integrante da história
de Portugal.
Cada
andor tem uma história
agregada. São 10 andores. Dez histórias de vida, qual delas a mais comovente. Verdadeiros
testemunhos de vida, de santidade. Passo pelo andor da Rainha Santa Isabel com
o seu regaço coberto de rosas. Rosas de Portugal. Do Papa Inocêncio III, a entregar a Bula a S.
Francisco. Pelo andor o Senhor de Montalverne. A Glorificação de São Francisco. De Santa Margarida de
Cortona, de Santa Rosa de
Viterbo, de São Roque, de Santo Ivo, Dos Bem Casados, do Salvador do Mundo,
Cristo Crucificado, a mais monumental das esculturas, obra atribuída ao
escultor genovês Anton
Maria Maragliano.
Enfim torna-se quase impossível num artigo referir todas as histórias, tão ricas e
intensamente vividas. Unicamente despertar a curiosidade do leitor, para numa
próxima
oportunidade não deixar de participar nestas procissões tradicionais que
enobrecem e enriquecem o nosso vasto património cultural.
Fico a aguardar com emoção pelo dia seguinte, para poder observar em
toda a sua grandiosidade esta Procissão da Penitência que representa um dos últimos exemplares da magnificência do período barroco em
Portugal, constituindo a última expressão de piedade inalterada desde a sua
primeira saída processional a 27 de Maio de 1740, a festividade religiosa que
se relaciona diretamente com a grandiosa obra do rei D. João V, na Vila de
Mafra. Neste dia, a Procissão é igualmente enriquecida com uma
preciosidade verdadeiramente notável, entre outros, o “Sol do Apocalipse”. Uma
peça em latão dourado da oficina
de António Rodrigues Leitão, datada de 1740, que só é exibida nesta
ocasião e que abrirá a Procissão,
sendo precedida pela magnifica Cruz da Penitência que o rei D. João V terá mandado vir de Roma e ofereceu para a
procissão no ano de 1740. Presume-se que constitui a maior cruz de penitência do mundo, em uso regular.
Bem,
termino este artigo como iniciei. A Pensar Na Vida, neste caso, no dia
seguinte, em que se Deus quiser, o sol brilhará e a Procissão da Ordem terceira de São Francisco brilhará em todo o
seu esplendor fazendo jus a todo o trabalho envolvido não só pela Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de
Mafra mas também de todos os
que de algum modo deram o seu contributo para que esta se torne uma realidade.
Entretanto,
resolvi continuar a minha caminhada que me levou até belíssimo
Jardim do Cerco. Um espaço de lazer com um traçado tipicamente Barroco,
inspirado em Versailles, local concebido para o recreio no século
XVIII. Admirei a nora centenária ainda em funcionamento, as estátuas, o lago, o
espaço infantil, as árvores frondosas….
A não
perder de todo, numa próxima
oportunidade.
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Maria Helena Paes |
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