Quem já foi à Terra Santa em tempo quente agradeceu
certamente as limonadas que o esperavam à chegada aos hotéis e lojas. É
provável que o calor também apertasse no tempo de Jesus e que os limões também
por lá existissem, assim como o mel. Faltavam os frigoríficos, mas não as
limonadas, imaginamos nós.
Chamou-nos a atenção o facto de Jesus, nas bodas de
Caná, ter convertido a água em vinho e não em limonada, ou qualquer outra
bebida refrescante, tanto mais que o vinho causa alegria, sim, mas também pode
levar a muitos dissabores, se bebido em grandes quantidades. Qual a razão, ou
razões, para Jesus ter optado pelo vinho, e de grande qualidade?
A primeira razão que nos vem à mente é: o que fazia
falta era o vinho, não limonada. A segunda é bem mais profunda: na vida de
qualquer homem a dor e a alegria, o mal e o bem, estão sempre presentes embora
não se note; no matrimónio também isso acontece. A enorme alegria de gerar um
filho vem acompanhada da dor do parto. Vinho e sangue.
Sim, é vinho que Cristo nos oferece na Última Ceia,
mas converte-o no Seu sangue, para que o bebamos e possamos assim chegar à
plena alegria, a de alcançar o Céu. “Tomai;
isto é o Meu corpo que vai ser dado por vós; fazei isto em Minha memória...fez
o mesmo com o cálice, dizendo: Este cálice é a nova Aliança no Meu sangue, que
por vós se vai derramar.” (Lc. 22, 19-20).
Em pleno tempo pascal, pouco após a leitura do “Diagnóstico
do Papa Bento XVI Sobre a Crise da Igreja e dos Abusos Sexuais”, é flagrante,
sobretudo na terceira parte do documento, a ligação entre os dois sacramentos:
Matrimónio e Eucaristia. Com a Eucaristia, e a comunhão sacramental recebida em
estado de graça[1] é possível a santidade no
matrimónio. O sofrimento – sangue e suor – que acompanha a vida humana torna-se
em gozo e alegria, nesta vida e na vida eterna.
Recordemos que em cada Missa se renova a Paixão e
Morte de Cristo, momento em que o Filho se entrega ao Pai para salvar todos os
homens, até mesmo os que o estavam a crucificar: “Perdoa-lhes, ó Pai, porque
não sabem o que fazem!” (Lc. 23, 34). Mas também se vive a memória da sua
Ressurreição. A vitória de Jesus sobre a morte, manifesta a vitória de Deus
sobre o demónio; isto é, a vitória da graça sobre o pecado; a vitória do amor
sobre o ódio.
Por isso, o sacramento do matrimónio, também nascido
do lado aberto de Cristo, concede aos cônjuges a graça de se amarem ao ponto de
darem a vida um pelo outro e ambos pelos filhos. O vinho da entrega e da
alegria, não a limonada, não deve faltar em cada boda.
Isabel Vasco Costa
[1]
Estado de graça significa que
não se cometeu nenhum pecado mortal desde a última confissão, não olvidando que
é aconselhável confessar-se e comungar com regularidade, no mínimo uma vez por
ano, pela Páscoa. Menos que isto é uma manifestação de desprezo pelos
sacramentos que Jesus nos deixou e, por isso, pecado grave. Estando em estado
de graça, não é necessário confessar-se antes de cada comunhão.
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