Francisco propõe valorização do ser humano, da espiritualidade, da natureza e da cultura para superar crise ambiental
Cidade do Vaticano, 17 jun 2015 (Ecclesia) – O Papa lançou hoje a
primeira encíclica dedicada ao tema da ecologia, ‘Laudato si’, na qual a
valorização do ser humano, da natureza, da fé e da cultura para superar
a atual crise ambiental.
Francisco pede “um olhar diferente, um pensamento, uma política, um
programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade” que
consigam resistir ao “avanço do paradigma tecnocrático”.
“Uma ecologia integral requer abertura para categorias que transcendem a
linguagem das ciências exatas ou da biologia e nos põem em contacto com
a essência do ser humano”, escreve, no texto divulgado esta manhã pelo
Vaticano.
Francisco considera “inseparáveis” a preocupação com a natureza, a
justiça para com os pobres, o compromisso social e a “paz interior”.
“Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos,
pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo.
Pelo contrário, o mundo do consumo exacerbado é, simultaneamente, o
mundo que maltrata a vida em todas as suas formas”, desenvolve.
O Papa descreve um mundo que vive em “pressa constante”, pelo que a
ecologia integral exige tempo para “recuperar a harmonia serena com a
criação” refletir sobre estilos de vida e “contemplar o Criador”.
Aos católicos, propõe uma espiritualidade ecológica e paixão pelo
“cuidado do mundo”, assumindo a “vocação de guardiões da obra de Deus”.
“Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais, que
já não poderemos conhecer, que os nossos filhos não poderão ver,
perdidas para sempre. A grande maioria delas extingue-se por razões que
têm a ver com alguma atividade humana. (…) Não temos direito de o
fazer”, avisa.
A encíclica sai em defesa de todas as formas de vida, desde o ser
humano aos “fungos, as algas, os vermes, os pequenos insetos, os
répteis”, os micro-organismos ou o plâncton.
Francisco realça a “complexidade da crise ecológica”, que exige o
contributo das “diversas riquezas culturais dos povos, a arte e a
poesia, a vida interior e a espiritualidade”.
“Falta a consciência duma origem comum, duma recíproca pertença e dum
futuro partilhado por todos”, analisa o Papa, para quem esta situação
implica “longos processos de regeneração”.
O novo documento alerta que a cultura ecológica “não se pode reduzir a
uma série de respostas urgentes e parciais” para os problemas que vão
surgindo à volta da “degradação ambiental, do esgotamento das reservas
naturais e da poluição”.
A encíclica fala, por isso, em ecologia ambiental, económica, social e
cultural, dando como modelo desta atitude São Francisco de Assis
(1182-1226), o santo que inspirou o documento e a escolha do nome do
Papa, após a eleição pontifícia.
“Se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza na nossa
relação com o mundo, então as nossas atitudes serão as do dominador, do
consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais”, adverte.
O pontífice propõe Francisco como o “exemplo por excelência do cuidado
pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e
autenticidade”.
O Papa cita os seus predecessores, conferências episcopais (incluindo a
portuguesa), bispos, teólogos da antiguidade e do presente, filósofos e
escritores, incluindo Ali Al-Khawwas, figura do sufismo medieval no
Egito que apresenta como “mestre espiritual”.
Francisco dedica dois parágrafos à ação ecológica de Bartolomeu I,
patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), e convida as
religiões a “estabelecer diálogo entre si, visando o cuidado da
natureza, a defesa dos pobres”.
OC
in
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