Páginas

terça-feira, 30 de junho de 2015

Uma cultura para um novo humanismo

As conclusões do XII Simpósio Internacional de Professores

Roma, 29 de Junho de 2015 (ZENIT.org) Mons. Lorenzo Leuzzi

Com um tema que recordou o evento jubilar do ano 2000, "A universidade por um novo humanismo", o XII Simpósio Internacional de Professores se colocou a serviço do congresso eclesial italiano a ser realizada em Florença, no mês de novembro, com o tema "Em Jesus Cristo, o novo humanismo".

O primeiro convite da Igreja a notarmos o surgimento de um novo humanismo está no documento conciliar Gaudium et Spes, no parágrafo 55: "... Testemunhamos o nascimento de um novo humanismo, no qual o homem se define acima de tudo pela sua responsabilidade para com seus irmãos e para com a história".


Com palavras eficazes, o papa Francisco parafraseou a reflexão concilitar reiterando que estamos "numa mudança de época e não numa época de mudança" (22 de setembro de 2013).


Suas palavras destacam que o adjetivo "novo" é o centro da reflexão: por que este humanismo é "novo"?


Não se trata de uma novidade sociológica, mas histórica: estamos numa mudança de época; existe realmente algo que marca uma profunda diferença entre esta época e as anteriores.


Que novidade é esta? É o fato de que o homem pode realmente ser mais (PP 19, CV 29), pode fazer-se na história (faciendum), pode experimentar a superação dos seus limites "naturais" e enfrentar o risco de "imanentizar-se na história", como lembra o papa Francisco na Evangelii Gaudium (94).


Todas as expectativas e aspirações do ser humano nesta sociedade são manifestações do desejo do homem de ser mais, um desejo que já estava no plano original de Deus: o homem é sujeito histórico (cf. Gn 2-3).

 
O discernimento desta mudança de época é muito desafiador. Primeiro, porque por trás do humano existe a realidade histórica. Segundo, porque, sem conhecer a mudança de época, não se entendem as expectativas do homem contemporâneo. Terceiro, porque há um grande risco de que a fé cristã perca a sua especificidade, repropondo uma antropologia abstrata e antirrealista, tanto no âmbito filosófico quanto no teológico. Em Aparecida (28 de julho de 2013), o papa Francisco destacou as tentações antirrealistas da filosofia e da teologia com sérias repercussões na vida cristã e na ação evangelizadora da Igreja.


O "novo"

É novo porque a sociedade é nova: ela vive a transição do estático para o dinâmico; é novo porque a existência humana não é mais animada pela ética; é novo porque a identidade, a estabilidade e a eternidade do homem não são mais garantidas, mas devem ser promovidas.


A contribuição da fé cristã

A vida em Cristo é ser mais; a vida em Cristo é garantia da identidade, estabilidade e eternidade do homem; a vida em Cristo é participação na construção da realidade histórica eclesial.


É oportuno reler o parágrafo 22 da Gaudium et Spes não só em sentido personalista, mas também histórico, da presença na história do Verbo-Logos, primeiro na pessoa de Jesus de Nazaré e depois na realidade histórica que é a nova criação, isto é, a Igreja.


Por que não emerge esta novidade da vida cristã? Porque a sociedade estático-sacral tem obscurecido a novidade do cristianismo. O cristianismo serviu durante séculos à sociedade correndo o perigo de perder a sua identidade.


A nova criação

A novidade cristã está na nova criação, sem a qual o cristianismo hoje se tornaria um fenómeno religioso em fase de extinção. Daí a distinção entre geração, manifestação da maternidade da Igreja e agregação (manifestação de um fenómeno religioso).


Descobrir a nova criação é condição prévia não só para promover o "novo humanismo", que na Igreja não é (ou não deveria ser) novo, mas que é "novo" em sentido temporal na sociedade pela mudança de época. Em outras palavras, é a sociedade que segue a Igreja e não o contrário, porque a Igreja sempre foi histórico-dinâmica. A sociedade vive a mudança de época e pergunta se o cristianismo pode ajudá-la a compreender a si mesma. A novidade está na sociedade. Na Igreja, a novidade é permanente.


O batizado, "homem novo"

A pessoa batizada tem uma existência real nova, que a torna capaz de construir a Igreja promovendo a sua identidade, estabilidade e eternidade.


A vida nova é uma vida de participação para construir a realidade histórica que é a Igreja. Ao construir a Igreja, o batizado constrói a si mesmo e realiza a sua plenitude histórica.


O cristianismo conhece a sociedade contemporânea porque a nova criação é vida histórico-dinâmica, como aquela que, a partir da revolução industrial, vai emergindo na sociedade.


Não é questão de cumprir novas "profecias", mas de oferecer o que o próprio cristianismo já tem, que não é um património religioso ou cultural, mas a presença do Verbo-Logos na história, tanto como Salvador quanto como forma da sociedade.


O cristianismo deve oferecer esta forma social que pode garantir ao homem a sua identidade, estabilidade e eternidade. É o primeiro e decisivo ato de caridade para com a humanidade.


Após os acontecimentos de 1989, 2001 e 2008, o novo humanismo é decisivo: os três pilares do humanismo são animados por práticas sociais que não são capazes de garanti-los. É o que a Evangelii Gaudium chama de "imanentismo antropocêntrico" ​​(EG 94). É um humanismo que se apresenta como novo porque pode permear a sociedade que se tornou dinâmica, mas que é destrutivo para a convivência humana. É o imanentismo antropocêntrico que promove a orfandade na sociedade e na Igreja.


Novo humanismo e cultura: da cultura-civilização à cultura-conhecimento

Para elaborar um humanismo que satisfaça as expectativas do "novo", é preciso entender a transição de uma cultura alicerçada na civilização para uma cultura alicerçada no conhecimento. Isto não significa que a cultura-civilização não contivesse conhecimento. A diferença é que a cultura-conhecimento não está a serviço da conservação, mas do projeto. Sem a cultura-conhecimento, não é possível projetar e construir a sociedade.


É tempo de síntese, não de análise.


O papel da Universidade

Por vocação, a Universidade é lugar de síntese, onde as várias disciplinas convergem na busca da realidade. A referência ao novo humanismo é uma grande oportunidade não só para redescobrir a originalidade da universidade, mas também para finalizar a convergência das disciplinas académicas a fim de desenvolver um projeto capaz de promover o homem todo e todos os homens. Este foi o grande desafio do XII Simpósio Internacional de Professores.


Rumo ao Jubileu da Misericórdia

O conhecimento não é marginal à misericórdia. Pelo contrário, é a chave interpretativa da novidade do Evangelho da misericórdia. A misericórdia supera o assistencialismo. O caminho que aguarda os professores universitários é o compromisso da transição da misericórdia-assistencialismo para a misericórdia-projeto.



Sem comentários:

Enviar um comentário