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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Bispo de Aveiro vai reunir com párocos das zonas incendiadas para lançar campanha de ajuda

Padres disponibilizam estruturas

 e  | 17 Set 2024

Padres a regar à volta de edifícios ou a apoiar as populações durante a noite, um bispo que quer que as estruturas da Igreja se disponibilizem para o que for necessário. Em vários concelhos da Diocese de Aveiro, o fogo não dá descanso e as estruturas católicas querem estar mobilizadas já e depois da situação acalmar. A Cáritas Portuguesa disponibilizou já também o seu fundo de emergência.

Valongo do Vouga, figo, incêndios, casa comum
Pormenor da destruição causada pelo fogo em Valongo do Vouga (Águeda), 16-17 Setembro 2024, na sequência dos incêndios que assolaram a região. O bispo de Aveiro prometeu a mobilização de todas as estruturas das paróquias da diocese para apoiar as vítimas. Foto © Armanda Branco

O padre Licínio Cardoso, pároco de Silva Escura, Dornelas e Cedrim do Vouga (Sever do Vouga), estava a ajudar a regar o terreno à volta do Centro Social Paroquial Maria da Glória, de Silva Escura, quando atendeu o telefone ao 7MARGENS. O fogo ainda não chegou junto do centro, mas não anda longe e há que prevenir.

Desde domingo que toda a região está de coração nas mãos. Na segunda-feira, 16, o bispo de Aveiro, António Moiteiro, pediu a todas as paróquias da região afectada que disponibilizassem o necessário “a fim de mitigar os prejuízos imediatos com o alojamento dos deslocados da sua residência”, e outras necessidades urgentes. [Ver 7MARGENS]

“É difícil saber dados concretos” sobre se já houve pedidos às estruturas paroquiais da zona, porque normalmente é a Protecção Civil quem faz a evacuação de edifícios ou localidades. Mas o padre Licínio tem dito a vários responsáveis ou a pessoas das localidades à sua responsabilidade que está disponível para ajudar no que for preciso, colocando também os meios das paróquias à disposição do que for necessário.

O padre Licínio refere o caso de uma senhora dependente que foi colocada no centro social, de modo que a família pudesse combater o incêndio. E no concelho, o Centro de Artes e Espectáculos de Sever do Vouga foi aberto pela Câmara Municipal para acorrer às necessidades mais prementes. Por isso, as paróquias ainda não terão sido muito solicitadas. Se isso acontecer, diz, estarão disponíveis. “Emergência é emergência. Não temos camas, mas há espaço.” E, nota, “há um sentido de solidariedade muito bom” entre as populações, o que também é positivo.

Ali perto, em Valongo e Macinhata do Vouga, duas das freguesias mais atingidas pelo fogo no concelho de Águeda, o padre João Paulo Marques também conta que os centros sociais de ambas as paróquias abriram para que as crianças estejam protegidas enquanto os pais iam trabalhar ou acudir aos seus bens. Tendo passado a noite de segunda para terça a circular pelas povoações a apoiar o que fosse preciso, o padre João Paulo diz que também disponibilizou os centros sociais de ambas as paróquias para distribuir alimentação ou albergar pessoas, se necessário, mas a Câmara Municipal providenciou equipamentos para esse efeito.

O apelo do bispo Moiteiro pretendeu envolver “todas as paróquias” para que disponibilizassem “todos os meios ao seu alcance”. Ao mesmo tempo, comprometia-se a realizar através das instituições da Diocese, “uma campanha em favor” de quem teve prejuízos.

“Já contactei a Cáritas Diocesana e vários padres. Logo que a situação esteja mais controlada, vou reunir com párocos de Águeda, Albergaria-a-Velha e Sever do Vouga”, as zonas mais afectadas, disse o bispo nesta terça-feira ao 7MARGENS. “A Cáritas disponibiliza o Fundo de Emergência, porque neste momento não somos capazes de avaliar danos”, diz António Moiteiro. “Estamos disponíveis para ajudar pessoas no imediato, mas não quero que se repita o que aconteceu com Pedrógão. É preciso que os dinheiros recebidos sejam bem administrados e prestemos contas públicas no fim”, assegura.

 

Cáritas ausculta necessidades

Valongo do Vouga, figo, incêndios, casa comum
Pormenor do avanço do fogo no lugar da Veiga, Valongo do Vouga (Águeda), na tarde desta terça-feira. Depois de avaliar as necessidades, o bispo e a Cáritas prometem ajudar. Foto © Armanda Branco

“A direcção da Cáritas de Aveiro acabou de ter uma reunião de emergência para definir um plano de acção imediata”, adiantara também ao 7MARGENS o presidente da instituição, António Leandro, ao início da tarde desta terça-feira. “Ainda não recebemos pedidos de ajuda concretos, porque as pessoas estão neste momento a enfrentar o fogo, a ajudar os bombeiros, mas eu próprio irei contactar os 30 grupos paroquiais Cáritas existentes na diocese para perceber quais as necessidades mais prementes que estão a sentir e de que forma é que podemos ajudar dentro das nossas disponibilidades, nomeadamente com bens alimentares e de primeira necessidade”, assinalou.

Também a presidente da Cáritas Portuguesa, Rita Valadas, confirmou uma estratégia semelhante: “Temos uma verba para emergências”, que é “relativamente curta”, mas com a qual a instituição vai avançar, para o primeiro apoio a necessidades imediatas. “Não vamos abrir já nenhuma campanha porque não há informação suficiente sobre o impacto que os incêndios terão tido. Só quando for possível avaliar esse impacto é que daremos outro passo.”

Para já, através de comunicado à imprensa, a instituição assegura que “todos os meios da rede nacional Cáritas estão disponíveis para apoiar as populações que estejam a ser vítimas dos incêndios e esta é a primeira mensagem que a rede Cáritas quer deixar ao país”.

“A Cáritas está a acompanhar em permanência [a situação dos incêndios], através da sua equipa de emergências nacionais e equipas de emergência diocesanas, em total coordenação com as outras entidades com responsabilidades no domínio da Proteção Civil”, lê-se ainda na nota, cuja “primeira palavra é de respeito e solidariedade para com as famílias das vítimas mortais e também para com todos os que estão a viver directamente a aflição de verem os seus bens destruídos pelas chamas e de toda a insegurança que os incêndios motivam nas comunidades”.

O comunicado apela ainda à solidariedade dos portugueses, disponibilizando um link para aqueles que queiram e possam fazer donativos de emergência.

Nas declarações ao 7MARGENS, o bispo Moiteiro acrescentava que pretende “incluir toda a diocese” na futura campanha: “A solidariedade é para todos e, se for necessário, por exemplo, apoiar a eventual reconstrução de casas, é necessário que toda a diocese ajude.”

O bispo pretende, ainda, pensar na possibilidade de fazer uma celebração de sufrágio pelas três vítimas mortais que se registaram na diocese – uma delas seria uma senhora surda-muda. “Mas enquanto a situação de emergência não acabar”, não será possível concretizar essas ideias.

 

“Profunda gratidão” aos bombeiros

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A desolação de duas residentes de Valongo do Vouga (Águeda) perante o avanço do fogo. Foto © Luz Arede

Também a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) divulgou na tarde desta terça-feira uma “mensagem de solidariedade” face à “trágica situação dos incêndios que assolam o nosso país”, apelando “às comunidades cristãs para que tudo façam para comprometer os seus membros nesta causa que é tão cristã quanto humana” e pedindo “que todos sigam as orientações dadas pelas autoridades”.

O texto deixa ainda “uma palavra de coragem e profunda gratidão aos bombeiros”, no dia em que três operacionais do concelho de Tábua perderam a vida na sequência de um acidente quando se dirigiam para combater o fogo.  “Pondo em risco as suas próprias vidas, combatem as chamas incansavelmente, bem como às demais forças de segurança, entidades civis e voluntários que desenvolvem todos os esforços para salvar vidas e evitar mais perdas de bens”, diz a CEP.

Na mesma linha, o patriarca de Lisboa, Rui Valério, emitiu uma “nota de pesar e solidariedade nos incêndios de setembro de 2024”, em que “expressa a sua profunda solidariedade a todas as famílias afetadas pela morte, pela destruição ou pelo medo”, presta “homenagem a todos os homens e mulheres que combatem as chamas” e “apela à população que assuma todos os gestos e atitudes da maior responsabilidade na prevenção dos fogos”.

A apresentação do programa do Jubileu e do novo ano pastoral, que estava prevista para o final da tarde desta terça-feira, no Mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa, foi cancelada. “Lamentando muito a situação dramática dos incêndios em Portugal, o patriarca de Lisboa e a Comissão Diocesana do Jubileu decidiram adiar” a iniciativa para uma data “a anunciar em breve”, refere um comunicado da organização.

Em todo o país, ao final do dia de terça-feira, estavam activos centena e meia de focos de incêndio, que mobilizavam 3345 operacionais no combate ao fogo, apoiados por 946 meios terrestres e 25 meios aéreos que operaram durante o dia. A maior parte dos fogos continuam a localizar-se no Norte do país, sobretudo nos distritos de Aveiro, Braga, Guarda, Viseu e Porto.




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