E o almejado dia da Procissão da Penitência chegou. Estava previsto a eventualidade de chover o que certamente não
iria permitir a saída dos 10 andores que compõem a referida Procissão uma vez que as imagens
são em roca. Também os vestidos sofreriam com a chuva, para além de todo o restante material devocional que compõe
esta procissão que se reveste de uma
enorme beleza e esplendor. A primeira procissão teve lugar no dia 27 de Março
de 1740. O melhor mesmo seria deixar nas mãos de Deus.
Enquanto me dirigia para a Real Basílica de Nossa Senhora e de
Santo António, meditava sobre uma homília que recentemente tinha sido proferida pelo
Cardeal Raymond
Burke, na qual abordava, segundo
o meu modesto entendimento e de um modo resumido, as situações mais sérias que a Igreja e o mundo enfrentam, as quais requerem, uma intervenção
de Deus no sentido de restaurar a ordem e a disciplina, recomendando que
purificássemos a
nossa relação com Deus e os nossos corações, através da
oração, não nos deixando influenciar pelo egoísmo, pelo materialismo e pelos interesses humanos.
Nesta época da Quaresma, recebemos poderosas graças.
Sentimo-nos impelidos a conhecer melhor Deus e a Sua Vontade… O sol brilhava augurando
bom tempo. Entrei na Real Basílica onde se ultimavam os últimos pormenores. Os andores já se encontravam cobertos de
flores. Os dois coros encontravam-se presentes. Os intervenientes na procissão
encontravam-se vestidos a rigor com fatos da época, sendo alguns deles os mesmos que saíram naquele
distante dia de Março de 1740. A banda aguardava serenamente.
E a Santa Missa
começou presidida pelo Ministro Provincial da Ordem Franciscana, Frei Armindo
Carvalho que referiu, entre outros: “Estamos caminhando enquanto peregrinos…Deus é festa.
Toda a vida é festa porque prolonga-se enquanto surpresa alegre.
Para além do além espera-nos uma novidade. O
coração de Deus que não se esgota, possuindo uma infinita misericórdia. Deus é sempre uma surpresa que nos encanta, que não se
consegue agarrar. Deus de ontem, de hoje e de amanhã. Nós como Jesus um dia ressuscitaremos. O sol continuava a brilhar entre os
vitrais. Surpresa das surpresas. Depois de dois anos sem sair, hoje
encontravam-se reunidas as condições necessárias para o fazer. Que emoção. O pároco, Pe. Luís, avisa que a
Procissão regressará à Real
Basílica onde
haverá a bênção final
com o Lignum Crucis (Santo Lenho).
Foi com enorme alegria que acompanhei a saída de todos os andores, sob
orientação do Juiz da Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra. Conforme previsto saiu
em primeiro lugar o Sol do Apocalipse, ladeado por dois anjos, seguido pelos 10
andores. Um levado pelos escuteiros, outro por mulheres e os restantes por
diferentes irmãos, o Pálio, as entidades participantes, a Banda da Escola de Música Juventude de Mafra, e
por fim os participantes. E a Procissão foi percorrendo o caminho traçado. Do
alto da escadaria, maravilhada com tanta beleza artística e religiosa que me era dado a observar,
brilhando em todo o seu real esplendor devocional, cultural e histórico, pensei: “Parece que o mundo te cai em cima. À tua volta não se vislumbra uma saída. É impossível desta vez superar as dificuldades. Mas voltaste a esquecer que Deus é Pai?: omnipotente,
infinitamente sábio, misericordioso. Ele não pode enviar-te nada de mau. Isso que te preocupa, convém-te, ainda que os teus olhos de carne estejam agora cegos. Omnia in bonum., que,
outra vez e sempre, se cumpra a Tua sapientíssima Vontade!
(S. Josemaria in Via Sacra).
E a Procissão regressou à Real Basílica. Tudo tinha corrido pelo melhor, graças ao
esforço, empenho e dedicação de todos, que são de
enaltecer. Como previsto, a finalizar, houve a bênção com o Santo Lenho.
Termino com uma frase bem conhecida de S.
Francisco de Assis: “Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado…
Resignação para aceitar o que não pode ser mudado… E sabedoria para distinguir
uma coisa da outra”.
Maria Helena Paes |
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