Fiquei algo impressionada, ao ver
na televisão anunciarem um novo filme passado no Japão que abordava uma
tradição antiga, em que os filhos deixavam no topo de uma montanha sagrada,
cumprindo a lei de Narayama, os pais
que completavam os 70 anos de idade. Aí ficavam sós, abandonados para morrerem
nesse local. Fiquei impressionada, com alguma curiosidade, (ou talvez não, face
ao estado de angústia em que me deixou), para ver esse filme denominado “A
Balada de Narayama”, no sentido de
perceber o contexto em que essa situação deplorável e desumana ocorria. O
apresentador tinha referido que era devido a situações de pobreza extrema,
escassez de alimentos, tradições culturais e tribais, no sentido de garantir o
equilíbrio populacional e alimentar numa pequena aldeia ao norte do Japão no
século XIX. Este facto trouxe-me igualmente ao pensamento, outras situações de
injustiça culturais disseminadas pelo mundo fora. The honor killing, (Morte de Honra) em que as mulheres são
enterradas até ao peito e apedrejadas até à morte. Assisti a uma apresentação
em Viena, nas instalações das Nações Unidas, que ainda hoje se encontra bem
presente na minha memória. O caso que tive a oportunidade de assistir,
apresentado por uma professora universitária, aconteceu num país do Médio
Oriente, mas segundo a oradora acontece ainda hoje em dia em vários pontos do
globo. Neste caso, a vítima foi injustamente acusada de adultério, logo,
condenada à morte por apedrejamento em praça pública. Por mais tentativas que
fizesse para provar a sua inocência, não o conseguiu. Contudo, um jornalista
teve conhecimento desta situação através de uma familiar da vítima, empenhado
em demonstrar a sua inocência, e deu-a a conhecer ao mundo. Não conseguiu
impedir a sua morte por apedrejamento, em que o marido e os filhos
participaram, mas certamente, a sua morte terá contribuído para chamar a
atenção mundial, no sentido de se prevenirem com o tempo situações semelhantes
que, segundo dados fidedignos das Nações Unidas, ocorrem anualmente em número
muito elevado. Existem já vários livros publicados sobre este tema.
Na Europa, encontra-se bem
presente na nossa memória o Holocausto, ou seja, o assassinato em massa de cerca
de seis milhões de judeus, grupos étnicos, políticos e sociais durante a II
Guerra Mundial. Recordo igualmente com tristeza, uma visita que fiz a um Campo
de Concentração na Polónia. E um pouco por todo o mundo, há situações graves de
injustiça. Lembro a visita do Papa Francisco ao Campo de Concentração Nazi de Auschwitz, a atravessar o Portão da
Entrada, que por cima tinha escrito “O Trabalho Liberta”. O Papa rezou no pátio
onde eram chamados os condenados à morte. Deixou escrito no livro de visitas
“Senhor tem piedade do Teu povo, Senhor perdão por tanta crueldade”.
Agora os tempos são outros,
contudo ainda existem muitas situações extremamente graves latentes no meu
pensamento, ou seja, a questão dos refugiados, os ataques terroristas que são
uma constante, a guerra com todas as suas consequências, as medidas adotadas
com as quais não concordo, o populismo, o desemprego, a exclusão social entre
muitos outros, que contribuem para o meu estado de alma menos positivo.
Torna-se necessário entregar nas mãos de Deus, o que não conseguimos resolver e
lutar, dentro das nossas possibilidades, para as denunciar, ajudando a que se
tomem medidas para as ultrapassar e solucionar, sabendo antecipadamente que
irão surgir outras situações fruto dos erros do homem...
Concluo este artigo precisamente
no dia da Natividade de Nossa Senhora. Através da Virgem Maria, nos veio o Sol
da justiça, Jesus, Nosso Deus. Nenhum acontecimento extraordinário acompanhou o
nascimento de Maria. Com frequência as coisas importantes para Deus passam
despercebidas aos homens, que sempre procuram o extraordinário para enfrentarem
a sua existência. A sua vida tão cheia de normalidade, guardando as coisas no
seu coração, sabendo servir os outros sem alarde. A glória de servir não cessa
de ser a exaltação real de Maria; assunta ao Céu, Ela não suspende aquele seu
serviço salvífico, trono da graça e de misericórdia da nossa Mãe do Céu,
intercessora na adversidade, luz nas trevas, alívio nas dores e penas. Todo o
ser humano concebido é chamado a gozar de um destino eterno e feliz. Também
nós, por outro lado, não fazemos uma ideia da eficácia da nossa passagem
terrena, ainda que simples, se formos fiéis às graças recebidas, concretizarmos
a nossa vocação, outorgada por Deus desde toda a eternidade em prol do
bem-estar da humanidade. Maria, Estrela da manhã, que na aurora precede o
aparecimento do sol, anuncia a chegada do nosso Salvador, o Sol da justiça do
género humano, rogai por todos nós.
Maria Helena Paes |
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