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sábado, 19 de março de 2016

Cardeal Sarah: “Quem busca a felicidade longe de Deus se perde”

Em apresentação de livro sobre a mística nas grandes religiões, ele sublinhou a importância do diálogo inter-religioso – que não deve ser confundido com o sincretismo


"La Via Mistica nelle Grandi Religioni" - ZENIT FC
É fundamental o diálogo inter-religioso, que não se alcança através de uma mistura indistinta, mas com cada fé mantendo a sua identidade, declarou o cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, citando o livro “La via mistica nelle grandi religioni” (LEV 2016 – “O Caminho Místico nas Grandes Religiões”, ndr – sem tradução oficial ao português), do pe. Salvatore Giuliano.

O livro foi apresentado na tarde de ontem no Pontifício Ateneu Regina Apostolorum, em Roma, onde o padre Giuliano ensina Teologia Dogmática e Sagrada Liturgia. Para o cardeal Sarah, o texto “se concentra em alguns dos temas de grande actualidade em nossos tempos: o diálogo inter-religioso e o conhecimento das diferentes formas por meio das quais o homem tem tentado encontrar o mistério de Deus”.

O cardeal foi à raiz do encontro entre os diferentes credos, até a declaração Nostra Aetate, do Concílio Vaticano II, que se revela extremamente actual diante “do grande fluxo migratório” e sua consequência de “aproximar como nunca muitas religiões já consideradas distantes”.

Nos últimos cinquenta anos, por impulso da Nostra Aetate, seguiram-se iniciativas focadas no diálogo entre a Igreja católica e as outras religiões. O cardeal Sarah identifica no encontro de Assis, em 1986, “um evento particularmente significativo”. Concebido e promovido por São João Paulo II, o evento deixou marca indelével e “sua chama se espalhou por todo o mundo, como sinal permanente de esperança”.

O que já foi “indiferença ou oposição” se transformou em “colaboração e benevolência”. De “inimigos e estrangeiros, procuramos agora tornar-nos amigos e irmãos”.

Este compromisso, no entanto, nem sempre é mútuo. O cardeal Sarah disse a respeito: “Em Roma, centro da Igreja católica, há hoje uma grande mesquita. O inverso, em Meca ou Medina, seria impossível”, porque “aos não muçulmanos é estritamente proibido entrar nessas cidades”, sagradas para o islão.

Mas o mundo de hoje exige que todos os crentes trabalhem juntos e com as pessoas de boa vontade. O prefeito para o Culto Divino coloca os “muitos temas” que pedem “respostas reais” das grandes religiões: a paz, a fome, o direito à vida desde o início até o fim da existência terrena, a crise ambiental, a violência (especialmente em nome da religião), a crise antropológica, a degradação moral, a crise da família e a crise da esperança.

“Nós, crentes, não temos receitas para todos estes problemas, mas temos um grande recurso: a oração, o caminho para Deus, o caminho místico”. De resto, “só com a experiência viva de Deus é que o homem volta a ser plenamente ele mesmo”.

O cardeal destacou que “homens e mulheres, muitas vezes, são distraídos pelo ritmo frenético da sociedade sem dar ouvidos ao grande desejo do absoluto que está presente nas profundezas do eu”. Nunca se deve esquecer que, “na natureza do homem, estão unidas as dimensões material e espiritual”, e, portanto, “pela própria natureza, o homem é um ser religioso, e, sem referência ao Criador, não chegaria à plenitude na sua humanidade”.

A “busca de Deus” é própria de cada um de nós, ainda que “expressa de diferentes maneiras, através de diferentes religiões”. O cardeal Sarah reiterou então a necessidade de “chegar a um diálogo fecundo como caminho verdadeiro para a unidade e a paz”.

Essa unidade não deve ser confundida com uma amálgama de ideias confusas e ineficazes. “Não devemos cair no sincretismo ou no relativismo”, alertou, ressaltando que esses elementos “destroem os próprios fundamentos do diálogo e do respeito à diversidade”, um respeito que só pode ser verificado quando se mantém clara e forte a própria identidade. E clara e forte ela foi para aquelas famosas personalidades, de diferentes religiões, que trilharam “o caminho místico”.

O cardeal Sarah disse que “a oração, a penitência e a meditação silenciosa, movidas por uma ardente sede interior de Deus, acenderam os corações” desses místicos, elevando-os a “exemplos luminosos porque inflamados pelo ardor do Espírito Santo, que sopra onde quer”.

Seguindo o seu exemplo, podemos entender que a via mística é “a única oportunidade real para empreendermos o caminho que nos libertará do absurdo, da superficialidade da vida, levando-nos a uma vida de alegre interioridade”.

“Todo homem deve se lembrar que a eliminação da relação com a oração e com o silêncio também elimina a relação com Aquele que o criou e o faz viver”, porque “se a busca de sentido e felicidade estiver fora do fim de conhecer e amar a Deus, então o homem se extraviará sozinho”.

O “caminho místico”, portanto, está aberto a todo homem. Este é o ensinamento do livro do padre Giuliano, que, em seu discurso, mencionou também o padre Edward McNamara, decano da Faculdade de Teologia do Regina Apostolorum. Ele explicou que o “caminho místico” não é reservado apenas a uma “elite”, como se poderia erroneamente acreditar, mas é “um chamado que, na mente de Cristo, é universal”.


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