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sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Papa pede a Singapura que interceda pela paz… com a China ali tão perto

Última etapa da viagem apostólica

 | 12 Set 2024

O Papa Francisco e o presidente de Singapura Tharman Shanmugaratnam, no encontro com as autoridades do país, 12 setembro 2024. Foto Vatican Media

O Papa Francisco e o presidente de Singapura, Tharman Shanmugaratnam, durante o encontro com as autoridades do país, que decorreu esta quinta-feira. Foto © Vatican Media

Em Singapura para a quarta e última etapa daquela que é a sua viagem apostólica mais longa de sempre, Francisco lembrou esta quinta-feira, 12 de setembro, as autoridades nacionais de que têm “um papel específico” a desempenhar para ajudar a intermediar o fim dos conflitos globais. Apesar de não se ter referido concretamente a nenhum conflito, muitos interpretaram que a mensagem visava motivar Singapura a envolver a China – com a qual mantém fortes laços geopolíticos – na identificação de um caminho para a paz entre a Rússia e a Ucrânia.

É sabido que o Papa já procurou no passado envolver as autoridades chinesas em esforços humanitários e de manutenção da paz, tendo enviado o cardeal italiano Matteo Zuppi a Pequim há precisamente um ano para discutir possibilidades de alcançar a paz. Mas até agora a China permaneceu neutra em relação à guerra entre ambos os países, sem condenar a invasão russa de 24 de fevereiro de 2022 e abstendo-se durante as votações das Nações Unidas sobre o conflito.

Consciente de que cerca de 75% da população de Singapura é chinesa e de que este é o estado com maior diversidade religiosa do mundo – com menos de 7% de católicos -, Francisco sublinhou então a importância de “prosseguir o trabalho a favor da unidade e da fraternidade entre os homens, visando o bem comum de todos os povos e nações, com um critério que não seja excludente nem estreitamente centrado nos interesses nacionais”.

Aludindo à vasta diversidade cultural, étnica e religiosa de Singapura, o Papa observou que, independentemente das suas diferentes origens, os cidadãos vivem juntos pacificamente. Essa inclusão, disse, “é facilitada pela imparcialidade das autoridades públicas empenhadas num diálogo construtivo com todos” e permitem que cada um dê o seu contributo único para o bem comum, não consentindo que o extremismo e a intolerância ganhem força e coloquem em perigo a paz social.

“O respeito mútuo, a cooperação, o diálogo e a liberdade de professar o seu credo no respeito pela lei comum são condições determinantes para o êxito e a estabilidade de Singapura, pré-requisitos para um desenvolvimento não conflituoso nem caótico, mas equilibrado e sustentável”, destacou o Papa.

 

“Um exemplo a seguir”

Francisco elogiou ainda o empenho de Singapura não apenas na obtenção de prosperidade económica, mas também na promoção da justiça social e do bem comum, e destacou iniciativas específicas, como políticas de habitação sustentável, o investimento na educação e na criação de um sistema de saúde eficiente.

Ao falar da crise ambiental, o Papa destacou que o empenho de Singapura “no desenvolvimento sustentável e na proteção da natureza” é também “um exemplo a seguir, e a procura de soluções inovadoras para os desafios ambientais pode incentivar outros países a fazer o mesmo”.

E concluiu: “Singapura é um exemplo brilhante do que a humanidade pode alcançar se trabalhar em conjunto, em harmonia, com sentido de responsabilidade e num espírito de inclusão e fraternidade. Encorajo-vos a prosseguir neste caminho”.

“Nada de duradouro nasce e cresce sem amor”


O Papa Francisco abençoa uma criança à chegada ao Estádio Nacional de Singapura. Foto Vatican Media

O Papa abençoa uma criança à chegada ao Estádio Nacional de Singapura. Foto © Vatican Media

Mais tarde, na homilia da missa que celebrou no Estádio Nacional de Singapura, perante cerca de 60 mil pessoas, Francisco voltou a enaltecer a cidade-estado, lembrando que “se existe e permanece algo de bom neste mundo, é simplesmente porque, em infinitas e variadas circunstâncias, o amor prevaleceu sobre o ódio, a solidariedade sobre a indiferença, a generosidade sobre o egoísmo”. E assegurou: “sem isso, ninguém teria sido capaz de fazer crescer aqui uma metrópole tão grande: os arquitetos não teriam projetado, os operários não teriam trabalhado e nada teria sido conseguido”.

Recordando que, tal como disse João Paulo II naquele mesmo estádio em 1986, “no nosso amor vemos um fiel reflexo do amor de Deus”, Francisco deixou um conselho: “é bom que aprendamos a ler estas histórias, escritas nas fachadas das nossas casas e nos traçados das nossas estradas, e as transmitamos, para nos recordar que nada de duradouro nasce e cresce sem amor”. E fez um desafio: “escutar e responder prontamente aos apelos de amor e de justiça que, ainda hoje, continuam a chegar-nos da infinita caridade de Deus”.

Já no encontro do dia anterior com os membros da Companhia de Jesus presentes em Singapura, o Papa havia destacado “a importância da Ásia hoje como um continente-chave”, sugerindo que “os jesuítas são chamados a viver neste lugar que apresenta desafios muito peculiares”, como contou ao Vatican News o padre Antonio Spadaro, subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação e membro da comitiva papal. Naquele que foi o seu terceiro encontro com jesuítas desta viagem, depois dos realizados nas etapas da Papua Nova Guiné e Timor-Leste, o Papa quis deixar claro: “a fé deve entrar nos desafios humanos”, sublinhou Spadaro.

O programa da 45ª viagem apostólica de Francisco termina esta sexta-feira, incluindo um encontro com bispos e sacerdotes, em privado, uma visita à Casa de Santa Teresa, instituída em 1935 pelas Irmãzinhas dos Pobres, para o cuidado dos idosos e doentes, e outra ao Catholic Junior College, instituição pré-universitária fundada em 1975 pela Igreja Católica local, que acolherá pelas 10h00 locais (03h00 em Lisboa), um encontro inter-religioso com jovens, que irá resultar num apelo conjunto. Francisco irá cumprimentar os dez líderes religiosos presentes no encontro, antes de seguir para o aeroporto internacional de Singapura, para dar início ao voo de regresso a Roma, que percorrerá 9.567 km e durará mais de 12 horas.



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