Páginas

quarta-feira, 24 de junho de 2015

O sínodo da mídia e o sínodo real. Dois conteúdos bem diferentes

O cardeal Baldiserri recordou que já aconteceu isso com o Concílio Vaticano II, Aparecida e outras assembleias. O que diz o Instrumentum Laboris sobre divorciados e sacramentos?

Roma, 23 de Junho de 2015 (ZENIT.org) Sergio Mora

Existe um sínodo midiático que é bem diferente do sínodo real, “como aconteceu no Concílio Vaticano II, em Aparecida e em outras assembleias, que foca em alguns temas e esquece outros”.

Assim falou o cardeal Lorenzo Baldiserri, respondendo a ZENIT na coletiva de imprensa desta terça-feira, na qual foi apresentado o ‘Instrumentum Laboris’, o roteiro do próximo sínodo dos bispos, sobre o tema da família.

"É claro que os jornalistas e os meios de comunicação em geral estão interessados nos temas chamativos e os colocam em evidência, e outros menos. Claramente, devemos reconhecer que a mídia tem destacado alguns temas no último sínodo". Em vez disso, continuou o secretário-geral do Sínodo dos Bispos, “a ‘Relatio Synodi’ mostra que todos os temas foram tratados e com a amplitude adequada".

Confirmando o que foi dito pelo cardeal, vários meios de comunicação, ao apresentarem hoje o Instrumentum laboris, um documento de cerca de 80 páginas em que o tema da família é abordado em 360 graus, focaram todo o seu interesse na comunhão aos divorciados e recasados, ou no tema da homossexualidade e do ‘casamento gay’, como se não existisse o resto.

"O Sínodo: abertura sobre gay, casais de fato e divorciados e recasados”, foi a manchete do Corriere della Sera; enquanto a agência Ansa colocava: "O Sínodo quer abrir aos divorciados recasados, projetos para famílias gays". La Repubblica, entretanto, abriu com: "Acolhida a gay e divorciados e recasados, aqui o documento que guiará o Sínodo". E Il Giornale disse: "O Sínodo abre aos gays e aos divorciados”.

Pelo contrário nos artigos, exceto em alguns meios muito ideológicos, fica bastante claro que abrir aos divorciados significa ajuda-los a não se sentir fora da Igreja, e, ao que se refere à homossexualidade quer dizer não discriminar.

O documento afirma que "toda pessoa, independentemente da sua tendência sexual será respeitada na sua dignidade e acolhida com sensibilidade e delicadeza, tanto na Igreja quanto na sociedade”, e é necessário acompanhar as famílias em que vivem pessoas com tais tendências. Embora fica claro no documento que "não há nenhuma base" para criar analogias "nem mesmo remotas, entre uniões homossexuais e o designo de Deus sobre o matrimónio e família”.

Sobre a readmissão à comunhão para os divorciados recasados ​​no Instrumentum Laboris fica claro que não se tocará na doutrina sobre a indissolubilidade do matrimónio, e embora nos questionários apareça um “acordo comum sobre a hipótese de um itinerário de reconciliação ou caminho penitencial, isso deverá ser estudado pelo Sínodo que depois apresentará ao Papa Francisco.

A primeira hipótese é de que o caminho penitencial requeira "a consciência do fracasso e as feridas causadas" pelo casamento fracassado e, portanto, que o arrependimento seja acompanhado "pela verificação da eventual anulação do casamento". É claro que a possível nulidade resolve o caso já na raiz. E, embora tenham sido simplificados os procedimentos sobre a nulidade, foi rejeitada a possibilidade de realizar procedimentos fora dos tribunais eclesiásticos e, em vez disso, confiá-lo aos bispos. Se não houver condições para a anulação do casamento, o caminho penitencial levaria à “comunhão espiritual, e à decisão de viver em continência” a segunda união.

A segunda hipótese sugere que o itinerário penitencial "sob a responsabilidade do bispo diocesano" possa levar ao acesso aos sacramentos com o acompanhamento de "um presbítero encarregado”. Ou seja “uma acolhida não generalizada à comunhão”, ou melhor, "em algumas situações específicas e em condições muito específicas, especialmente quando se trata de casos irreversíveis e relacionados a obrigações morais com filhos que acabariam ocasionando sofrimentos injustos". O Instrumentum Laboris também destaca a presença de filhos nestas segundas uniões, bem como nos casos que se tenha contraído matrimónio civil, como em outras situações irreversíveis, é necessário uma atitude mais acolhedora.

Por outro lado, o Sínodo poderia pedir ao Papa que as pessoas em situação irregular pudessem ser padrinhos, testemunhas de casamento, etc, dado que “estes fieis não estão fora da Igreja”.

Porém, o caminho da comunhão espiritual, que havia sido sugerido em 2012 por Bento XVI no Encontro Mundial das famílias realizado em Milão, não seria uma alternativa, porque precisa das mesmas condições da comunhão sacramental, ou seja, estar “em estado de graça”.

No que se refere aos casamentos civis ou coabitações, o documento reconhece que a decisão, “em muitos casos não é motivada por preconceitos”, mas por “situações culturais contingentes”, e sugere uma estratégia pastoral para acompanhá-los com paciência e respeito à “plenitude do sacramento do matrimónio". E lembra que nesta área tem um papel importante a família cristã, que dá testemunho da verdade e do Evangelho".




Sem comentários:

Enviar um comentário