Falar do Natal não me sai fácil. Não sei bem porquê. Todos os anos, é esta sensação estranha de quem quer falar, mas não sente como o fazer. Não há timing para parar e escrever sobre o Natal. Em Novembro, não é hora. Até à Imaculada Conceição, estamos quase. Depois, o presépio diz tudo.
Quando olho para o presépio, especialmente o cá de casa, fica tudo dito.
A partir desse momento, não consigo falar do Natal de uma forma light, convencional. O presépio é normal, porque Jesus se fez homem como nós, mas é sublime demais para eu conseguir, com o meu parco léxico, dizer seja o que for que faça sentido.
E mesmo que falasse de família, assunto de que gosto muito, teria de dizer que só vemos de verdade a família quando a olhamos, um a um, como filhos de Deus, como escolhidos por Deus, para nós cuidarmos e para cuidarem de nós. E aí, família faz sentido. Sempre. Não é uma questão de momento.
Há um ditado popular que diz que o “Natal é quando o homem quiser!”. Veja-se a verdade disto e veja-se o que isto nos diz de Jesus e do seu amor por nós. É verdade que o Natal depende do homem, porque a fé e o amor é uma adesão livre e total. Não depende das músicas que se ouvem na rua. Não está relacionada com o cheiro a musgo ou com as campanhas publicitárias. Não se circunscreve ao calendário litúrgico.
A verdade do Natal “é quando o homem quiser” porque Jesus está sempre disposto a nascer no coração do Homem, assim ele o queira.
E talvez por isso, vejamos nas ruas, nas vidas que passam pela nossa, nos rostos que moram perto de nós, dois Natais distintos. Por um lado, o Natal dos que ainda não se decidiram a conhecer Jesus e que talvez celebrem a amizade, o carinho, a paz, porque percebem que esse é o espírito do Natal, embora não queiram falar de Jesus, a raiz desse espírito no coração do homem.
Por outro lado, encontramos o Natal dos que, uns mais em profundidade, outros mais à tona, conhecem Jesus, querem Jesus nas suas vidas (não só no seu presépio), mas, sobretudo, querem amar mais Jesus, vê-Lo melhor, de pertinho, bem pertinho.
Gostava de me inserir só no segundo grupo, mas, estranhamente, sinto uma parte de mim no primeiro. Porque há uma parte de mim que ainda não se entregou em plenitude, porque estou tão aquém do que Jesus merecia. De facto, esta certeza de que o Natal é também sempre que eu quiser faz-me adiar o que não devo adiar. Faz-me negligenciar nesta ou naquela conversa, para que a minha amiga não me veja como uma beata, para não ferir o convencionado. E por isso, em tantos e em tantos aspetos, podia amar mais Jesus.
E quando olho para o presépio e olho cada figura, enquadro-me na cena e fico embasbacada só a olhar. Não saem palavras nenhumas. Nada.
Infelizmente, sou daquelas cristãs que ainda não aprenderam a falar do Natal como o sinto dentro de mim. Jesus quer estar comigo, estar contigo. Sussurra-nos palavras ao ouvido. Ajuda-nos a escrever textos impossíveis e, se eu quiser, ajudar-me-á a falar de Jesus aos quatro ventos, sem medos, porque para Jesus, com Jesus, não há impossíveis.
Feliz Natal!
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