Federico Cenci | | ZENIT.org | Mundo | Roma
"Eu sou um sírio e um cristão, sou de Damasco, nascido e criado
apenas alguns metros de distância do lugar onde São Paulo se converteu.
Tenho muito orgulho da minha origem”. Com essas palavras solenes e
cheias de emoção, Samaan Daoud, refugiado cristão sírio, começou a
narração da sua experiência durante o congresso “A Jihad, do Oriente à
nossa casa”, que aconteceu na tarde de ontem, 19 de outubro, na Sala dos
Grupos parlamentares, em Roma.
Samaan, pai de família, em um italiano perfeito, explicou que
mudou-se para a periferia de Damasco quando se casou. Morava em uma
região residencial, tranquila, pelo menos até março de 2011, data do
começo do conflito que está destruindo a Síria.
Mas a onda de ódio não poupou nem sequer os lugares mais distantes
dos centros de poder da capital síria. A sua casa, em particular,
encontrava-se em um ponto central da batalha entre o exército regular e
os grupos rebeldes. “Os tiros de morteiros chegaram ao jardim de casa”,
disse.
Acima de tudo, metaforicamente, tais tiros chegaram ao seu coração,
causando-lhe feridas que o tempo não poderá apagar. O homem lembra que
um tiro de morteiro, um dia, levou um dos seus filhos e atingiu de morte
outra criança na saída da escola. “A cada dia, na Síria, quando os pais
enviam as crianças para a escola sabem que poderiam não voltar para
casa”, explica.
Além disso, entre as dezenas de milhares de mortes que a guerra
provocou na Síria, muitos são crianças. Dos quase 4 milhões de
refugiados, quase a metade são crianças. Números que testemunham como as
vítimas principais da guerra sejam os mais inocentes.
E que testemunham, ao mesmo tempo, o estado irreprimível de tensão em
que vivem os sírios. "O grito Allah akbar tornou-se maldição para nós,
porque cada vez que eu o ouvíamos compreendíamos que estavam chegando os
grupos terroristas para trazer-nos a guerra, e não a benção do Senhor”,
afirma Samaan.
O grito sinistro tornou-se sempre mais frequente aos seus ouvidos e
dos seus vizinhos de casa, também quando se mudou de novo para o centro
de Damasco. Há um ano e meio, mais ou menos, os rebeldes começaram a
usar mísseis mais fortes nesses lados, de longo alcance, capazes de
atingir também o coração da capital síria de lugares bem distantes.
A situação tornou-se tão insuportável que, não sem partir o coração,
ele e sua família decidiram abandonar sua terra e mudar para a Itália,
onde Samaan viveu por vários anos durante os estudos universitários.
A família Daoud está, há um mês, na Itália, mas deixou o coração e a
mente na Síria. Quase emocionado Samaan recorda a condição da Síria
hoje. Quando estava em Damasco, muitas vezes, acompanhou jornalistas
italianos para ser tradutor. Os seus olhos viram a deterioração causada
pelo ISIS, "em aldeias não apenas cristãs, mas também muçulmanas",
frisa. E acrescenta: "Por que estes terroristas estão matando todos
aqueles que não estão dispostos a aceitar a sua linha".
No futuro o Oriente Médio poderia encontrar-se com mais nenhuma
presença cristã. Na Síria - reflexão de Samaan – os cristãos eram "o
fermento", porque embora representando 10% da população, era dentro da
sua comunidade que pulsavam a cultura e o fermento industrial.
Por um lado Samaan diz que inveja aqueles que permaneceram na Síria,
porque “são mártires vivos, que ainda caminham – diz - . São pessoas que
não foram mortas, mas que levam a cruz cada dia”. Cruz que se manifesta
nestes meses, sob forma de falta de água e de luz elétrica, em grandes
regiões populares de Damasco assediadas pelos tiros de morteiro.
Na conclusão de seu discurso Samaan citou o escritor e filósofo
libanês Kahill Gibran, que, em seu livro “As tempestades”, de forma
poética descreve as perseguições do passado e prenuncia a experiência
trágica que está vivendo ainda hoje o Oriente Médio: “Mas, a minha
família não morreu rebelando-se, e nem sequer destruída pela guerra e
nem sequer pelos detritos de durante um terremoto. A minha família
morreu crucificada”.
in
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