1. Assimilar para conviver ou dominar?
Na minha experiência com migrantes, provenientes de vários países, continentes e regiões, falando a mesma língua ou tentando expressar-se num idioma comum, muitas vezes mal aprendido, pergunto-me como é possível convivermos em paz nesta Babilónia de línguas e de culturas. A emigração em massa, forçada, veio agudizar a necessidade de encontrarmos respostas satisfatórias. Por não o termos feito até agora, encontramos muitas dificuldades em ter êxito na presente situação, embora desde há muito sabemos que os guetos não ajudam a construir um povo coeso e pacífico.
Na minha experiência com migrantes, provenientes de vários países, continentes e regiões, falando a mesma língua ou tentando expressar-se num idioma comum, muitas vezes mal aprendido, pergunto-me como é possível convivermos em paz nesta Babilónia de línguas e de culturas. A emigração em massa, forçada, veio agudizar a necessidade de encontrarmos respostas satisfatórias. Por não o termos feito até agora, encontramos muitas dificuldades em ter êxito na presente situação, embora desde há muito sabemos que os guetos não ajudam a construir um povo coeso e pacífico.
Muitas tentativas têm sido experimentadas, mas continua a confusão das experiências fracassadas. Desde o apartheid, o multiculturalismo, a assimilação forçada, a integração às experiências interculturais, qual o caminho mais adequado em ordem a construir um povo e uma Europa unida, apesar da diversidade de línguas e de culturas?
Na brevidade destas notas, não irei citar estudos feitos por peritos na matéria, mas somente apontar alguns caminhos simples e viáveis, até porque estamos perante uma invasão de refugiados, diferentes nas suas origens culturais e linguísticas, mas sonhando encontrar a paz e o bem estar pessoal e familiar que lhes tem sido negado.
O esforço a fazer tem de ser recíproco, embora tenha mais obrigação de tomar a iniciativa quem não teve de abandonar a sua terra e família. Um acolhimento fraterno e inteligente, consciente das possibilidades reais, mas com um coração magnânimo, é a primeira atitude que se espera, para não aumentar o sofrimento de quem bate à nossa porta. Lembra-me sempre do que presenciei quando era pequeno, no tempo da carestia dos últimos anos da segunda guerra mundial e seguintes: em que podemos ajudar, ser úteis? E a repartir o pouco que tínhamos com quem nada tinha. Hoje em dia, com tantos recursos e meios, todos os países da União Europeia poderão facilitar este acolhimento e ajuda. Apesar da diversidade de línguas, há uma que todos entendem, a do coração, do acolhimento franco e fraterno. Mas também há muitos tradutores e intérpretes. Precisamos de quem saiba coordenar esse encontro e entreajuda e não cair na exploração de quem se aproveita da situação, ajudando apenas porque arranjou um emprego pago com recursos estatais.
Muitas instituições e organismos, algumas ligadas à Igreja Católica, criaram uma plataforma para organizar o acolhimento dos refugiados. Aguardamos algumas instruções concretas, para que toda a sociedade civil possa colaborar, criando a mentalidade de acolhimento fraterno e de que isso não é apenas da responsabilidade do governo, mas de todos os cidadãos, conscientes de que devem fazer aos outros aquilo que gostariam que lhes fosse feito, se estivessem nas mesmas circunstâncias. Aqui tem aplicação o princípio da subsidariedade.
2. A riqueza do encontro intercultural
Na igreja, na catequese, na liturgia, nos grupos, nos movimentos, no trabalho, na escola, no lazer, numa palavra, no encontro entre pessoas há ou deve haver sempre um dar e receber, que enriquece as duas partes. Mesmo quando uma das partes pertence a um grupo social ou culturalmente desfavorecido, quando no encontro se vê a dignidade da pessoa humana, processa-se um enriquecimento em ambas. Isto para não falar da perspetiva evangélica de que no necessitado encontramos o próprio Cristo.
Por isso não podemos difundir ideias de que se trata de uma invasão islâmica através destes fugidos à guerra e à fome. Que haja sempre quem se aproveite das necessidades do próximo é verdade, mas isso não justifica esses procedimentos. Os aproveitadores estão de ambas as partes. Claro que é preciso estar atento e denunciar os aproveitadores e exploradores de ambos os lados. O melhor para descobrir os mal intencionados é criar um clima de acolhimento e facilitar o encontro no respeito pela diversidade, mas sempre num diálogo intercultural e interreligioso. Far-nos-ia bem reler a Declaração Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa do Concílio Vaticano II, que no dia 7 de Dezembro de 1965 foi promulgada. Além de assim celebrarmos os 50 anos do encerramento do Concílio, refrescaríamos as nossas ideias e deixaríamos de repetir slogans xenófobos, pouco cristãos, ou pelo menos denunciadores do medo que tolhe a vida social.
Infelizmente estamos pouco habituados ao diálogo, pois vivemos de opiniões feitas e individualistas. O verdadeiro diálogo aprende-se em família, fruto do amor e da confiança que deve existir, sempre interessados no bem do outro, que, por sua vez, também quer o nosso bem. Quando este diálogo começa a faltar, aparecem a desconfiança, o receio, o medo e a solidão.
Oxalá o Sínodo dos Bispos sobre a vocação e missão da família na igreja e no mundo contemporâneo ajude a reavivar estes valores essenciais da convivência humana, cuja génese começa no berço. Para que se cumpra a vontade de Deus a seu respeito e não a vontade de quem quer a sua destruição, peço a oração dos diocesanos. Aprixuna-se o dia mundial das missões, depois de termos iniciado o mês de Outubro com a festa de Santa Teresinha, padroeira das Missões. O espírito missionário e o encontro intercultural ajudar-nos-ão a superar a indiferença, que é a pior violência que nos podemos fazer a nós mesmos, à família e à sociedade. Que a necessidade de acolher os refugiados nos ajude a descobrir o grande valor do diálogo, que leva à integração.
† António Vitalino, bispo de Beja
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