Papa propõe limites para multinacionais e poderes financeiros para
travar impactos negativos nos países em vias de desenvolvimento
Cidade do Vaticano, 18 jun 2015 (Ecclesia) - O Papa alerta na sua nova
encíclica, publicada hoje, para os efeitos da degradação ambiental,
perante uma aparente apatia da humanidade, que estão a transformar o
planeta numa lixeira.
“A terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso
depósito de lixo. Em muitos lugares do planeta, os idosos recordam com
saudade as paisagens de outrora, que agora veem submersas de lixo”,
escreve, num texto intitulado ‘Laudato si’. Sobre o cuidado da casa
comum’.
Na primeira encíclica (grau mais importante das cartas assinadas por um
pontífice) dedicada aos temas ecológicos, Francisco lamenta que em
muitos casos só se adotem medidas “quando já se produziram efeitos
irreversíveis na saúde das pessoas”.
“Nunca maltratamos e ferimos a nossa casa comum como nos últimos dois séculos”, observa.
O documento lembra os danos causados pela exportação de “resíduos
sólidos e líquidos tóxicos” para os países em vias de desenvolvimento e
pela atividade poluente de empresas “que fazem nos países menos
desenvolvidos aquilo que não podem fazer nos países que lhes dão o
capital”.
Nesse sentido, cita uma mensagem dos bispos da região da
Patagónia-Comahue (Argentina) para criticar as “multinacionais”, que
deixam atrás de si “grandes danos humanos e ambientais”.
“Às vezes, para que haja uma liberdade económica da qual todos
realmente beneficiem, pode ser necessário pôr limites àqueles que detêm
maiores recursos e poder financeiro”, escreve Francisco.
O Papa fala em avanço pouco “significativos” no cuidado da
biodiversidade e no combate à desertificação, situação que piora no que
diz respeito às mudanças climáticas e ao aquecimento global.
“A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças
de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este
aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou
acentuam”, apela.
A este respeito, a encíclica alude ao degelo no Ártico, à perda das
florestas tropicais, à subida do nível do mar, ao aumento da temperatura
dos oceanos, aos problemas na Amazónia, na bacia fluvial do Congo e nos
recifes de coral
Francisco convida a comunidade internacional a desenvolver “programas e
estratégias de proteção” para travar as “dramáticas consequências da
degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo”.
A encíclica refere ainda que é preciso ter em conta “os efeitos da
degradação ambiental, do modelo atual de desenvolvimento e da cultura do
descarte sobre a vida das pessoas”.
“A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado,
vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e
nos seres vivos”, que habitam a “terra oprimida e devastada”, pode
ler-se.
O Papa lamenta as atitudes que dificultam os “caminhos de solução”,
mesmo entre os crentes, da negação do problema à indiferença ou à
“confiança cega nas soluções técnicas”.
Francisco responde a quem o queira acusar de “pretender parar,
irracionalmente, o progresso e o desenvolvimento humano”, lembrando que
“não existe só um caminho de solução”
“A Igreja não pretende definir as questões científicas nem
substituir-se à política, mas convido a um debate honesto e
transparente, para que as necessidades particulares ou as ideologias não
lesem o bem comum”, explica.
Nesse sentido, por exemplo, o texto admite que “é difícil emitir um
juízo geral” sobre o desenvolvimento de organismos modificados
geneticamente (OMG).
OC
in
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