Presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz expressa esperanças e comenta sobre o documento com o qual colaborou
Cidade do Vaticano,
24 de Junho de 2015
(ZENIT.org)
Deborah Castellano Lubov
A nova encíclica do papa Francisco pretende promover o "lado nobre"
do mercado e alertar contra o desejo excessivo de lucro que o
prejudica, declarou o cardeal ganês Peter Turkson, presidente do
Pontifício Conselho Justiça e Paz, dicastério que esteve envolvido na
elaboração do texto. Em uma ampla entrevista concedida a Zenit, o
cardeal expressou as suas esperanças com a publicação do documento
papal, que, segundo ele, "é uma encíclica colegiada, destinada a todas
as pessoas". Ele também respondeu às fortes reações que a encíclica
gerou.
Acompanhe a entrevista.
ZENIT: Eminência, o senhor está satisfeito com o resultado da encíclica? Quais são as suas esperanças?
Sim, eu estou satisfeito. Foi realmente um documento muito esperado, com expectativas elevadas. Havia uma "fome", por assim dizer, da mensagem do Santo Padre sobre determinadas questões. Nós nos sentimos obrigados a responder a esse desejo também por causa de muitas situações que ocorrem no mundo de hoje. Não tenho razão para não estar feliz. O mundo precisa de uma liderança credível sobre o assunto. Dei os parabéns ao papa Francisco por isso e por toda a perseverança que foi necessária para alcançar esse resultado. Espero reações muito positivas ao documento. Seu conteúdo é positivo. É uma encíclica muito concreta e extensa. Além disso, o nosso dicastério realizou diversas atividades prévias, preparando os prelados locais para a publicação. E as Conferências Episcopais estão prontas para celebrar o seu conteúdo, que convida todos nós a desempenhar um papel. Todos.
ZENIT: O Santo Padre, na encíclica, faz algumas declarações fortes sobre as questões do trabalho e dos mercados. Alguns não ficaram muito satisfeitos com isso. O senhor gostaria de responder a essas interpretações?
Como eu poderia dar uma resposta curta a algo que requer uma longa explicação? Nada nesta encíclica é realmente novo. O papa Francisco não está atacando o mercado, os negócios, que, para ele, são uma "nobre vocação", como ele afirmou na sua carta ao Fórum Económico Mundial de 2014, na reunião anual de Davos-Klosters (Suíça). O Santo Padre manifestou apreço pelos talentos dos homens de negócios e os exortou a colocá-los a serviço dos pobres. Quando se olha para estes aspectos, fica evidente que não há um ataque do papa. Ao contrário, é uma valorização do trabalho junto com o convite a usá-lo não para benefício e lucro pessoal, e sim para os pobres e para o bem comum. Deus deu o dom do trabalho à humanidade como uma vocação. Esse dom deve colaborar com Deus, continuando o seu trabalho de criação. Eu acho que o que o papa está dizendo é que a "nobre profissão" dos negócios pode ser distorcida. Não fica na sua forma pura, mas é deformada de algum modo pela tendência ao desejo de lucro, por deficiências éticas etc. Isto faz com que as empresas percam a sua "nobreza". O papa Francisco está estigmatizando o mundo dos negócios sob a influência do pecado ou sob a fraqueza humana. Ele não faz isso para criticar, mas para convidar a humanidade a assumir as suas responsabilidades, lembrando que não podemos fazer isto sozinhos, mas precisamos da graça de Deus. Um exemplo disso é a Caritas in Veritate, a terceira e última encíclica de Bento XVI e a sua primeira encíclica social, em que o papa emérito observa que a globalização nos torna vizinhos, mas não irmãos, porque isso requer a graça de Deus. Na encíclica, assinada em 29 de junho e publicada em 7 de julho de 2009, Ratzinger se interessa pelos problemas do desenvolvimento global e do progresso voltado ao bem comum, argumentando que tanto o amor quanto a verdade são elementos essenciais de uma resposta eficaz. Há pontos específicos dirigidos aos líderes políticos, empresários, líderes religiosos, mundo financeiro e agências de ajuda humanitária, mas o trabalho, como um todo, também apela a todos os homens de boa vontade.
ZENIT: Muitos dizem que o papa Francisco deixou a Igreja mais "aceitável" para a sociedade. O senhor acha que ele vai convencer o mundo de que a Igreja respeita plenamente a verdade científica?
Vale a pena reconhecer que a relação entre ciência e religião sempre foi uma questão debatida. Alguns vêem uma dicotomia, porque os métodos são diferentes... Mas, em vez de focar nas diferenças entre estudos e metodologias, deveríamos nos concentrar no ponto em comum entre ambas, que é a pessoa humana. Quando se reflete sobre isto, percebe-se o quanto é míope o esforço de limitar o estudo da pessoa humana a um único aspecto da sua existência, seja o aspecto físico ou o espiritual. Como pessoa, o homem não é apenas um corpo ou ação. Não há contradição entre ciência e fé. Elas se apoiam mutuamente. Na Caritas in Veritate, Bento XVI pede um diálogo entre fé e razão, todos os tipos de razão: científica, financeira, económica... Ele explica que a razão pode desenvolver "pontos cegos" que a religião e a fé podem ajudá-la a descobrir. Mas a fé exige também a razão para torná-la concreta. A Igreja encoraja o diálogo entre essas duas qualidades da pessoa humana que está em busca da verdade. Duas qualidades que não prejudicam uma à outra, mas se relacionam. Afinal de contas, uma pessoa é fé e razão. Somos chamados, assim, a reconhecer nas palavras do papa Francisco uma voz influente e credível. As pessoas apreciam a sua autenticidade. Nós também vemos isso em nosso dicastério através das cartas que grupos diferentes de pessoas nos enviam, cheias de elogios; não só de cristãos, mas também de muçulmanos, por exemplo.
ZENIT: Como a encíclica pode ter efeito sobre os cristãos na sua vida diária?
A encíclica é dirigida a todos, a cada um de acordo com a sua vocação. Ele pode ajudar cada pessoa a desempenhar um papel na salvação do planeta. Ela lembra a todos de olhar para o seu estilo de vida e para os seus hábitos e ser coerentes com a sua esperança para o futuro do mundo. Quando comemos ou vamos jogar fora um envelope, podemos pensar no modo certo de fazer isso. Ou, por exemplo, podemos ir de bicicleta em vez de carro... Podemos economizar energia, e assim por diante. São apenas alguns exemplos para quem quer ajudar a salvar o planeta que nosso Deus nos deu.
ZENIT: Eminência, o senhor está satisfeito com o resultado da encíclica? Quais são as suas esperanças?
Sim, eu estou satisfeito. Foi realmente um documento muito esperado, com expectativas elevadas. Havia uma "fome", por assim dizer, da mensagem do Santo Padre sobre determinadas questões. Nós nos sentimos obrigados a responder a esse desejo também por causa de muitas situações que ocorrem no mundo de hoje. Não tenho razão para não estar feliz. O mundo precisa de uma liderança credível sobre o assunto. Dei os parabéns ao papa Francisco por isso e por toda a perseverança que foi necessária para alcançar esse resultado. Espero reações muito positivas ao documento. Seu conteúdo é positivo. É uma encíclica muito concreta e extensa. Além disso, o nosso dicastério realizou diversas atividades prévias, preparando os prelados locais para a publicação. E as Conferências Episcopais estão prontas para celebrar o seu conteúdo, que convida todos nós a desempenhar um papel. Todos.
ZENIT: O Santo Padre, na encíclica, faz algumas declarações fortes sobre as questões do trabalho e dos mercados. Alguns não ficaram muito satisfeitos com isso. O senhor gostaria de responder a essas interpretações?
Como eu poderia dar uma resposta curta a algo que requer uma longa explicação? Nada nesta encíclica é realmente novo. O papa Francisco não está atacando o mercado, os negócios, que, para ele, são uma "nobre vocação", como ele afirmou na sua carta ao Fórum Económico Mundial de 2014, na reunião anual de Davos-Klosters (Suíça). O Santo Padre manifestou apreço pelos talentos dos homens de negócios e os exortou a colocá-los a serviço dos pobres. Quando se olha para estes aspectos, fica evidente que não há um ataque do papa. Ao contrário, é uma valorização do trabalho junto com o convite a usá-lo não para benefício e lucro pessoal, e sim para os pobres e para o bem comum. Deus deu o dom do trabalho à humanidade como uma vocação. Esse dom deve colaborar com Deus, continuando o seu trabalho de criação. Eu acho que o que o papa está dizendo é que a "nobre profissão" dos negócios pode ser distorcida. Não fica na sua forma pura, mas é deformada de algum modo pela tendência ao desejo de lucro, por deficiências éticas etc. Isto faz com que as empresas percam a sua "nobreza". O papa Francisco está estigmatizando o mundo dos negócios sob a influência do pecado ou sob a fraqueza humana. Ele não faz isso para criticar, mas para convidar a humanidade a assumir as suas responsabilidades, lembrando que não podemos fazer isto sozinhos, mas precisamos da graça de Deus. Um exemplo disso é a Caritas in Veritate, a terceira e última encíclica de Bento XVI e a sua primeira encíclica social, em que o papa emérito observa que a globalização nos torna vizinhos, mas não irmãos, porque isso requer a graça de Deus. Na encíclica, assinada em 29 de junho e publicada em 7 de julho de 2009, Ratzinger se interessa pelos problemas do desenvolvimento global e do progresso voltado ao bem comum, argumentando que tanto o amor quanto a verdade são elementos essenciais de uma resposta eficaz. Há pontos específicos dirigidos aos líderes políticos, empresários, líderes religiosos, mundo financeiro e agências de ajuda humanitária, mas o trabalho, como um todo, também apela a todos os homens de boa vontade.
ZENIT: Muitos dizem que o papa Francisco deixou a Igreja mais "aceitável" para a sociedade. O senhor acha que ele vai convencer o mundo de que a Igreja respeita plenamente a verdade científica?
Vale a pena reconhecer que a relação entre ciência e religião sempre foi uma questão debatida. Alguns vêem uma dicotomia, porque os métodos são diferentes... Mas, em vez de focar nas diferenças entre estudos e metodologias, deveríamos nos concentrar no ponto em comum entre ambas, que é a pessoa humana. Quando se reflete sobre isto, percebe-se o quanto é míope o esforço de limitar o estudo da pessoa humana a um único aspecto da sua existência, seja o aspecto físico ou o espiritual. Como pessoa, o homem não é apenas um corpo ou ação. Não há contradição entre ciência e fé. Elas se apoiam mutuamente. Na Caritas in Veritate, Bento XVI pede um diálogo entre fé e razão, todos os tipos de razão: científica, financeira, económica... Ele explica que a razão pode desenvolver "pontos cegos" que a religião e a fé podem ajudá-la a descobrir. Mas a fé exige também a razão para torná-la concreta. A Igreja encoraja o diálogo entre essas duas qualidades da pessoa humana que está em busca da verdade. Duas qualidades que não prejudicam uma à outra, mas se relacionam. Afinal de contas, uma pessoa é fé e razão. Somos chamados, assim, a reconhecer nas palavras do papa Francisco uma voz influente e credível. As pessoas apreciam a sua autenticidade. Nós também vemos isso em nosso dicastério através das cartas que grupos diferentes de pessoas nos enviam, cheias de elogios; não só de cristãos, mas também de muçulmanos, por exemplo.
ZENIT: Como a encíclica pode ter efeito sobre os cristãos na sua vida diária?
A encíclica é dirigida a todos, a cada um de acordo com a sua vocação. Ele pode ajudar cada pessoa a desempenhar um papel na salvação do planeta. Ela lembra a todos de olhar para o seu estilo de vida e para os seus hábitos e ser coerentes com a sua esperança para o futuro do mundo. Quando comemos ou vamos jogar fora um envelope, podemos pensar no modo certo de fazer isso. Ou, por exemplo, podemos ir de bicicleta em vez de carro... Podemos economizar energia, e assim por diante. São apenas alguns exemplos para quem quer ajudar a salvar o planeta que nosso Deus nos deu.
(24 de Junho de 2015) © Innovative Media Inc.
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