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domingo, 7 de abril de 2019

A Pensar na Vida

Dei por mim a pensar na vida com vontade de mudar, de experienciar no dia de hoje, novas realidades. Enquanto fazia uma caminhada ouvi o som de uma música que me inspirou. “Quem me dera” cantada por Mariza, que referia: “Que quantidade de lágrimas devo deixar cair, que flor tem de nascer…Será preciso um milagre para que o meu coração se alegre…quem me dera abraçar-te no outono, verão e primavera”… Embalada pela música senti-me feliz. Afinal, dependia unicamente da minha vontade fazer algo diferente. Encontrava-me na Vila de Mafra. Ocorreu-me ser turista nesta Vila, como se a visitasse pela primeira vez. Dirigi-me ao Posto de Turismo, questionando quais eram os principais pontos de interesse para visitar. Muito amável, a técnica que me atendeu, foi-me prestando os esclarecimentos solicitados. Sem dúvida, para iniciar visitar o Palácio Nacional de Mafra. Facultou-me uma brochura com os principais locais a visitar. Abri o folheto que mencionava: “Mafra, terra de experiências e emoções, do azul das suas ondas ao seu verde natural, do seu vasto património histórico-cultural, aos sabores e tradições”. Bem, face ao adiantado da hora, resolvi começar por fazer uma refeição ligeira no centro, no restaurante/pastelaria “Basílica”. A refeição foi satisfatória. O serviço foi razoável. Talvez tenha tido menos sorte com o dia em que fui, já que havia o lançamento de um livro a seguir, transparecendo uma certa agitação. Uma nota positiva pela localização., situado em frente ao Palácio, possuindo janelas com vista panorâmica para o mesmo bem como uma pequena esplanada. Depois de consultar a bibliografia que me facultaram optei por me dirigir em primeiro lugar à Basílica de Nossa Senhora e de Santo António, para onde o meu coração me levou, com o objetivo de observar tranquilamente os 10 andores expostos alusivos à história dos Franciscanos, que contém imagens do escultor Manuel Dias, revestidas, na sua maioria, com preciosas alfaias originais, que integrariam no dia de seguinte, a Procissão de Penitência da Ordem Terceira de S. Francisco (Terceiros). Debrucei-me, em particular, nos andores que tinham sido alvo de algum restauro. Como tinham sido valorizados graças ao esforço e empenho da Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra bem como de todos os que de algum modo deram o seu contributo. A Imagem de S. Francisco de Assis, datada de 1740, do escultor Manuel Dias, que constitui sem dúvida uma das melhores representações esculturais deste santo, que se apresentava em mau estado de conservação, foi alvo recentemente de uma importante intervenção de conservação e restauro realizada pelo atelier Santo André – Conservação e Restauro de Bens Culturais, devolvendo toda a sua beleza e dignidade merecidas, que se foram deteriorando ao longo dos séculos devido à sua utilização nas procissões bem como a alguns restauros de má qualidade.

Por outro lado, verifiquei que o andor denominado do Salvador do Mundo, apresentava um vestido novo, obra a cargo do atelier Isabel de Sousa. Aos poucos, não só graças a alguns apoios concedidos, mas também devido ao empenho em perseverar o importantíssimo património artístico cultural que possui, a Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra vai recuperando e valorizando o seu legado com o objetivo de que as novas gerações possam vir igualmente a usufruir e a ter um melhor conhecimento da nossa riquíssima história. Ocorreu-me, enquanto sonhadora, que um dia, a Irmandade possa vir a dispor de um espaço condigno, seguro, onde se possam exibir todas estas preciosidades que fazem parte integrante da história de Portugal.

Cada andor tem uma história agregada. São 10 andores. Dez histórias de vida, qual delas a mais comovente. Verdadeiros testemunhos de vida, de santidade. Passo pelo andor da Rainha Santa Isabel com o seu regaço coberto de rosas. Rosas de Portugal. Do Papa Inocêncio III, a entregar a Bula a S. Francisco. Pelo andor o Senhor de Montalverne. A Glorificação de São Francisco. De Santa Margarida de Cortona, de Santa Rosa de Viterbo, de São Roque, de Santo Ivo, Dos Bem Casados, do Salvador do Mundo, Cristo Crucificado, a mais monumental das esculturas, obra atribuída ao escultor genovês Anton Maria Maragliano. Enfim torna-se quase impossível num artigo referir todas as histórias, tão ricas e intensamente vividas. Unicamente despertar a curiosidade do leitor, para numa próxima oportunidade não deixar de participar nestas procissões tradicionais que enobrecem e enriquecem o nosso vasto património cultural.

Fico a aguardar com emoção pelo dia seguinte, para poder observar em toda a sua grandiosidade esta Procissão da Penitência que representa um dos últimos exemplares da magnificência do período barroco em Portugal, constituindo a última expressão de piedade inalterada desde a sua primeira saída processional a 27 de Maio de 1740, a festividade religiosa que se relaciona diretamente com a grandiosa obra do rei D. João V, na Vila de Mafra. Neste dia, a Procissão é igualmente enriquecida com uma preciosidade verdadeiramente notável, entre outros, o “Sol do Apocalipse”. Uma peça em latão dourado da oficina de António Rodrigues Leitão, datada de 1740, que só é exibida nesta ocasião e que abrirá a Procissão, sendo precedida pela magnifica Cruz da Penitência que o rei D. João V terá mandado vir de Roma e ofereceu para a procissão no ano de 1740. Presume-se que constitui a maior cruz de penitência do mundo, em uso regular.

Bem, termino este artigo como iniciei. A Pensar Na Vida, neste caso, no dia seguinte, em que se Deus quiser, o sol brilhará e a Procissão da Ordem terceira de São Francisco brilhará em todo o seu esplendor fazendo jus a todo o trabalho envolvido não só pela Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra mas também de todos os que de algum modo deram o seu contributo para que esta se torne uma realidade.

Entretanto, resolvi continuar a minha caminhada que me levou até belíssimo Jardim do Cerco. Um espaço de lazer com um traçado tipicamente Barroco, inspirado em Versailles, local concebido para o recreio no século XVIII. Admirei a nora centenária ainda em funcionamento, as estátuas, o lago, o espaço infantil, as árvores frondosas….

A não perder de todo, numa próxima oportunidade.

Maria Helena Paes



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