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sexta-feira, 25 de março de 2016

Risco de atentado na Itália? “Elevado, por causa das nossas tradições cristãs”

Pollari, ex director do Sismi, analisa os atentados de Bruxelas e a possibilidade de que um alvo possa ser a Itália, onde a inteligência, no entanto, tem uma “herança preciosa da experiência”



Primeiro o aeroporto, em seguida, o metro. 32 mortos e mais de 250 feridos. Ainda bastante fresca as mais recentes feridas de um rastro de atentados terroristas que tragicamente começaram a flutuar na Europa. Quatro meses atrás Paris foi a vítima do ódio jihadista, hoje Bruxelas. E o risco de que a capital belga não seja o último parágrafo desta saga de terror é muito alto.

Alto o alarme também na Itália. Assim confirma o general Nicoló Pollari, director do Sismi de 2001 a 2006. Pollari tomou as rédeas da intelligence militar italiana pouco depois do 11 de Setembro, em um período eufemisticamente “quente”. Em virtude da enorme experiência amadurecida no campo e do aprofundamento do conhecimento do terrorismo islâmico, o ex 007 explica a ZENIT o que está por trás dos atentados de Bruxelas, como conter este fenómeno e o nível de risco para a Itália. E conta como a inteligência italiana soube dar no passado “apreciadíssimas provas de si mesma”.

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ZENIT: General, há quatro meses dos atentados de Paris o terrorismo voltou a atacar, desta vez Bruxelas …
Nicoló Pollari: Os ataques de Paris e de Bruxelas destacam não só a fraqueza dos sistemas ocidentais, incertos e divididos sobre o modo de combater estes agressores, mas especialmente a evolução dos mesmos já, evidentemente, regulamentados por novas formas de governance. O assim chamado Califato, por exemplo, embora alimentando-se de um modelo terrorista do Al Qaeda, conduz uma guerra híbrida centrada em três canais: guerras convencionais, ao lado de operações realizadas por lobos solitários e por comandos, guerras psicológicas e mediáticas através de uma estrutura substancialmente afim a um verdadeiro Estado e por meio de apropriados órgãos de imprensa deles ou de referência – especialmente através de uma conhecida revista (Dabiq) – e, finalmente, com a militarização do terrorismo. Neste caso tratou-se, como já nos atentados de Paris, de uma verdadeira operação militar perfeitamente organizada que utilizou elementos da rede nacional, com a direcção de um Isis Commander, mais do que provavelmente vindo do Iraque. Evidentemente a confidencialidade absoluta e o elemento surpresa obtiveram êxito, garantindo o pleno sucesso dos ataques.

ZENIT: Quais medidas devem ser tomadas para barrar este fenómeno?
Nicoló Pollari: Medir-se para barrar e, se possível, neutralizar este fenómeno significa conhece-lo e tomar nota de forma realista, promovendo tudo o que for necessário em termos de medidas sócio-políticas, de qualidade e eficiência dos dispositivos de segurança mas, especialmente, a partir de um uso adequado e próprio da intelligence, das redes informativas e da cooperação internacional, passando das boas intenções para a acção concreta.

ZENIT: Existe o risco de que, em nome da segurança sejam adoptadas leis especiais – controle nos movimentos, nas comunicações, na correspondência, nas transacções financeiras – que corroem fatias importantes das liberdades individuais?
Nicoló Pollari: Para enfrentar esta ameaça não devemos de modo algum renunciar a direitos fundamentais nem sequer atenuá-los, à nossa cultura e ao nível de civilização que, graças a Deus, ao longo do tempo conquistamos. Na verdade, se tivéssemos que pensar em fazê-lo para dar maior força e eficácia à acção de combate, não só cometeríamos um trágico e imperdoável erro, mas estaríamos certificando a vitória do fundamentalismo islâmico. Dispomos de anticorpos, instrumentos, meios e percursos técnico-operativos que permitem enfrentarmos com o problema em termos eficazes e concretamente profícuos, sem ter que romper nenhum princípio, direito ou algumas das liberdades que desfrutamos. Mas, é necessário querer, escolhendo homens capazes e os métodos mais adequados, com plena consciência e com justa determinação, deixando de lado as concorrências políticas internas, os ciúmes de pertença e qualquer outro confronto ou intenção que não seja alcançar tais objectivos.

ZENIT: É verdade a existência de um acordo entre o crime organizado e o terrorismo islâmico na Itália?
Nicoló Pollari: Em um plano estratégico o descarto. No nível táctico, em função de objectivos particulares, é possível e, muitas vezes ocorre.

ZENIT: O ministro do Interior, Angelino Alfano, após os ataques de Paris, afirmou: “No nosso País podemos ficar tranquilos, o sistema de inteligência funciona”. Quais são as características que o tornam eficiente? Talvez a experiência amadurecida durante os anos de chumbo?
Nicoló Pollari: Certamente, as experiências adquiridas nos anos de chumbo, até aquelas relativas à explosão terrorista do 11 de Setembro de 2001 e dos anos das operações militares no Afeganistão e no Iraque, são uma riqueza preciosa de experiência. As Forças policiais e a nossa inteligência souberam mostrar-se capazes. Basta pensar ao que fez o general Dalla Chiesa e muitos outros, com aquele viático, souberam fazer depois. Basta pensar então, ao que soube fazer a inteligência italiana quando, no período “quente” dos atentados contra interesses europeus, havia hipóteses de ameaça concreta no nosso país, quando durante o 2004 em que um grupo salafita da galáxia qaedista projectou explodir a embaixada italiana de Beirut. O Sismi, por meio das próprias redes de informação naquela área, conseguiu saber da iniciativa e encontrar preventivamente todas as pessoas envolvidas, incluindo o famoso “Miqati” que dirigia a operação. O atentado foi frustrado. Todos foram preso e condenado. O explosivo, os projécteis, as munições e as armas da organização foram identificadas e apreendidas. Deve-se, especialmente à  perspicácia e coragem do então chefe da 1ª Divisão do Sismi a captura física de Miqati, fugitivo, sem rosto e procurado por todas as forças policiais e de inteligência do mundo, já responsável e condenado definitivamente por gravíssimos e cruentos atentados terroristas. A esperança e o sentido das palavras do Ministro residem na expectativa de que na raiz do que se faz, e, especialmente, do que se deverá fazer estejam estas experiências e profissionalismo.

ZENIT: O terrorismo islâmico nunca atingiu, pelo menos no Ocidente, lugares sagrados cristãos. Na sua opinião, trata-se de um claro desejo de atacar lugares simbólicos não da fé cristã, mas sim da secularização ocidental?
Nicoló Pollari: A meta actual dos atentados do terrorismo islâmico é representada pelos efeitos que se seguem a cada acção realizada com sucesso. O que o Isis pretende, portanto, é antes de mais nada o sucesso das operações realizadas, a dramatização dos eventos e dos cenários, o elevado número das vítimas, a intensidade e a extensão das destruições, mas, especialmente, o retorno mediático e a ênfase que se segue. Excluo que haja um claro desejo de atingir ou não este ou aquele lugar simbólico na Europa. O que fizeram no resto do mundo é um testemunho eloquente! A verdadeira prioridade do Isis é a de dar sempre plena demonstração de vitalidade, de força, de determinação e de infalibilidade. Não se sentem, portanto, necessariamente e prioritariamente vinculados à importância dos objectivos particulares, nem à relativa expressividade sugestiva: o que lhes interessa é, antes de mais nada, o sucesso da operação. Todo o resto vem depois.

ZENIT: O quão alto é o nível de risco para a Itália durante o Jubileu?
Nicoló Pollari: O nível de risco actual na Itália deve ser considerado alto. E não necessariamente em dependência e em estreita correlação com as celebrações do Jubileu, mas semelhança substancial da posição cultural e político-militar do nosso País com relação às outras democracias ocidentais e, portanto, pela atitude que se teve com os mesmos eventos das áreas do oriente médio e norte da África nas últimas décadas. E também pelas tradições cristãs que caracterizam a nossa história e a nossa vida, pela proximidade, não só física, da sede papal, pela qualidade da convivência e das interacções com as comunidades hebraicas e, em suma, pela diversidade do nosso modo de vida e de relacionamento.


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