Países como Síria, Ucrânia, Iraque, Iémene, Líbia, Nigéria, Chade, Costa
de Marfim ou Venezuela no centro da mensagem da bênção Urbi et Orbi no
Domingo de Páscoa
Publicamos a seguir a mensagem Urbi et Orbi do Papa Francisco
pronunciada da sacada central da basílica vaticana hoje, domingo, 27 de Março:
***
«Louvai o Senhor porque ele é bom:
porque eterna é a sua misericórdia» (Sl 135,1).
porque eterna é a sua misericórdia» (Sl 135,1).
Queridos irmãos e irmãs, feliz Páscoa!
Jesus Cristo, encarnação da misericórdia de Deus, por amor morreu na
cruz e por amor ressuscitou. Por isso, proclamamos hoje: Jesus é o
Senhor!
A sua Ressurreição realiza plenamente a profecia do Salmo: a
misericórdia de Deus é eterna, o seu amor é para sempre, não morre
jamais. Podemos confiar completamente N’Ele, e damos-Lhe graças porque
por nós Ele desceu até ao fundo do abismo.
Diante dos abismos espirituais e morais da humanidade, diante dos
vazios que se abrem nos corações e que provocam ódio e morte, somente
uma infinita misericórdia pode nos dar a salvação. Só Deus pode
preencher com o seu amor esses vazios, esses abismos, e não permitir que
submerjamos, mas continuemos a caminhar juntos em direcção à Terra da
liberdade e da vida.
O anúncio jubiloso da Páscoa: Jesus, o crucificado, não está aqui, ressuscitou (cf. Mt
28,5-6) oferece-nos a certeza consoladora de que o abismo da morte foi
transposto e, com isso, foram derrotados o luto, o pranto e a dor (cf. Ap
21,4). O Senhor, que sofreu o abandono dos seus discípulos, o peso de
uma condenação injusta e a vergonha de uma morte infame, faz-nos agora
compartilhar a sua vida imortal, e nos oferece o seu olhar de ternura e
compaixão para com os famintos e sedentos, com os estrangeiros e
prisioneiros, com os marginalizados e descartados, com as vítimas de
abuso e violência. O mundo está cheio de pessoas que sofrem no corpo e
no espírito, ao passo que as crônicas diárias estão repletas de relatos
de crimes brutais, que muitas vezes têm lugar dentro do lar, e de
conflitos armados numa grande escala, que submetem populações inteiras a
provas inimagináveis.
Cristo ressuscitado indica caminhos de esperança para a querida
Síria, um País devastado por um longo conflito, com o seu cortejo triste
de destruição, morte, de desprezo pelo direito humanitário e
desintegração da convivência civil. Confiamos ao poder do Senhor
ressuscitado as conversações em curso, de modo que, com a boa vontade e a
cooperação de todos, seja possível colher os frutos da paz e dar início
à construção de uma sociedade fraterna, que respeite a dignidade e os
direitos de cada cidadão. A mensagem de vida proclamada pelo anjo junto
da pedra rolada do sepulcro vença a dureza dos corações e promova um
encontro fecundo entre povos e culturas nas outras regiões da bacia do
Mediterrâneo e do Oriente Médio, particularmente no Iraque, Iémene e na
Líbia.
A imagem do homem novo, que resplandece no rosto de Cristo, favoreça a
convivência entre israelitas e palestinianos na Terra Santa, bem como a
disponibilidade paciente e o esforço diário para trabalhar no sentido de
construir as bases de uma paz justa e duradoura através de uma
negociação directa e sincera. O Senhor da vida acompanhe também os
esforços para alcançar uma solução definitiva para a guerra na Ucrânia,
inspirando e apoiando igualmente as iniciativas de ajuda humanitária,
entre as quais a libertação de pessoas detidas.
O Senhor Jesus, nossa paz (Ef 2,14), que ressuscitando
derrotou o mal e o pecado, possa favorecer, nesta festa de Páscoa, a
nossa proximidade com as vítimas do terrorismo, forma de violência cega e
brutal que continua a derramar sangue inocente em diversas partes do
mundo, como aconteceu nos ataques recentes na Bélgica, Turquia, Nigéria,
Chade, Camarões, Costa do Marfim e Iraque; Possam frutificar os
fermentos de esperança e as perspectivas de paz na África; penso de modo
particular no Burundi, Moçambique, República Democrática do Congo e o
Sudão do Sul, marcados por tensões políticas e sociais.
Com as armas do amor, Deus derrotou o egoísmo e a morte; seu Filho
Jesus é a porta da misericórdia aberta de par em par para todos. Que a
sua mensagem pascal possa sempre se projectar mais sobre o povo
venezuelano nas difíceis condições em que vive e sobre aqueles que detêm
em suas mãos os destinos do País, para que se possa trabalhar em vista
do bem comum, buscando espaços de diálogo e colaboração ente todos. Que
por todos os lados possam ser tomadas medidas para promover a cultura do
encontro, a justiça e o respeito mútuo, os quais só podem garantir o
bem-estar espiritual e material dos cidadãos.
O Cristo ressuscitado, anúncio de vida para toda a humanidade,
reverbera através dos séculos e nos convida não esquecer dos homens e
mulheres na sua jornada em busca de um futuro melhor; grupos cada vez
mais números de migrantes e refugiados – entre os quais muitas crianças –
que fogem da guerra, da fome, da pobreza e da injustiça social. Esses
nossos irmãos e irmãs, que nos seus caminhos encontram, com demasiada
frequência, a morte ou, ao menos, a recusa dos que poderiam
oferecer-lhes hospitalidade e ajuda. Que a próxima rodada da Cúpula
Mundial Humanitária não deixe de colocar no centro a pessoa humana com a
sua dignidade e possa desenvolver políticas capazes de ajudar e
proteger as vítimas de conflitos e de outras situações de emergência,
especialmente os mais vulneráveis e os que sofrem perseguição por
motivos étnicos e religiosos.
Neste dia glorioso, «alegre-se a terra que em meio a tantas luzes
resplandece» (cf. Proclamação da Páscoa), mas ainda assim tão abusada e
vilipendiada por uma exploração ávida pelo lucro, o que altera o
equilíbrio da natureza. Penso em particular nas regiões afectadas pelos
efeitos das mudanças climáticas, que muitas vezes causam secas ou
violentas inundações, resultando em crises alimentares em diferentes
partes do planeta.
Com os nossos irmãos e irmãs que são perseguidos por causa da sua fé e
por sua lealdade ao nome de Cristo e diante do mal que parece
prevalecer na vida de tantas pessoas, ouçamos novamente as palavras
consoladoras do Senhor: «Não tenhais medo! Eu venci o mundo!» (Jo
16,33). Hoje é o dia radiante desta vitória, porque Cristo calcou a
morte e com a sua ressurreição fez resplandecer a vida e a imortalidade
(cf. 2Tm 1,10). «Ele nos fez passar da escravidão à liberdade, da
tristeza à alegria, do luto à festa, das trevas à luz, da escravidão à
redenção. Por isso, proclamemos diante d’Ele: Aleluia!» (Melitão de
Sardes, Homilia Pascal).
Para aqueles que em nossas sociedades perderam toda a esperança e
alegria de viver, para os idosos oprimidos que na solidão sentem as suas
forças esvaindo-se, para os jovens aos quais parece não existir o
futuro, a todos eu dirijo mais uma vez as palavras do Ressuscitado: «Eis
que faço novas todas as coisas… a quem tiver sede, eu darei, de graça,
da fonte da água vivificante» (Ap 21,5-6). Esta mensagem
consoladora de Jesus possa ajudar cada um de nós a recomeçar com mais
coragem e esperança, para assim construirmos estradas de reconciliação
com Deus e com os irmãos. E temos tanta necessidade disto!
in
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