Páginas

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Pedro Bacelar de Vasconcelos: “Nada há de mais contrário às religiões do que o ódio religioso

Judeus e muçulmanos reunidos

 | 16 Set 2024

Iniciativa Mukhayriq, na sede da B’nai B’rith International Portugal, na Quinta de Jancido, na Foz do Sousa. Foto DR

Numa iniciativa que celebra a fraternidade histórica entre muçulmanos e judeus, Pedro Bacelar de Vasconcelos sublinhou a importância das crenças religiosas na construção da paz. Foto: Direitos reservados

Judeus e muçulmanos portugueses encontraram-se neste domingo, dia 15, no âmbito da Iniciativa Mukhayriq, na sede da B’nai B’rith International Portugal, na Quinta de Jancido, na Foz do Sousa. O muçulmano Abdul Manga e o judeu Isaac Assor foram dois dos participantes nesta iniciativa em que intervieram ainda Rui Pereira, ex-ministro e ex-presidente do SIS, Pedro Bacelar de Vasconcelos, ex-coordenador nacional da Estratégia Europeia para a promoção da Vida Judaica e o combate ao anti-semitismo, Luís Andrade, presidente do Observatório Internacional dos Direitos Humanos.

A Iniciativa Mukhayriq toma o nome do rabino Mukhayriq ben al-Nadir, que, em pleno Shabat, lutou e deu a vida na defesa do profeta Maomé, numa batalha ocorrida no ano 625, recordou Luís Andrade, referindo que Maomé considerou o rabino como “o melhor dos judeus”.

Na iniciativa que celebra a fraternidade histórica entre muçulmanos e judeus, Pedro Bacelar de Vasconcelos sublinhou a importância das crenças religiosas na construção da paz. Reproduzimos a seguir a sua intervenção no encontro.

“Desde sempre, testemunhamos o uso das religiões como disfarce ou como tentativa de legitimar a apropriação violenta de bens materiais alheios ou a consumação de ambições de conquista e domínio. As cruzadas contra os mouros e os autos de fé do santo ofício exibem abundante ilustração da hipocrisia e da sordidez de tais exercícios manipulatórios.

As crenças religiosas cumpriram a missão histórica de tecer laços comunitários para além do horizonte estreito da tribo. Se é verdade que os laços de sangue são a fonte primária de solidariedade, foram as religiões que buscaram nas relações cósmicas os símbolos e rituais capazes de construir comunidades humanas de inédita dimensão, prometer-lhes segurança, proibir comportamentos destrutivos, construir, enfim, para além das relações de parentesco, os valores e princípios que irão reclamar uma tendencial universalidade.

Neste sentido, nada há de mais contrário às religiões do que o ódio religioso. Elas não foram inventadas para mutuamente se destruírem, mas apenas para proteger e confortar os seus crentes. É por isso exemplar esta iniciativa que congrega judeus e muçulmanos. Num Mundo em trágica convulsão, insensível á banalização diuturna do ódio e da brutalidade, são estes gestos que nos prometem alívio e esperança”.



Sem comentários:

Enviar um comentário