Páginas

domingo, 21 de abril de 2019

Mais Um Dia de Vida

Agito-me, procuro algo, que desconheço sendo invadida por uma verdadeira sensação de vazio. O que busco na realidade? Alegria, tristeza, amor, desamor, inquietude, tudo dança ao meu redor, como se, na realidade, me quisessem envolver na teia de uma nova história que ainda não tinha entendido, nem possuía título, logo, torna-se necessário encontrar o fio condutor. Ou talvez não. Vai surgindo com o decorrer da narrativa. Aborreço-me, sinto-me algo contrariada, sem rumo traçado. Olho através da janela. Monotonia. Nada de interessante, nada de novo. O mesmo de sempre. Mas será que a vida tem obrigatoriamente que possuir sempre movimento, agitação, novidade? Depende do que sentimos, do nosso estilo de vida, dos nossos sentimentos. Todos somos diferentes, possuímos variados percursos e diferentes estilos de vida. Há quem se sinta bem só, outros nem por isso, precisam de vivenciar a sociedade, do convívio com os outros, da cultura, da arte, da música, dos espaços verdes, entre outros, nomeadamente, o mais importante, ou seja, a fé que professam, para que a vida possua sentido. Recordo as figuras das irmãs Marta e Maria. Duas dimensões da vida, diferentes, mas complementares. O trabalho e a oração. “Embora Jesus nos fale de muitos e variados modos durante o nosso trabalho, através dos outros e a todo o momento, não é possível prescindir do silêncio da oração, mais ou menos prolongada para perceber melhor a sua linguagem, para interpretar o significado real das inspirações que julgamos ter recebido, também para acalmar alguma ansiedade e recompor o conjunto da nossa própria vida, à luz da palavra de Deus. (Papa Francisco, Christus vivit, 284)”. Torna-se necessário ser interventivo na sociedade tal como Marta, oferecendo o nosso trabalho por uma intenção concreta. Também as diferentes atividades desenvolvidas ao longo do dia, principalmente as que mais nos custam, quer sejam na família ou na comunidade. Também as coisas boas que vão surgindo. Mas reveste-se igualmente da maior importância a atitude de Maria, isto é, unir-se a Jesus através da oração, o que nos recorda a vida contemplativa e a sua enorme importância em prol do bem. Recordo uma passagem do Evangelho, sobejamente conhecida. “… e certa mulher, de nome Marta, recebeu-O em sua casa. Sua irmã Maria, sentou-se aos pés do Senhor e ficou a escutar a Sua palavra. Marta estava ocupada com muitos fazeres. Aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço”? Jesus respondeu: “Marta, Marta! Preocupas-te e andas agitada com muitas coisas, porém só uma é necessária, Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada”. Na verdade, o ideal, seria conseguirmos harmonizar as duas partes, quer na vida consagrada, quer na vida em sociedade. Marta enquanto símbolo da vida ativa e Maria da vida contemplativa. Torna-se difícil conciliar mas não impossível. É preciso possuir alguma heroicidade e fortaleza. Os pequenos sacrifícios, constituem as coisas pequenas, que têm um valor infinito aos olhos de Deus. Devemos procurar manter sempre a esperança, lutar pela vida, estarmos atentos a quem mais necessita. Aceitarmos as limitações e as faltas que cometemos, oferecendo-as por uma intenção particular. Darmos graças a Deus por tudo, mesmo pelas nossas limitações. Devemos ser compreensivos e transigentes para com os outros, recordando a abundância de amor que Jesus teve e tem por nós, cada dia, bem como a sua infinita misericórdia. Um Jesus que não nos condena e que tudo nos perdoa, que quis ir até ao fim, submetendo-se a todos os padecimentos que poderia evitar, enquanto Filho de Deus muito amado. São Josemaria in Caminho ponto 217, escreveu: “Quero que sejas feliz na terra: - Não o serás se não perdes esse medo à dor. Porque enquanto “caminhamos”, na dor está precisamente a felicidade.

Encontrava-me absorvida nestes pensamentos quando recordei que tinha uma visita orientada a um museu da cidade de Lisboa. Chovia, estava frio, o museu situa-se no centro da cidade. Logo será extremamente difícil estacionar. Por outro lado já se faz tarde para ir de transporte público. Os nossos medos e indecisões. Resolvi contrariar esta resistência e entregar nas mãos do Anjo da Guarda. Em boa hora o fiz. A baixa encontrava-se repleta de vida e de turistas. Havia música, alegria, descontração e momentos de relaxe. Consegui estacionar, perto do Jardim do Príncipe Real, onde decorria uma feira com venda de produtos alimentares. Longe é verdade mas a caminhada far-me-ia bem. Passei por inúmeros restaurantes novos com muito bom aspeto. À memória veio-me o nome da Pastelaria Francesa onde ia com a avó quando vinha a Lisboa, degustar uma excelente omelete. Tinha dado lugar a outro restaurante. Que saudades e que pena. Continuei a caminhada usufruindo de uma vista fantástica de Lisboa no Miradouro e Jardim de S. Pedro de Alcântara, situado perto do elevador da Glória, onde existia um número infindável de turistas a aguardar vez para entrar. No miradouro, fiquei maravilhada com a panorâmica de Lisboa tendo como pano de fundo um arco-íris devido a um aguaceiro que se tinha feito sentir. Magnifico. Que bem que me sentia enquanto turista na minha própria cidade! Museu para te que quero! Não será hoje certamente. Bem, o dever chama. Fui até ao Museu de S. Roque. Afinal, tinha tomado mal nota na agenda da data do evento. Deus escreve direito por linhas tortas! Assim foi possível continuar o passeio turístico, descomprimir um pouco mais. Amanhã o dia será diferente, assumindo o agradável papel de avó, face às férias da Páscoa. Como foi bom usufruir da vista panorâmica da Rua Augusta, sobre o Terreiro do Paço, como seu arco memorável e o rio Tejo ao fundo. Ao centro a impressionante estátua equestre do rei Dom José um dos mais emblemáticos monumentos da cidade de Lisboa. E a chuva regressou. Refugiei-me no restaurante “Martinho da Arcada” tão ligado ao escritor/poeta Fernando Pessoa, a funcionar desde 1782. Recordei um poema tão conhecido seu. “O poeta é fingidor; Finge tão completamente; Que chega a fingir que é dor; A dor que deveras sente”. Depois de um café reconfortante segui até ao Cais das Colunas. Queria ver o rio de perto, ainda que chovesse. Na verdade, a cidade de Lisboa é mesmo muito bonita.

Bem, chegou a hora de me retirar, já está a anoitecer. De repente veio-me à ideia que Jesus também se retirava. Para rezar. O amor infinito de Deus. Jesus dá-nos tempo. Quer salvar-nos, mas concede-nos a liberdade de escolher, não impondo a Sua vontade. É mesmo um Pai de Misericórdia. Aqueles que se santificaram estão hoje na glória de Deus. Se conseguiram também nós vamos conseguir. Termino este artigo denominado “Mais Um Dia de Vida”, dando graças a Deus por tudo o que nos tem proporcionado. As coisas boas e as menos boas servem para nos santificarmos. Santa Maria, refugium peccatorum, concede-nos as forças necessárias para permanecermos junto de Jesus nos momentos difíceis com espírito de desagravo e de corredenção.

Maria Helena Paes



Sem comentários:

Enviar um comentário