O Santo Padre termina a Via Sacra destacando em uma oração as injustiças
e esperanças de hoje, e que “a aurora do sol é mais forte do que a
escuridão da noite”
El Papa Francisco En El Coliseo En El Via Crucis (Foto CTV-Osservatore Romano) |
No sugestivo cenário do Coliseu Romano o Papa Francisco presidiu a
Via Sacra na noite dessa sexta-feira, 25, perante milhares de pessoas lá
reunidas com velas nas mãos e em meio a excepcionais medidas de
segurança.
As 14 estações intituladas “Deus é misericórdia” foram escritas pelo
cardeal Gualtiero Bassetti arcebispo de Perugia, encarregado pelo Santo
Padre, lembrando os dramas do nosso tempo, destacando, entretanto, que
Deus não só obra misericórdia, mas que é misericórdia.
Partindo do interior do Coliseu, lugar em que morreram muitos
mártires cristãos, pessoas de várias nacionalidades acompanharam a cruz
no seu percurso, dentre as quais de Bolivia, Paraguai, México, e uma
família do equador. Também da Rússia, China, Bósnia, Síria e de outras
partes do mundo. Com eles estava também uma pessoa em cadeira de rodas.
Ao final da Via Sacra o Papa rezou a seguinte oração na qual reflecte
as esperanças e as preocupações, os bens e males do mundo de hoje em que
aparecem a cruz de Cristo. Na sua oração o Papa disse:
Ó Cruz de Cristo!
Ó Cruz de Cristo, símbolo do amor divino e da injustiça humana, ícone
do sacrifício supremo por amor e do egoísmo extremo por insensatez,
instrumento de morte e caminho de ressurreição, sinal da obediência e
emblema da traição, patíbulo da perseguição e estandarte da vitória.
Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos erguida nas nossas irmãs e nos
nossos irmãos assassinados, queimados vivos, degolados e decapitados com
as espadas barbaras e com o silêncio velhaco.
O Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos rostos exaustos e
assustados das crianças, das mulheres e das pessoas que fogem das
guerras e das violências e, muitas vezes, não encontram senão a morte e
muitos Pilatos com as mãos lavadas.
Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos doutores da letra e não do
espírito, da morte e não da vida, que, em vez de ensinar a misericórdia e
a vida, ameaçam com a punição e a morte e condenam o justo.
Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos ministros infiéis que, em
vez de se despojarem das suas vãs ambições, despojam mesmo os inocentes
da sua dignidade.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos corações empedernidos
daqueles que julgam comodamente os outros, corações prontos a
condená-los até mesmo à lapidação, sem nunca se darem conta dos seus
pecados e culpas.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos fundamentalismos e no
terrorismo dos seguidores de alguma religião que profanam o nome de Deus
e o utilizam para justificar as suas inauditas violências.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje naqueles que querem tirar-te
dos lugares públicos e excluir-te da vida pública, em nome de certo
paganismo laicista ou mesmo em nome da igualdade que tu própria nos
ensinaste.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos poderosos e nos vendedores
de armas que alimentam a fornalha das guerras com o sangue inocente dos
irmãos e que dão de comer aos seus filhos o pão ensanguentado.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos traidores que, por trinta dinheiros, entregam à morte qualquer um.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ladrões e corruptos que, em
vez de salvaguardar o bem comum e a ética, vendem-se no miserável
mercado da imoralidade.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos insensatos que constroem
depósitos para armazenar tesouros que perecem, deixando Lázaro morrer de
fome às suas portas.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos destruidores da nossa «casa comum» que, egoisticamente, arruínam o futuro das próximas gerações.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos idosos abandonados pelos
seus familiares, nas pessoas com deficiência e nas crianças desnutridas e
descartadas pela nossa sociedade egoísta e hipócrita.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje no nosso Mediterrâneo e no Mar
Egeu feitos um cemitério insaciável, imagem da nossa consciência
insensível e narcotizada.
Ó Cruz de Cristo, imagem do amor sem fim e caminho da Ressurreição,
vemos-te ainda hoje nas pessoas boas e justas que fazem o bem sem
procurar aplausos nem a admiração dos outros.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ministros fiéis e humildes
que iluminam a escuridão da nossa vida como velas que se consumam
gratuitamente para iluminar a vida dos últimos.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos rostos das religiosas e dos
consagrados – os bons samaritanos – que abandonam tudo para faixar, no
silêncio evangélico, as feridas das pobrezas e da injustiça.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos misericordiosos que
encontram na misericórdia a expressão mais alta da justiça e da fé.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nas pessoas simples que vivem
jubilosamente a sua fé no dia-a-dia e na filial observância dos
mandamentos.
O Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos arrependidos que, a partir
das profundezas da miséria dos seus pecados, sabem gritar: Senhor,
lembra-Te de mim no teu reino!
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos Beatos e nos Santos que
sabem atravessar a noite escura da fé sem perder a confiança em ti e sem
a pretensão de compreender o teu silêncio misterioso.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nas famílias que vivem com fidelidade e fecundidade a sua vocação matrimonial.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos voluntários que generosamente socorrem os necessitados e os feridos.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos perseguidos pela sua fé
que, no sofrimento, continuam a dar testemunho autêntico de Jesus e do
Evangelho.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos que sonham com um coração
de criança e que trabalham cada dia para tornar o mundo um lugar melhor,
mais humana e mais justo.
Em ti, Santa Cruz, vemos Deus que ama até ao fim, e vemos o ódio que
domina e cega os corações e as mentes daqueles que preferem as trevas à
luz.
Ó Cruz de Cristo, Arca de Noé que salvou a humanidade do dilúvio do
pecado, salva-nos do mal e do maligno! Ó Trono de David e selo da
Aliança divina e eterna, desperta-nos das seduções da vaidade! Ó grito
de amor, suscita em nós o desejo de Deus, do bem e da luz.
Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que o amanhecer do sol é mais forte do
que a escuridão da noite. Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que a aparente
vitória do mal se dissipa diante do túmulo vazio e perante a certeza da
Ressurreição e do amor de Deus que nada pode derrotar, obscurecer ou
enfraquecer. Amém!
in
Sem comentários:
Enviar um comentário