Agito-me, procuro algo, que
desconheço sendo invadida por uma verdadeira sensação de vazio. O que busco na
realidade? Alegria, tristeza, amor, desamor, inquietude, tudo dança ao meu
redor, como se, na realidade, me quisessem envolver na teia de uma nova história
que ainda não tinha entendido, nem possuía título, logo, torna-se necessário
encontrar o fio condutor. Ou talvez não. Vai surgindo com o decorrer da
narrativa. Aborreço-me, sinto-me algo contrariada, sem rumo traçado. Olho
através da janela. Monotonia. Nada de interessante, nada de novo. O mesmo de
sempre. Mas será que a vida tem obrigatoriamente que possuir sempre movimento,
agitação, novidade? Depende do que sentimos, do nosso estilo de vida, dos
nossos sentimentos. Todos somos diferentes, possuímos variados percursos e diferentes
estilos de vida. Há quem se sinta bem só, outros nem por isso, precisam de
vivenciar a sociedade, do convívio com os outros, da cultura, da arte, da
música, dos espaços verdes, entre outros, nomeadamente, o mais importante, ou
seja, a fé que professam, para que a vida possua sentido. Recordo as figuras
das irmãs Marta e Maria. Duas dimensões da vida, diferentes, mas
complementares. O trabalho e a oração. “Embora Jesus nos fale de muitos e
variados modos durante o nosso trabalho, através dos outros e a todo o momento,
não é possível prescindir do silêncio da oração, mais ou menos prolongada para
perceber melhor a sua linguagem, para interpretar o significado real das
inspirações que julgamos ter recebido, também para acalmar alguma ansiedade e
recompor o conjunto da nossa própria vida, à luz da palavra de Deus. (Papa
Francisco, Christus vivit, 284)”.
Torna-se necessário ser interventivo na sociedade tal como Marta, oferecendo o nosso
trabalho por uma intenção concreta. Também as diferentes atividades
desenvolvidas ao longo do dia, principalmente as que mais nos custam, quer
sejam na família ou na comunidade. Também as coisas boas que vão surgindo. Mas
reveste-se igualmente da maior importância a atitude de Maria, isto é, unir-se
a Jesus através da oração, o que nos recorda a vida contemplativa e a sua
enorme importância em prol do bem. Recordo uma passagem do Evangelho,
sobejamente conhecida. “… e certa mulher, de nome Marta, recebeu-O em sua casa.
Sua irmã Maria, sentou-se aos pés do Senhor e ficou a escutar a Sua palavra.
Marta estava ocupada com muitos fazeres. Aproximou-se e disse: “Senhor, não te
importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço”? Jesus respondeu:
“Marta, Marta! Preocupas-te e andas agitada com muitas coisas, porém só uma é
necessária, Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada”. Na verdade,
o ideal, seria conseguirmos harmonizar as duas partes, quer na vida consagrada,
quer na vida em sociedade. Marta enquanto símbolo da vida ativa e Maria da vida
contemplativa. Torna-se difícil conciliar mas não impossível. É preciso possuir
alguma heroicidade e fortaleza. Os pequenos sacrifícios, constituem as coisas
pequenas, que têm um valor infinito aos olhos de Deus. Devemos procurar manter
sempre a esperança, lutar pela vida, estarmos atentos a quem mais necessita.
Aceitarmos as limitações e as faltas que cometemos, oferecendo-as por uma
intenção particular. Darmos graças a Deus por tudo, mesmo pelas nossas
limitações. Devemos ser compreensivos e transigentes para com os outros,
recordando a abundância de amor que Jesus teve e tem por nós, cada dia, bem
como a sua infinita misericórdia. Um Jesus que não nos condena e que tudo nos
perdoa, que quis ir até ao fim, submetendo-se a todos os padecimentos que
poderia evitar, enquanto Filho de Deus muito amado. São Josemaria in Caminho ponto 217, escreveu: “Quero que sejas feliz na
terra: - Não o serás se não perdes esse medo à dor. Porque enquanto
“caminhamos”, na dor está precisamente a felicidade.
Encontrava-me absorvida nestes
pensamentos quando recordei que tinha uma visita orientada a um museu da cidade
de Lisboa. Chovia, estava frio, o museu situa-se no centro da cidade. Logo será
extremamente difícil estacionar. Por outro lado já se faz tarde para ir de
transporte público. Os nossos medos e indecisões. Resolvi contrariar esta
resistência e entregar nas mãos do Anjo da Guarda. Em boa hora o fiz. A baixa
encontrava-se repleta de vida e de turistas. Havia música, alegria,
descontração e momentos de relaxe. Consegui estacionar, perto do Jardim do
Príncipe Real, onde decorria uma feira com venda de produtos alimentares. Longe
é verdade mas a caminhada far-me-ia bem. Passei por inúmeros restaurantes novos
com muito bom aspeto. À memória veio-me o nome da Pastelaria Francesa onde ia
com a avó quando vinha a Lisboa, degustar uma excelente omelete. Tinha dado
lugar a outro restaurante. Que saudades e que pena. Continuei a caminhada usufruindo
de uma vista fantástica de Lisboa no Miradouro e Jardim de S. Pedro de
Alcântara, situado perto do elevador da Glória, onde existia um número
infindável de turistas a aguardar vez para entrar. No miradouro, fiquei
maravilhada com a panorâmica de Lisboa tendo como pano de fundo um arco-íris
devido a um aguaceiro que se tinha feito sentir. Magnifico. Que bem que me
sentia enquanto turista na minha própria cidade! Museu para te que quero! Não
será hoje certamente. Bem, o dever chama. Fui até ao Museu de S. Roque. Afinal,
tinha tomado mal nota na agenda da data do evento. Deus escreve direito por linhas
tortas! Assim foi possível continuar o passeio turístico, descomprimir um pouco
mais. Amanhã o dia será diferente, assumindo o agradável papel de avó, face às
férias da Páscoa. Como foi bom usufruir da vista panorâmica da Rua Augusta, sobre
o Terreiro do Paço, como seu arco memorável e o rio Tejo ao fundo. Ao centro a
impressionante estátua equestre do rei Dom José um dos mais emblemáticos
monumentos da cidade de Lisboa. E a chuva regressou. Refugiei-me no restaurante
“Martinho da Arcada” tão ligado ao escritor/poeta Fernando Pessoa, a funcionar
desde 1782. Recordei um poema tão conhecido seu. “O poeta é fingidor; Finge tão
completamente; Que chega a fingir que é dor; A dor que deveras sente”. Depois
de um café reconfortante segui até ao Cais das Colunas. Queria ver o rio de
perto, ainda que chovesse. Na verdade, a cidade de Lisboa é mesmo muito bonita.
Bem, chegou a hora de me retirar,
já está a anoitecer. De repente veio-me à ideia que Jesus também se retirava.
Para rezar. O amor infinito de Deus. Jesus dá-nos tempo. Quer salvar-nos, mas
concede-nos a liberdade de escolher, não impondo a Sua vontade. É mesmo um Pai
de Misericórdia. Aqueles que se santificaram estão hoje na glória de Deus. Se
conseguiram também nós vamos conseguir. Termino este artigo denominado “Mais Um
Dia de Vida”, dando graças a Deus por tudo o que nos tem proporcionado. As
coisas boas e as menos boas servem para nos santificarmos. Santa Maria, refugium peccatorum, concede-nos as forças
necessárias para permanecermos junto de Jesus nos momentos difíceis com
espírito de desagravo e de corredenção.
Maria Helena Paes |
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