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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Natividade de Nossa Senhora

Fiquei algo impressionada, ao ver na televisão anunciarem um novo filme passado no Japão que abordava uma tradição antiga, em que os filhos deixavam no topo de uma montanha sagrada, cumprindo a lei de Narayama, os pais que completavam os 70 anos de idade. Aí ficavam sós, abandonados para morrerem nesse local. Fiquei impressionada, com alguma curiosidade, (ou talvez não, face ao estado de angústia em que me deixou), para ver esse filme denominado “A Balada de Narayama”, no sentido de perceber o contexto em que essa situação deplorável e desumana ocorria. O apresentador tinha referido que era devido a situações de pobreza extrema, escassez de alimentos, tradições culturais e tribais, no sentido de garantir o equilíbrio populacional e alimentar numa pequena aldeia ao norte do Japão no século XIX. Este facto trouxe-me igualmente ao pensamento, outras situações de injustiça culturais disseminadas pelo mundo fora. The honor killing, (Morte de Honra) em que as mulheres são enterradas até ao peito e apedrejadas até à morte. Assisti a uma apresentação em Viena, nas instalações das Nações Unidas, que ainda hoje se encontra bem presente na minha memória. O caso que tive a oportunidade de assistir, apresentado por uma professora universitária, aconteceu num país do Médio Oriente, mas segundo a oradora acontece ainda hoje em dia em vários pontos do globo. Neste caso, a vítima foi injustamente acusada de adultério, logo, condenada à morte por apedrejamento em praça pública. Por mais tentativas que fizesse para provar a sua inocência, não o conseguiu. Contudo, um jornalista teve conhecimento desta situação através de uma familiar da vítima, empenhado em demonstrar a sua inocência, e deu-a a conhecer ao mundo. Não conseguiu impedir a sua morte por apedrejamento, em que o marido e os filhos participaram, mas certamente, a sua morte terá contribuído para chamar a atenção mundial, no sentido de se prevenirem com o tempo situações semelhantes que, segundo dados fidedignos das Nações Unidas, ocorrem anualmente em número muito elevado. Existem já vários livros publicados sobre este tema.

Na Europa, encontra-se bem presente na nossa memória o Holocausto, ou seja, o assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus, grupos étnicos, políticos e sociais durante a II Guerra Mundial. Recordo igualmente com tristeza, uma visita que fiz a um Campo de Concentração na Polónia. E um pouco por todo o mundo, há situações graves de injustiça. Lembro a visita do Papa Francisco ao Campo de Concentração Nazi de Auschwitz, a atravessar o Portão da Entrada, que por cima tinha escrito “O Trabalho Liberta”. O Papa rezou no pátio onde eram chamados os condenados à morte. Deixou escrito no livro de visitas “Senhor tem piedade do Teu povo, Senhor perdão por tanta crueldade”.

Agora os tempos são outros, contudo ainda existem muitas situações extremamente graves latentes no meu pensamento, ou seja, a questão dos refugiados, os ataques terroristas que são uma constante, a guerra com todas as suas consequências, as medidas adotadas com as quais não concordo, o populismo, o desemprego, a exclusão social entre muitos outros, que contribuem para o meu estado de alma menos positivo. Torna-se necessário entregar nas mãos de Deus, o que não conseguimos resolver e lutar, dentro das nossas possibilidades, para as denunciar, ajudando a que se tomem medidas para as ultrapassar e solucionar, sabendo antecipadamente que irão surgir outras situações fruto dos erros do homem...

Concluo este artigo precisamente no dia da Natividade de Nossa Senhora. Através da Virgem Maria, nos veio o Sol da justiça, Jesus, Nosso Deus. Nenhum acontecimento extraordinário acompanhou o nascimento de Maria. Com frequência as coisas importantes para Deus passam despercebidas aos homens, que sempre procuram o extraordinário para enfrentarem a sua existência. A sua vida tão cheia de normalidade, guardando as coisas no seu coração, sabendo servir os outros sem alarde. A glória de servir não cessa de ser a exaltação real de Maria; assunta ao Céu, Ela não suspende aquele seu serviço salvífico, trono da graça e de misericórdia da nossa Mãe do Céu, intercessora na adversidade, luz nas trevas, alívio nas dores e penas. Todo o ser humano concebido é chamado a gozar de um destino eterno e feliz. Também nós, por outro lado, não fazemos uma ideia da eficácia da nossa passagem terrena, ainda que simples, se formos fiéis às graças recebidas, concretizarmos a nossa vocação, outorgada por Deus desde toda a eternidade em prol do bem-estar da humanidade. Maria, Estrela da manhã, que na aurora precede o aparecimento do sol, anuncia a chegada do nosso Salvador, o Sol da justiça do género humano, rogai por todos nós.

Maria Helena Paes



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