América proclama Francisco líder moral planetário
Fez um exame de consciência aos políticos e apresentou-lhes o manual do bom governante
Fez um exame de consciência aos políticos e apresentou-lhes o manual do bom governante
José Manuel Vidal, 28 de Setembro de 2015
O Papa pediu à Igreja dos USA que reconheça a peste da pedofilia, peça perdão e pague, pague por ela e chore por causa dela, como "chora Deus".
O único percalço que teve o Papa nos Estados Unidos foi ao subir para o avião, por causa da sua ciática. Em tudo o mais, o seu périplo foi um passeio triunfal pelo coração do império americano. A América ficou rendida a seus pés. E os seus potentes meios de comunicação aplaudiram. Não se pode ter maior êxito, em tão pouco tempo. Ninguém como Francisco soube conquistar os que estão em cima e os que estão em baixo. As elites, os pobres e a sempre esquecida classe média. A "terra dos livres e a pátria dos valentes" proclamou-o como líder global.
Francisco passeou por três cidades que são símbolo do Leste americano (Washington, Nova York e Filadelfia, o berço da América). Esteve nos lugares mais emblemáticos. Na Casa Branca, com Obama, que lhe chamou "imperador da paz", e o recebeu ao pé da escadinha de um pequeno Fiat preto.
Entrou no Capitólio, sancta sanctorum do Estado americano, e pôs de pé os Congressistas. Temiam-se protestos de alguns neo-congressistas. Mas não houve. Com o seu discurso, fez vibrar os fundamentos morais do Capitólio, partindo de Moisés, cuja imagem sobressai no seu interior, e dos seus quatro 'santos' americanos: Lincoln, Luther Kinh, Dorothy Day y Thomas Merton. E recebeu 36 salvas de palmas e até as lágrimas do presidente das Câmaras, John Boehner, um dos pesos pesados republicanos.
Algo semelhante aconteceu nas Nações Unidas, o templo laico da democracia globalizada, que o considerou como o profeta da paz mundial. E como autêntico profeta, disse o que era necessário dizer. Com suma humildade e com toda a ternura que dele se desprende, não deixou de partir o copo das denúncias.
Porque, tanto no Capitólio como no Palácio de cristal, Francisco fez com que os grandes políticos dos Estados Unidos e do mundo (desde Obama a Putin, passando por Merkel, Castro ou Maduro) fizessem um autêntico exame de consciência. E apresentou-lhes o manual do bom governante.
Colocou-lhes na frente o espelho do Evangelho e pediu-lhes um novo sistema político mundial. Em nome dos empobrecidos do planeta, que enchem as valetas da vida. E, também em nome da “casa comum” planetária que está prestes a morrer asfixiada.
Aos grandes e poderosos da terra, Francisco pediu, em nome dos gritos dos pobres que chegam aos ouvidos Deus, uma nova diplomacia: a do diálogo. E um novo sistema político: o eco personalismo. Um novo modelo de desenvolvimento, baseado na persona humana e na natureza, como centros de todo o sistema. Pediu um bom governo dos ricos, para que os pobres não morram no meio da 'globalização da indiferença' e da 'cultura do descarte'.
Foi a voz dos sem voz. Tudo em nome dos pobres. Papa paráclito, lhe chamam alguns. Quer dizer, o Papa defensor dos excluídos. Seu advogado. O líder credível, que não engana, que não luta pelos seus próprios interesses, nem sequer pelos da sua Igreja, que não a quer como um poder entre muitos outros, mas como um simples 'hospital de batalha'. O líder humilde, que contagia ternura e compaixão, que ri e chora com as pessoas; que beija uma criança com paralisia cerebral, e abraça um preso na cadeia de Filadelfia, enquanto reconhece que "todos precisamos de nos limpar, a começar por mim", disse.
Um Papa que arrastra atrás de si a contra cultural, moderna e esquiva Nova York, que terminou a cantar-lhe 'I love you'. Um Papa que seduz, porque prega com o exemplo. Por isso, pediu à poderosa Igreja da América do Norte que deixe de mostrar o seu poder, que fale em voz baixa, que desça às ruas, que abrace as feridas do mundo, que saia dos seus luxuosos escritórios e das suas ricas catedrais, que reconheça a peste da pedofilia, peça perdão e pague por ela, e chore por causa dela, como "chora Deus".
Que os seus Bispos e Cardeais deixem de ser príncipes e se convertam ao Evangelho. Porque, como disse Jesus, "o que quiser ser o primeiro entre vós, que seja o vosso servidor". Um Papa que faz milagres. Estão à vista os acordos de paz em Cuba e na Colômbia. Um Papa milagre. O Papa da primavera. O Papa da esperança.
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