E num ápice concluíram-se as
férias escolares do período da Páscoa. Este ano tive o privilégio de usufruir
da companhia da minha neta durante uns dias. Como sempre, aprendi muito com
ela. Creio, que é reciproco. Constituem as relações intergeracionais. Nestes
dias decidi estar totalmente disponível para ela. Foi muito bom observar a vida
através dos olhos de uma criança. Em particular houve duas frases que muito me
sensibilizaram. Depois de uma “birra” para adquirir um brinquedo, parou uns
momentos pensativa, tendo seguidamente exclamado: “Sabes vovó, o mais importante
não é o brinquedo, é o amor que me dás!”. Noutra ocasião, em que soube que um
primo da mesma idade vinha passar o dia com ela, com uma ida ao cinema,
referiu: “Vai ser um dia feliz!”. Bem, nestes dias em que vesti a “pele” de
criança, apesar de me ter cansado e tido uma preocupação com a sua segurança e bem-estar,
também fui feliz ao observar a sua alegria, o seu carinho, a sua companhia. Com
algum grau de frequência contestavam as minhas decisões. Tinha de explicar os
motivos até aceitarem. Se alguma vez cedi, talvez já por cansaço, seguidamente
verificavam que eu tinha razão. E fomos gerindo e conciliando as expetativas,
as diferentes vontades, em que houve, na verdade, alguma cedência da minha
parte, relativamente à alimentação. Enfim, os gostos são diferentes. Para eles
o melhor restaurante do mundo era de fast-food
porque dava brinquedos. Então uma ida ao cinema envolvia um almoço de hamburguers e a aquisição de pipocas
para deglutirem durante o filme de desenhos animados. Novos tempos! Tinha que
me adaptar já que lhes queria proporcionar um dia feliz, ao seu modo. A minha
neta antes de adormecer na véspera tinha rezado por essa intenção. Em suma,
procurei estabelecer todos os dias um programa diferente, criando novas
memórias de âmbito cultural e relacional, avivando outras já quase esquecidas.
Espero que a seu tempo produza frutos. E hoje ao fazer o balanço destes dias,
fico feliz por ter conseguido conciliar as cerimónias da Semana Santa, em
particular o Tríduo Pascal com a presença da minha neta e o apoio dos pais.
Semanas também elas repletas de acontecimentos que muito nos entristecem, ou
seja, o acidente com o autocarro na ilha da Madeira, o incêndio da Catedral de Notre-Dame em Paris, que graças a Deus,
tinha tido a oportunidade de visitar várias vezes e espero, que me seja
concedida a oportunidade de lá voltar um dia, após a sua recuperação. Também os
atentados no Sri-Lanka, antigo
Ceilão, que nos deixaram com o coração cheio de dor e muito entristecido. O
homem é capaz de realizar obras magníficas, mas também as piores. Mas a Páscoa
enche-nos de esperança no futuro. Cristo vive!
Tendo como base a frase da minha
neta, isto é, um dia feliz, resolvi proporcionar esse mesmo dia no domingo de
Páscoa a uma amiga com quase cem anos. Sabia que gosta de um prato de peixe
especial. Fui buscá-la à Residência assistida e levei-a a almoçar. Como estava
feliz a saborear o prato de peixe… Também por ver inúmeras famílias a almoçar
juntas a celebrar o dia da Ressurreição de Jesus. Recordámos tempos antigos.
Depois chegou o momento de tomar um café com um doce muito do seu agrado que já
nem se lembrava que existia. “Tudo muito bom”, referia satisfeita quando a
deixei na residência, “foi um dia feliz!”. Antes de me juntar à família que me
aguardava, ainda resolvi dar um passeio à beira-rio, em Belém, para
descomprimir um pouco. Enquanto caminhava, no meio de muitas famílias, recordei
que nestes dias decorreu na sede das Nações Unidas de 15 a 18 de Abril, em Nova
Iorque, a 10ª reunião do Grupo de Composição Aberta para o Envelhecimento-OWEG,
sob o lema: Medidas para melhorar a promoção e a proteção dos direitos humanos,
a dignidade das pessoas idosas, as melhores práticas, ensinamentos adquiridos,
possível conteúdo de um instrumento jurídico multilateral.
A HelpAge International, que dá voz a uma rede de organizações que
promovem uma vida digna, segura e saudável, submeteu um documento com o lema:
“Viver, não somente sobreviver”, o que dizem as pessoas idosas sobre o seu
direito à proteção, segurança social, capacitação, aprendizagem contínua e
desenvolvimento de competências. Por outro lado, a DESA-Departamento de
Assuntos Económicos e Sociais, deu o seu contributo através de um documento de
trabalho que tem como foco a área: “Educação, formação, aprendizagem ao longo
da vida, capacidade de construir”. O OHCHR-Departamento do Alto-comissário para
os Direitos Humanos submeteu um documento de trabalho “Proteção Social e
segurança social”. Esta entidade, em colaboração com a DESA, apresentaram um
importante documento de trabalho na forma de Conteúdo Normativo para um
possível “Padrão Internacional” nas áreas “Autonomia e Independência” e
“Cuidados Paliativos e Tratamento de Longa-duração”. Por constituírem
documentos muito específicos, em que se encontram envolvidos todos os intervenientes,
pretendo unicamente deixar uma boa nota de esperança para o futuro deste grupo
alvo, através da adequação e melhoria dos serviços existentes e da promoção de
novas respostas que vão de encontro com as necessidades, não só as detetadas,
bem como as futuras, face ao aumento da esperança média de vida.
Termino este artigo denominado
“Um Dia Feliz”, com a certeza de que Nossa Senhora, Rainha da Esperança e da
Família, não deixará certamente de atender às nossas solicitações, para que se
alcance uma sociedade solidária, justa, fraterna, que promova o bem-estar e a
promoção, cada vez maior, das relações entre as gerações, já que todos possuem
uma necessidade específica a que importa dar resposta.
Maria Helena Paes |
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