O cardeal Baldiserri recordou que já
aconteceu isso com o Concílio Vaticano II, Aparecida e outras
assembleias. O que diz o Instrumentum Laboris sobre divorciados e
sacramentos?
Roma,
23 de Junho de 2015
(ZENIT.org)
Sergio Mora
Existe um sínodo midiático que é bem diferente do sínodo real,
“como aconteceu no Concílio Vaticano II, em Aparecida e em outras
assembleias, que foca em alguns temas e esquece outros”.
Assim falou o cardeal Lorenzo Baldiserri, respondendo a ZENIT na
coletiva de imprensa desta terça-feira, na qual foi apresentado o
‘Instrumentum Laboris’, o roteiro do próximo sínodo dos bispos, sobre o
tema da família.
"É claro que os jornalistas e os meios de comunicação em geral estão
interessados nos temas chamativos e os colocam em evidência, e outros
menos. Claramente, devemos reconhecer que a mídia tem destacado alguns
temas no último sínodo". Em vez disso, continuou o secretário-geral do
Sínodo dos Bispos, “a ‘Relatio Synodi’ mostra que todos os temas foram
tratados e com a amplitude adequada".
Confirmando o que foi dito pelo cardeal, vários meios de comunicação,
ao apresentarem hoje o Instrumentum laboris, um documento de cerca de
80 páginas em que o tema da família é abordado em 360 graus, focaram
todo o seu interesse na comunhão aos divorciados e recasados, ou no tema
da homossexualidade e do ‘casamento gay’, como se não existisse o
resto.
"O Sínodo: abertura sobre gay, casais de fato e divorciados e
recasados”, foi a manchete do Corriere della Sera; enquanto a agência
Ansa colocava: "O Sínodo quer abrir aos divorciados recasados, projetos
para famílias gays". La Repubblica, entretanto, abriu com: "Acolhida a
gay e divorciados e recasados, aqui o documento que guiará o Sínodo". E
Il Giornale disse: "O Sínodo abre aos gays e aos divorciados”.
Pelo contrário nos artigos, exceto em alguns meios muito ideológicos,
fica bastante claro que abrir aos divorciados significa ajuda-los a não
se sentir fora da Igreja, e, ao que se refere à homossexualidade quer
dizer não discriminar.
O documento afirma que "toda pessoa, independentemente da sua
tendência sexual será respeitada na sua dignidade e acolhida com
sensibilidade e delicadeza, tanto na Igreja quanto na sociedade”, e é
necessário acompanhar as famílias em que vivem pessoas com tais
tendências. Embora fica claro no documento que "não há nenhuma base"
para criar analogias "nem mesmo remotas, entre uniões homossexuais e o
designo de Deus sobre o matrimónio e família”.
Sobre a readmissão à comunhão para os divorciados recasados no
Instrumentum Laboris fica claro que não se tocará na doutrina sobre a
indissolubilidade do matrimónio, e embora nos questionários apareça um
“acordo comum sobre a hipótese de um itinerário de reconciliação ou
caminho penitencial, isso deverá ser estudado pelo Sínodo que depois
apresentará ao Papa Francisco.
A primeira hipótese é de que o caminho penitencial requeira "a
consciência do fracasso e as feridas causadas" pelo casamento fracassado
e, portanto, que o arrependimento seja acompanhado "pela verificação da
eventual anulação do casamento". É claro que a possível nulidade
resolve o caso já na raiz. E, embora tenham sido simplificados os
procedimentos sobre a nulidade, foi rejeitada a possibilidade de
realizar procedimentos fora dos tribunais eclesiásticos e, em vez disso,
confiá-lo aos bispos. Se não houver condições para a anulação do
casamento, o caminho penitencial levaria à “comunhão espiritual, e à
decisão de viver em continência” a segunda união.
A segunda hipótese sugere que o itinerário penitencial "sob a
responsabilidade do bispo diocesano" possa levar ao acesso aos
sacramentos com o acompanhamento de "um presbítero encarregado”. Ou seja
“uma acolhida não generalizada à comunhão”, ou melhor, "em algumas
situações específicas e em condições muito específicas, especialmente
quando se trata de casos irreversíveis e relacionados a obrigações
morais com filhos que acabariam ocasionando sofrimentos injustos". O
Instrumentum Laboris também destaca a presença de filhos nestas segundas
uniões, bem como nos casos que se tenha contraído matrimónio civil,
como em outras situações irreversíveis, é necessário uma atitude mais
acolhedora.
Por outro lado, o Sínodo poderia pedir ao Papa que as pessoas em
situação irregular pudessem ser padrinhos, testemunhas de casamento,
etc, dado que “estes fieis não estão fora da Igreja”.
Porém, o caminho da comunhão espiritual, que havia sido sugerido em
2012 por Bento XVI no Encontro Mundial das famílias realizado em Milão,
não seria uma alternativa, porque precisa das mesmas condições da
comunhão sacramental, ou seja, estar “em estado de graça”.
No que se refere aos casamentos civis ou coabitações, o documento
reconhece que a decisão, “em muitos casos não é motivada por
preconceitos”, mas por “situações culturais contingentes”, e sugere uma
estratégia pastoral para acompanhá-los com paciência e respeito à
“plenitude do sacramento do matrimónio". E lembra que nesta área tem um
papel importante a família cristã, que dá testemunho da verdade e do
Evangelho".
(23 de Junho de 2015) © Innovative Media Inc.
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