Foto: European Pressphoto Agency |
D. Sebastian Shaw visitou sobreviventes do ataque suicida do último domingo, que matou 72 pessoas, entre elas 30 crianças
Em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), enviadas hoje à Agência ECCLESIA, D. Sebastian Shaw sublinhou o cenário “difícil” com que se deparou e que envolve não apenas cristãos mas também membros da comunidade muçulmana que estavam no parque onde decorreu o atentado, em Gulshan-e-Iqbal.
“Visitei cada cama e cada vítima independentemente da sua fé. Foi muito difícil, porque vi muitas crianças com 4, 5 anos, cristãs e muçulmanas, feridas ou assassinadas neste terrível atentado”, descreveu o prelado.
Aos feridos da comunidade cristã, o arcebispo de Lahore quis sobretudo levar “esperança” diante de um futuro que se adivinha “muito difícil”.
O atentado do último domingo já foi reivindicado por um grupo radical muçulmano ligado aos talibãs, que prometeu entretanto que vai continuar a atacar a comunidade cristã do Paquistão.
Nesta conjuntura, D. Sebastian Shaw encoraja os cristãos a “seguirem em frente” com a sua vida, “apesar do peso da sua cruz”, com a certeza de que “Deus estará sempre com eles”.
Contactada pela Agência ECCLESIA, a diretora da Fundação AIS – Portugal realça que o ataque suicida do último domingo “pode ser visto como um aviso às autoridades de Lahore, que tinham declarado o dia como feriado não só para os cristãos mas também para a comunidade hindu".
Catarina Martins lembra que na base de toda esta violência poderá estar ainda uma retaliação contra o Governo paquistanês, na sequência da recente execução do homem que assassinou em 2011 o então governador de Punjab, Salman Taseer.
Este responsável político foi morto por defender publicamente alterações à lei da blasfémia e por estar ao lado de casos como o de Asia Bibi, uma mulher cristã que está há vários anos encarcerada por alegadamente ter ofendido Maomé.
“O governo tinha tomado medidas excecionais de segurança para as comunidades cristãs celebrassem a Páscoa mas nunca imaginou que pudesse haver um ataque num parque, como este”, realça a responsável da AIS.
Para Catarina Martins, quer a atribuição do feriado quer a execução do assassino de Salman Taseer podem ser vistos como um sinal de que algo está a mudar no governo paquistanês, já que “até há bem pouco tempo”, os responsáveis políticos no Paquistão “fechavam muitas vezes os olhos a estes ataques, não só aos cristãos mas a outras minorias religiosas”.
“Mas infelizmente o Paquistão é um país onde há muitos grupos radicais e estas decisões do governo não vão ser bem aceites. Daí que tenham ameaçado que continuarão a fazer estes ataques”, aponta Catarina Martins, que sublinha que esta questão vai muito além das diferenças religiosas e de fé.
“A comunidade cristã é vista no Paquistão como o Ocidente, sempre que há alguma coisa que o Ocidente possa fazer contra países de maioria muçulmana, a comunidade cristã é responsabilizada por tudo isto”, conclui.
JCP
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