Na minha mesa de Natal nunca falta o peru assado. Lembro-me, com saudades da minha infância, que em casa dos meus avós se embebedava o peru com aguardente e só depois se matava. Diziam que a carne ficava mais saborosa. Eu, que tinha muita pena do peru, pensava que assim talvez ele não sofresse; sei que dizia “coitadinho” mas repreendiam-me dizendo que por isso demorava mais a morrer. O que é verdade é que a carne era saborosíssima. Há alguns anos, dei voltas à cabeça para ter entre as iguarias de Natal um prato semelhante ao da minha infância. Sabia que em ciências biológicas se fazem experiencias “in vivo” quando o animal está vivo ou “in vitro” quando o animal está morto, de modo que resolvi fazer esta última aproximação com o meu peru. Mergulho-o durante dois dias em água com sal e aguardente. No último dia, junto também rodelas de laranja àquela marinada e por vezes até rodelas de limão. Uma hora antes de o assar escorro o peru, barro-o com azeite e polpa de alho esmagado, recheio-o com miolo de castanhas congeladas e borrifado de vinho do Porto vai para o forno. Por vezes substituo as castanhas por puré de batata. Durante a assadura vou sempre borrifando com vinho do Porto e se estiver a ficar muito corado tapo com papel de alumínio. O tempo de assadura, embora longo, depende do tamanho do peru e da temperatura do forno, pessoalmente gosto que asse devagar, por isso leva mais tempo.
Todos gostam muito do meu peru e eu fico feliz pois faz-me lembrar os tempos da minha infância. Confesso que tenho sempre uma ajudinha, a do meu anjo da guarda, com quem vou conversando enquanto estou na cozinha. Também peço ajuda à Mãe do Céu, que nunca me deixa mal, tanto mais que estamos a festejar o nascimento do Seu Divino Filho.
Maria Teresa Conceição
professora aposentada
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