O prefeito da Casa Pontifícia fala de um papa emérito que tem uma “vida
de monge”, mas continua a receber visitas, ler e tocar piano
Sito Ufficiale "Fondazione Vaticana Joseph Ratzinger - Benedetto XVI" |
Uma ampla entrevista com o prefeito da Casa Pontifícia e secretário
do Papa Bento XVI foi publicada hoje na Itália com fotos inéditas dos
seus passeios nas montanhas de Abruzzo. “Me mantenho em forma com
passeios e caminhadas no Velino ou no Gran Sasso”, diz monsenhor Georg
Gänswein, que admite as suas duas “fraquezas”: “Sou muito guloso por
doces e tenho uma quantidade limitada de paciência. Mas me esforço
constantemente por melhorar”.
Disponível e afável, monsenhor Gänswein remonta 21 anos de
colaboração com o papa emérito, sem esquecer a tristeza pelas acusações
“infundadas contra o Pontífice”, o espanto pela renúncia de Bento XVI, a
dor pelo escândalo do Vatileaks. Ele afirma: “Em Abril, o Papa Bento
XVI celebra 89 anos: é como uma vela que lentamente e serenamente vai se
apagando, como acontece com muitos de nós. Está sereno, em paz com
Deus, consigo mesmo e o mundo. Se interessa por tudo o conserva o seu
humor fino e subtil, com o qual sabe “dar sabor”. Conservou uma grande
paixão pelos felinos. Nos nossos jardins, vivem Contessa e Zorro, dois
gatos que muitas vezes vêm “cumprimentar” o Papa emérito”.
O arcebispo alemão fala, pela primeira vez, do seu equilíbrio
interior sabiamente encontrado entre corpo e alma: “O verdadeiro segredo
para permanecer em forma é viver uma existência ordenada, tanto
fisicamente quanto espiritualmente, e ter uma bússola para seguir, com
todas as dificuldades e os fracassos humanos que obviamente existem”.
Uma vez por mês, com alguns amigos sacerdotes, vai a Abruzzo, para
caminhadas ou esquiar. De pequeno o seu sonho era o de se tornar como
Beckenbauer. Hoje, que tem menos tempo para praticar desportos, conserva,
porém, intactos os seus ensinamentos: “Jogar numa equipe te ensina a
importância das regras e exigência de respeitá-las”.
Em uma série de declarações feitas de coração aberto, monsenhor
Gänswein não esconde nem mesmo a história da sua vocação. “Não tive uma
iluminação especial – confia – não foi uma revelação, um acontecimento
deslumbrante. Até os 17 anos não tinha nenhuma ideia de me tornar
sacerdote. Depois da maturidade senti a necessidade de encontrar o
sentido da vida. Por isso decidi estudar filosofia e teologia na
Universidade. Depois, com a ajuda de um sacerdote, compreendi que a vida
pede o seu preço e entrei no seminário”. Até chegar a 1995, quando,
durante um café da manhã no Colégio Teutónico de Roma conheci o então
cardeal Ratzinger. “Era uma manhã de quinta-feira, quando tive o
primeiro encontro “pessoal” com o futuro papa”, recorda. “Depois, pelo
final de 1995, me pediu para me tornar colaborador da Congregação para a
doutrina da fé, da qual era o Prefeito. Desde aquela época, trabalho
com Joseph Ratzinger”.
Monsenhor Gänswein repercorre estes 21 anos e admite: “Fiquei triste
com os múltiplos ataques ao Papa Bento. Quantas vezes tive que ouvir e
ler que Ratzinger não reagiu de forma satisfatória contra a pedofilia,
enquanto que foi justamente ele, já como cardeal, que começou a
combate-la. Quantas críticas, acusações e calúnias infundadas com
relação a ele também em outras circunstâncias! Isso me machucou. Depois
houve o caso Vatileaks: Me senti pessoalmente atingido porque fui eu que
dei total confiança a uma pessoa que o traiu sem escrúpulos”.
Caso único na história da Igreja, o Arcebispo alemão colabora
simultaneamente com dois Papas. Deles diz: “São diferentes nos seus caracteres, nas personalidades e também no modo de comunicar e de
relacionar-se. Para mim, viver com o Papa Francisco é um estímulo: ele
procura o contacto directo, até mesmo físico, acaricia e se deixa
acariciar, superando assim as distâncias pessoais. O Papa Bento, por
outro lado, é mais reservado: acaricia com as palavras, mais do que com
os abraços. São duas personalidades diferentes, mas a coisa mais
importante é que ambos são autênticos, não procuram “copiar” ninguém”.
Um último pensamento é sobre a renúncia de Bento: “Eu sabia há muito
tempo, a sua decisão não foi repentina, mas amadureceu gradualmente e
com cuidado. Para mim, foi difícil de digerir esta decisão e manter o
segredo”. Tentou fazer com ele mudasse de ideia, admite: “tentei remar
contra e fiz algumas propostas práticas para facilitar o exercício do
seu ministério petrino. Mas desisti, quando compreendi que Bento não
tinha me confidenciado um pensamento hipotético, mas uma decisão
definitiva”.
Hoje, como está Bento? “Ele é um homem ancião, é claro, mas é
lúcidíssimo; Infelizmente, a caminhada tornou-se cansativa, por isso usa
um andador. Mantém uma correspondência bastante ampla, mas não escreve
mais livros, se limita a ditar cartas à sua secretária. Intencionalmente
leva uma vida monge, mas não está de forma alguma isolado: reza, lê,
ouve música, recebe visitas, toca o piano”.
in
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