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sábado, 18 de abril de 2015

Bispo da Nigéria: não se deixem levar pelo desejo de vingança

Dom Oliver Dashe Doeme visitou várias comunidades cristãs libertadas da ocupação do Boko Haram e celebrou missas de reconciliação


Madrid, 17 de Abril de 2015 (Zenit.org)


"A vingança e a recompensa são coisa de Deus, não nossa", disse o bispo da diocese nigeriana de Maiduguri, dom Oliver Dashe Doeme, em sua visita a várias comunidades do nordeste da Nigéria durante a semana da Páscoa. Segundo a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), dom Dashe recordou aos fiéis que a vingança gera um círculo vicioso de violência e guerra e destacou os valores fundamentais da fé cristã: amar os nossos inimigos e aqueles que nos perseguem. As feridas só podem ser curadas se perdoarmos o passado e olharmos para o futuro com grande esperança e confiança.

O desejo dos fiéis de rezar e confessar-se era grande. Em algumas comunidades, o bispo e os sacerdotes que o acompanhavam administraram o sacramento do perdão durante mais de três horas.

Depois que uma força-tarefa dos exércitos da Nigéria, Chade e Camarões reconquistou alguns povoados nigerianos ocupados pelo grupo terrorista islamista Boko Haram, os primeiros refugiados voltaram para casa. A maior parte tinha fugido para Camarões. Seus sofrimentos são grandes: houve muitos mortos e outros tantos fugitivos ainda estão longe de casa. Suas aldeias foram espoliadas e suas igrejas incendiadas. Há pais que ainda não reencontraram seus filhos. Pessoas de idade que não puderam fugir foram assassinadas pelos terroristas porque se negaram a renunciar à fé cristã. Os fiéis que regressaram têm que começar a vida de novo. Em várias missas de reconciliação e desagravo, dom Dashe os encorajou a ser firmes na fé apesar de todas as misérias que sofreram e os chamou a seguir o exemplo de Cristo, perdoando os terroristas pelo seu ódio.

Os bispos nigerianos receberam o apoio do papa Francisco, que, algumas semanas atrás, fez um apelo para que eles não se deixassem intimidar pelo terror do Boko Haram. Os cristãos e os muçulmanos sofrem por igual o extremismo religioso nesse país africano, disse o Santo Padre em carta à Conferência Episcopal nigeriana. O pontífice denuncia que os fundamentalistas se dizem religiosos, "mas abusam da religião para torná-la uma ideologia em interesse da opressão e da morte". O papa afirmou também que reza todos os dias pela Nigéria e agradeceu aos bispos, sacerdotes e religiosos pelo seu empenho. "Não se cansem de fazer o bem".

Com 168 milhões de habitantes, a Nigéria é o país mais populoso da África. Quase 50% da população é muçulmana e a outra metade é cristã. 80% do norte do país é muçulmano; os cristãos predominam no sudeste. Desde 2009, o grupo terrorista islamista vem executando uma campanha sangrenta para instalar nos três estados do nordeste uma nação teocrática islâmica. É nessa região que se encontra a diocese de Maiduguri, que abrange os estados federados de Yobe e Borno, assim como a parte setentrional do estado de Adamawa.

A situação nessa diocese, que é a mais extensa da Nigéria, é precária: desde o começo das lutas, foram assassinados aproximadamente 5 mil dos 125 mil católicos. Além disso, foram forçadas a deixar os seus lares mais de 100 mil pessoas; entre elas, 26 dos 46 sacerdotes da diocese, 30 religiosas e mais de 200 catequistas. Dos 40 centros comunitários, 22 estão ocupados pelos terroristas. Mais de 350 igrejas foram reduzidas a ruínas. Três das quatro escolas católicas foram fechadas.

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