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domingo, 28 de abril de 2019

Vinho ou limonada?

Quem já foi à Terra Santa em tempo quente agradeceu certamente as limonadas que o esperavam à chegada aos hotéis e lojas. É provável que o calor também apertasse no tempo de Jesus e que os limões também por lá existissem, assim como o mel. Faltavam os frigoríficos, mas não as limonadas, imaginamos nós.

Chamou-nos a atenção o facto de Jesus, nas bodas de Caná, ter convertido a água em vinho e não em limonada, ou qualquer outra bebida refrescante, tanto mais que o vinho causa alegria, sim, mas também pode levar a muitos dissabores, se bebido em grandes quantidades. Qual a razão, ou razões, para Jesus ter optado pelo vinho, e de grande qualidade?

A primeira razão que nos vem à mente é: o que fazia falta era o vinho, não limonada. A segunda é bem mais profunda: na vida de qualquer homem a dor e a alegria, o mal e o bem, estão sempre presentes embora não se note; no matrimónio também isso acontece. A enorme alegria de gerar um filho vem acompanhada da dor do parto. Vinho e sangue.

Sim, é vinho que Cristo nos oferece na Última Ceia, mas converte-o no Seu sangue, para que o bebamos e possamos assim chegar à plena alegria, a de alcançar o Céu. “Tomai;  isto é o Meu corpo que vai ser dado por vós; fazei isto em Minha memória...fez o mesmo com o cálice, dizendo: Este cálice é a nova Aliança no Meu sangue, que por vós se vai derramar.” (Lc. 22, 19-20).

Em pleno tempo pascal, pouco após a leitura do “Diagnóstico do Papa Bento XVI Sobre a Crise da Igreja e dos Abusos Sexuais”, é flagrante, sobretudo na terceira parte do documento, a ligação entre os dois sacramentos: Matrimónio e Eucaristia. Com a Eucaristia, e a comunhão sacramental recebida em estado de graça[1] é possível a santidade no matrimónio. O sofrimento – sangue e suor – que acompanha a vida humana torna-se em gozo e alegria, nesta vida e na vida eterna.

Recordemos que em cada Missa se renova a Paixão e Morte de Cristo, momento em que o Filho se entrega ao Pai para salvar todos os homens, até mesmo os que o estavam a crucificar: “Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem!” (Lc. 23, 34). Mas também se vive a memória da sua Ressurreição. A vitória de Jesus sobre a morte, manifesta a vitória de Deus sobre o demónio; isto é, a vitória da graça sobre o pecado; a vitória do amor sobre o ódio.

Por isso, o sacramento do matrimónio, também nascido do lado aberto de Cristo, concede aos cônjuges a graça de se amarem ao ponto de darem a vida um pelo outro e ambos pelos filhos. O vinho da entrega e da alegria, não a limonada, não deve faltar em cada boda.

Isabel Vasco Costa




[1] Estado de graça significa que não se cometeu nenhum pecado mortal desde a última confissão, não olvidando que é aconselhável confessar-se e comungar com regularidade, no mínimo uma vez por ano, pela Páscoa. Menos que isto é uma manifestação de desprezo pelos sacramentos que Jesus nos deixou e, por isso, pecado grave. Estando em estado de graça, não é necessário confessar-se antes de cada comunhão.



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