D. Norberto Amaral, bispo da mais recente
diocese, Maliana, atual presidente da Conferência Episcopal, ao saudar o Papa destacou
as linhas históricas deste País “nos confins do mundo” e o Papa acrescentou:
mas está “no centro do Evangelho”. Também foi saudado por um catequista ancião,
um padre e uma Irmã religiosa. É um pequeno território, mas os seus recursos de
Igreja suscitam esperança. Dos 1,4 milhões de habitantes, 98% são batizados e
continuam a ser educados na fé católica por três bispos, 140 sacerdotes
diocesanos, 207 sacerdotes religiosos, 108 religiosos não sacerdotes, 141
seminaristas do curso de filosofia-teologia; e ainda 282 membros de institutos
religiosos masculinos e 742, dos femininos. A agência Vaticano News dá, ainda, 19.510 batismos em 2023. A diocese de Dili
foi ereta em 1940 e atualmente é seu pastor o Card. D. Virgílio do Carmo, sendo
o de Bacau D. Leandro Maria Alves e o de Maliana, D. Norberto Amaral, como se
disse.
O Papa no seu discurso aos consagrados, na
Catedral, a partir do episódio do Evangelho sobre Maria que derramou o perfume
nos pés de Jesus, teceu exortações maravilhosas. Animou e alertou para alguns
problemas e ameaças. O Papa verificou o que todos os visitantes experimentam,
ao dizer: «É eloquente o gesto que, aqui, os fiéis têm quando encontram os
sacerdotes: tomam a vossa mão consagrada e aproximam-na da fronte em sinal de
bênção. É bonito ver neste sinal o afeto do povo santo de Deus, porque o padre
é um instrumento de bênção». Para ser sinal, o padre terá que ser pobre e não
se arrogar ser “Senhor”, (“Amo”) como é tratado pelo povo, e cuide dos mais
necessitados. E referiu na sua vista à Escola “Irmãs Alma” de crianças com
deficiência: «Queridos irmãos, um diplomata português do século XVI, Tomé
Pires, escreveu assim: «Os comerciantes malaios dizem que Deus criou Timor para
o sândalo» (The Summa Oriental,
Londres 1944, 204). Nós, porém, sabemos que existe um outro perfume (…): o
perfume de Cristo, o perfume do Evangelho, que enriquece a vida e a enche de
alegria». «O perfume do Evangelho deve ser difundido contra tudo o que humilha,
deturpa e até destrói a vida humana, contra as chagas que geram vazio interior
e sofrimento, como o alcoolismo, a violência e a falta de respeito pela mulher».
O Papa Francisco insistiu muito na adesão ao Evangelho e a Jesus: “o anúncio do
Evangelho nesta vossa cultura purifica-a de formas arcaicas, por vezes
supersticiosas”. Referiu, entre outros, dois pontos a terem em conta: respeito
pelas mulheres e atenção às Irmãs e padres idosos.
Ao repassar imagens e discursos do Papa dei
por mim a tele-revisitar este País incrível de uma identidade forte e assertiva
que aquele Povo guarda, defende e desenvolve, e que tentei desvendar nas minhas
visitas. A lusofonia parece ter progredido a julgar pelo facto de a visita do
Papa se ter desenrolado em português. Estive duas vezes em Timor a dar
formação, em 2008, e em 2012. O desfecho das minhas visitas resultou no livro
“40 Dias em Timor-Leste” (2012) e, da segunda vez, versão mais extensa “50 Dias
por Timor-Leste…”(2023).Vivi agora a alegria de ler o que o Papa disse naqueles
três dias e fiquei contente. Há algumas coincidências nos pontos fortes e nas tarefas
que os Timorenses precisam de integrar na sua identidade. O seu tesouro, disse,
é a sua fé católica e as suas crianças e jovens (64% abaixo dos 30 anos).Os
jovens, porém, esperam respostas de formação, empregos produtivos; e os pobres respostas
de solidariedade, desenvolvimento e promoção do bem comum. Pergunta o Papa: «qual
é a melhor coisa que Timor tem? O sândalo? A pesca? O melhor não é isso. O
melhor é o seu povo. Não me posso esquecer das pessoas que me acolhiam nas
bermas das estradas, com as crianças. Quantas crianças tendes! O que o povo tem
de melhor é o sorriso das suas crianças. E um povo que ensina as crianças a
sorrir é um povo com futuro. Mas, atenção! Porque me disseram que os crocodilos
aparecem nalgumas praias: eles vêm a nadar e têm uma mordidela tão forte que
não podemos enfrentar. Estai atentos! Tende cuidado com os crocodilos que
querem mudar a vossa cultura, que querem mudar a vossa história. Permanecei
fiéis. E não vos aproximeis desses crocodilos porque eles mordem, e mordem com
força».
Tive
ocasião de visitar, com alguma demora, uma dezena de países dos Oceanos Índico-Pacífico
e foi Timor-Leste que me deixou impressões mais fortes sobre a sua Identidade resiliente
de fé católica e lusofonia emergente. Só as Filipinas, na fé, e Goa, na fé
católica e lusofonia, se aproximam. Apesar da moda atual de criticar o
colonialismo, devido aos aspetos negativos, não se pode deixar cancelar a
grande riqueza da evangelização dos missionários sobre a questão que Jesus pôs
aos Apóstolos: «e vós, quem dizeis que Eu sou?» (cf.Mc.8,27-35).E das respostas
de vida de fé Nele, a humanidade, desde há dois mil anos, vive na Esperança.
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